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Bonds da Atento afundam em meio a temor com crédito no Brasil

Mercado está cada vez mais cético em relação à capacidade da empresa de call center reforçar sua posição de caixa diante dos próximos pagamentos

Atento: os US$ 40 milhões em dívidas que acabou de emitir endereçam os passivos de curto prazo (divulgação/Site Exame)

Atento: os US$ 40 milhões em dívidas que acabou de emitir endereçam os passivos de curto prazo (divulgação/Site Exame)

Bloomberg
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Agência de notícias

Publicado em 27 de fevereiro de 2023 às 17h34.

Última atualização em 27 de fevereiro de 2023 às 17h34.

Os investidores têm evitado os títulos da Atento, depois que um pagamento atrasado de cupom pouco contribuiu para incutir a confiança de que a operadora de call center possa enfrentar a piora das condições de crédito no Brasil.

A empresa com sede em São Paulo disse na quinta-feira, 23, que pagou o cupom de um título de US$ 500 milhões com vencimento em 2026 e que emitiu US$ 40 milhões em novas notas. Enquanto o pagamento empurrou momentaneamente os títulos para cima, eles negociam abaixo de 30 centavos de dólar, entregando aos detentores da dívida os piores retornos na região neste mês.

O mercado está cada vez mais cético em relação à capacidade de a Atento reforçar sua posição de caixa diante dos próximos pagamentos e em meio a uma crise de crédito na maior economia da América Latina. Enquanto os títulos negociavam perto do valor de face há um ano, os preços atuais sugerem uma probabilidade de default de cerca de 25% no próximo ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Os bonds da Atento são “um título difícil de carregar em tempos de distress”, disse Eduardo Ordonez Bueso, gestor da BI Asset Management em Copenhagen, que administra cerca de US$ 2 bilhões em títulos corporativos de mercados emergentes. “Melhor vender primeiro e perguntar depois.”

A Atento é uma das quase 12 empresas brasileiras cuja dívida negocia em níveis distressed - com yields de pelo menos 10 pontos percentuais acima dos títulos do Tesouro. A pilha de dívidas corporativas distressed no país aumentou quase 24% neste ano, para US$ 11,9 bilhões, segundo dados compilados pela "Bloomberg".

A situação se agravou com o default repentino da centenária varejista Americanas, que revelou um rombo contábil no mês passado. Uma série de rebaixamentos de classificação de crédito atingiu outras empresas, incluindo a operadora de telecomunicações Oi e companhias aéreas Azul e Gol. Um punhado de empresas contratou assessores financeiros, assustando ainda mais os investidores que se preocupam com os anúncios de reestruturação que virão em meio a altas taxas de juros.

A Moody’s rebaixou a Atento ainda mais para território junk, citando suas despesas e a expectativa de que o Banco Central mantenha o juro elevado. A Atento assinou contratos de derivativos atrelados às taxas de CDI no Brasil durante a pandemia, momento em que as taxas pairavam perto de mínimas recordes de 2%. Desde então, os formuladores de políticas aumentaram a taxa básica de juros para 13,75%.

Os títulos da empresa despencaram no início de fevereiro, após relatos de que havia contratado o banco de investimentos Houlihan Lokey Inc. para levantar dívida. Suas ações, que são negociadas em Nova York, caíram 33% no acumulado do ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A Atento, que refinanciou dívidas há dois anos, disse que os US$ 40 milhões em dívidas que acabou de emitir endereçam os passivos de curto prazo, incluindo o pagamento de cupons e derivativos com bancos. As novas notas vencem em 2025 e são garantidas por recebíveis de algumas de suas subsidiárias, de acordo com um documento apresentado à Securities and Exchange Commission.

Nos próximos seis meses, a empresa poderia oferecer a troca de notas de 2026 pelas novas notas, de acordo com o documento. A Atento não comentou os detalhes de como a troca funcionaria.

O novo financiamento não parece suficiente para atender totalmente às preocupações de liquidez, de acordo com Filipe Botelho, analista de crédito da Lucror Analytics. Cerca de US$ 40 milhões a mais vencem em agosto, incluindo outro pagamento de cupom, e a Atento enfrenta US$ 89 milhões de outros vencimentos de curto prazo que possuía a partir do terceiro trimestre, de acordo com a Fitch Ratings.

A Atento foi criada em 2012 depois que a Bain Capital LP adquiriu a divisão de call center da operadora de telefonia espanhola Telefônica. A empresa de investimentos posteriormente vendeu suas participações a um grupo de credores, incluindo HPS, GIC de Cingapura e um fundo afiliado à Farallon Capital Management LLC.

A empresa opera cerca de 100 locais em 14 países, fornecendo atendimento ao cliente, cobrança de dívidas e serviços de vendas para multinacionais, de acordo com seu website. A companhia reportou um lucro líquido ajustado de US$ 1,5 milhão no terceiro trimestre, que os analistas estimam ter aumentado para US$ 5,7 milhões no quarto trimestre. A expectativa é que a empresa divulgue seus resultados em 31 de março.

“A liquidez ainda está sob pressão e dependerá da melhoria das operações para se estabilizar”, disse Omar Zeolla, analista da Oppenheimer & Co. “Os detentores de títulos podem estar se preparando para uma reestruturação”.

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