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5 fatores que explicam como o Ibovespa chegou aos 130 mil pontos

Bolsa brasileira reverteu uma queda no ano de 3,2% no início de abril para uma alta de 9,3% na última sexta; fatores domésticos e externos ajudam a explicar o forte rali

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Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)

Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 5 de junho de 2021 às, 08h45.

Há pouco mais de dois meses, as perspectivas não eram favoráveis para o Ibovespa. Com a segunda onda da pandemia impondo a necessidade de novas medidas de restrição à circulação nas maiores cidades e um impasse no Orçamento que evidenciava o grave quadro fiscal do país, o principal índice da bolsa brasileira estava negativo em 3,2% no ano e custava a deslanchar, descolando-se dos recordes sucessivos com ações em Nova York.

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É um cenário que parece distante quando se olha a fotografia atual. O Ibovespa emendou uma sequência rara de sete pregões consecutivos de ganhos, dos quais nos últimos cinco com recordes de fechamento.

O índice passou dos 122.987,71 pontos no último dia 25 de maio para 130.125,78 pontos nesta sexta-feira, 4 de junho. No acumulado do ano, a alta já chega a 9,3%. Desde o início de abril, o índice subiu 12,9%.

Mas, afinal, o que explica tamanho rali da bolsa brasileira? A EXAME Invest ouviu analistas e resume abaixo em 5 pontos o que eles disseram sobre a alta recente do Ibovespa.

1. Economia mais forte: 

Uma série de indicadores nas últimas semanas mostrou que a economia brasileira sofreu menos com a segunda onda da pandemia do que se estimava, em parte porque empresas encontraram um meio de produzir e vender mais mesmo com as restrições à circulação de pessoas. Antes disso, já vinha em ritmo acelerado: o resultado do PIB do primeiro trimestre, divulgado na última terça, dia 1º de junho, veio acima das expectativas, com alta de 1,2% em relação aos três meses finais do ano passado.

Os números desencadearam uma onda de revisão das projeções para o crescimento da economia em 2021, um processo que já estava em curso na semana anterior. Um avanço estimado em 5% passou a se tornar mais frequente, e isso vai se refletir no crescimento dos negócios, em especial de empresas grandes e médias que estão na bolsa.

“Praticamente todos os indicadores estão melhorando. Estamos em um cenário muito melhor do que se imaginava alguns meses atrás”, resumiu Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME) e ex-secretário do Tesouro Nacional, à Bloomberg nesta semana.

A economia fortalecida, por sua vez, melhora os índices de solvência fiscal do país. Os números da arrecadação federal em abril e os dados fiscais do setor público no mesmo mês indicaram que a relação dívida/PIB deve encerrar o ano em torno de 85%, distanciando-se do cenário próximo a 100% que chegou a ser vislumbrado alguns meses atrás. Houve a contribuição de fatores atípicos como ganhos expressivos com contratos de swap cambial.

2. Resultados corporativos:

A safra de balanços do primeiro trimestre do ano, divulgados no fim de abril e ao longo de maio, superou com folga as projeções de mercado. As receitas líquidas somadas de um grupo com 268 empresas de capital aberto -- excluídas Vale (VALE3), Petrobras (PETR3, PETR4) e Suzano (SUZB3) para não distorcer a amostra -- subiram 22,3% em relação ao mesmo período de 2020, o equivalente a mais de 100 bilhões de reais, segundo cálculos da plataforma de informações financeiras Economatica. O crescimento do lucro líquido desse grupo foi de 246% na mesma base de comparação.

A melhora da economia doméstica também tem um efeito multiplicador sobre a bolsa, uma vez que favorece os negócios de um número mais amplo de empresas dependentes da atividade local: bancos, redes de varejo, administradoras de shoppings e companhias aéreas estão entre as que estão subindo mais há um mês.

3. Melhora do cenário externo

Sim, a inflação nos Estados Unidos e em países da Europa ficou mais acentuada em abril e maio, o que em tese deveria ampliar os temores de antecipação da retirada de estímulos monetários e fiscais nessas economias. Mas, ao mesmo, indicadores de atividade -- em especial do mercado de trabalho americano -- mostram que a retomada não é tão abrangente e homogênea como se previa. Um reflexo é que os juros dos títulos de 10 anos dos Estados Unidos se estabilizaram nas últimas semanas na casa de 1,60% ao ano. E o quadro favorece emergentes como o Brasil.

Os principais índices de ações dos Estados Unidos e da Europa se beneficiam também desse quadro e registraram recordes históricos nos últimos dias, sinalizando que a renda variável continua a ter a preferência do investidor em um cenário de ampla liquidez global com juros baixos -- que deve se sustentar por mais algum tempo.

4. Volta do investidor estrangeiro

O saldo do investimento estrangeiro na bolsa brasileira voltou a subir a partir de abril, quando se aproximou dos 10 bilhões de reais, e atingiu 33 bilhões de reais neste início do mês de junho. É um volume expressivo que ajudou a sustentar a valorização das ações, na contramão do investidor pessoa física no período. Uma das razões é a volta do apetite ao risco da parte do investidor estrangeiro diante da estabilização dos juros longos nos Estados Unidos.

5. Avanços em Brasília

Objeto de ampla preocupação em abril, o Orçamento deste ano foi aprovado com atraso pelo Congresso no fim daquele mês com uma solução que não foi considerada a ideal por economistas -- porque abriu a porta para mais gastos relacionados à pandemia --, mas que ao menos reduziu o fator imprevisibilidade do radar no curto prazo.

Depois disso, os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, começaram a dar andamento à tramitação de alguns projetos importantes, como a medida provisória que pode abrir caminho para a venda do controle da Eletrobras (ELET3, ELET6) e a reforma tributária. Ainda não houve projeto ou medida aprovados em definitivo, mas as discussões e algumas votações parciais serviram para devolver alguma confiança aos investidores.

Resume Bruno Lima, head de renda variável da EXAME Invest: "Os últimos fatores que levaram à alta da bolsa foram muito mais macro, envolvendo fatores da economia brasileira, como arrecadação federal, endividamento público e a percepção geral do mercado", explicou na live Abertura de Mercado desta sexta-feira, 4 de junho.

Mas e agora, o que esperar da bolsa brasileira?

As expectativas são positivas ao menos no médio prazo, ainda que o quadro fiscal inspire cuidados e que a ameaça de retirada de estímulos nos Estados Unidos permaneça no radar dos investidores. Mas alguns bancos e corretoras voltaram a revisar para cima as projeções para o Ibovespa e para baixo as estimativas para o dólar no fim do ano.

Mansueto, no entanto, adverte que o governo e o Congresso não devem tratar o quadro atual como definitivo.

“O Brasil ganhou uma janela de oportunidade, mas não podemos achar que essa melhora é um cheque em branco para gastar”, afirmou o ex-secretário do Tesouro à Bloomberg. “O que estamos vendo agora é uma recuperação cíclica, mas, para ela se transformar em crescimento sustentável, é preciso ter reformas”, completou o economista.

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