
A McKinsey calcula que as provisões globais para perdas com empréstimos irão aumentar para cerca de 1,9% do total (Jason Lee/Reuters)
(Bloomberg) Bancos globais podem perder 3,7 trilhões de dólares em receita nos próximos quatro anos sob o impacto de taxas de juros baixíssimas e crescimento econômico fraco, que dificultam a recuperação do setor do impacto da pandemia, disse a consultoria McKinsey em relatório.
As instituições serão afetadas por perdas com empréstimos de “magnitude não vista em décadas” durante a maior parte do próximo ano, de acordo com o relatório. Embora a esmagadora maioria dos bancos sobreviva, as instituições enfrentarão um “profundo desafio para as operações em andamento” por pelo menos quatro anos. No cenário mais provável, a McKinsey projeta queda de cerca de 14% das receitas do setor até 2024 em relação à trajetória pré-crise.
“É uma receita que acabou para sempre, que não será usada para inovação, para investimento”, disse Matthieu Lemerle, sócio sênior da consultoria, em Londres. “É realmente algo perdido e não vai voltar”, afirmou em entrevista.
A pandemia também limita o crescimento econômico. Com isso, consumidores devem pedir menos empréstimos, de acordo com Marie-Claude Nadeau, sócia da McKinsey em São Francisco. Esse fator é somado aos bilhões de dólares que devem ser perdidos devido à inadimplência no próximo ano.
A McKinsey calcula que as provisões globais para perdas com empréstimos irão aumentar para cerca de 1,9% do total - acima dos cerca de 1,4% de 2009, quando as perdas atingiram o pico após a crise financeira.
“O período de taxas de juros de zero porcento está sendo prolongado pela crise econômica e irá reduzir as margens de juros líquidas”, disse Nadeau em entrevista. “A troca entre reconstruir capital e pagar dividendos será gritante.”
O setor gerou US$ 5,5 trilhões em receitas em 2019, sendo que os segmentos de varejo e corporativo responderam por dois terços do total. A McKinsey prevê que esses segmentos vão crescer na mesma taxa do PIB regional.
Para manterem a rentabilidade, os bancos terão que se reposicionar de maneiras não previstas há nove meses, de acordo com o relatório, à medida que a pandemia acelera tendências que já começavam a ameaçar o setor. Entre elas estão a desglobalização, a ascensão das fintechs e maior urgência de sustentabilidade social e ambiental.
“Para se recuperar desse longo inverno, os bancos terão que se adaptar a essas tendências muito mais rápido do que pensavam”, disse Nadeau, que destacou mudanças na tomada decisões, maior foco no cliente e adoção mais rápida de ferramentas digitais.