Redação Exame
Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 07h09.
'Mosquitos anti-dengue': Luciano Moreira e sua equipe pretendem produzir 5 bilhões dos insetos modificados (Fiocruz/Reprodução)
O entomologista e engenheiro agrônomo Luciano Moreira foi incluído na segunda-feira, 8, na lista "Nature’s 10" — que destaca os cientistas mais influentes do mundo em 2025. A revista científica reconheceu sua liderança em um projeto inovador de controle de arboviroses no Brasil.
Desde os anos 1990, Moreira desenvolve métodos alternativos para o combate ao Aedes aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya. Um dos principais resultados desse trabalho é a criação de mosquitos infectados pela bactéria Wolbachia, capazes de reduzir drasticamente a transmissão dos vírus.
O reconhecimento internacional da revista Nature destaca não apenas o avanço científico, mas a capacidade de Moreira em transformar inovação em política pública. O método com mosquitos Wolbachia, antes restrito a testes laboratoriais, passou a ser adotado por diversas cidades brasileiras e foi incorporado à estratégia nacional de saúde pública.
A partir de 2008, Moreira integrou o grupo do cientista australiano Scott O’Neill, responsável pela primeira infecção de Aedes aegypti com Wolbachia. No Brasil, ele liderou os testes pela Fiocruz, adaptando a técnica às condições locais. A fase inicial envolvia produção manual em laboratórios. Atualmente, o processo é industrializado.
Moreira é hoje CEO da Wolbito do Brasil, empresa que opera uma fábrica em Curitiba com capacidade para produzir até 5 bilhões de mosquitos por ano. A unidade foi inaugurada em julho e já abastece estados como Santa Catarina.
Segundo a Nature, a cidade de Niterói, uma das primeiras a adotar a tecnologia, teve queda de 89% nos casos de dengue. Em 2024, foram registrados apenas 46 casos prováveis, contra mais de 20 mil no município vizinho, o Rio de Janeiro.
A Wolbachia não infecta humanos nem se espalha no meio ambiente. A bactéria está presente naturalmente em cerca de 60% dos insetos do planeta. No mosquito, impede a reprodução ou bloqueia a transmissão dos vírus, dependendo do sexo do inseto infectado.
O pesquisador defende que a soltura dos mosquitos não substitui outras medidas de controle, mas deve compor um modelo integrado com eliminação de criadouros, vigilância entomológica e uso racional de inseticidas. Ele também aponta o papel complementar da vacina contra a dengue, introduzida no SUS em 2023.
Atualmente, o método está em avaliação por meio de um ensaio clínico randomizado em Belo Horizonte, com participação da UFMG e universidades dos EUA, além de financiamento do NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos).
Para Luciano Moreira, o destaque na Nature reforça a importância da ciência nacional. Hoje, a equipe da Wolbito tem 75 profissionais e atua com uma rede que envolve Fiocruz, IBMP e o World Mosquito Program. A meta é ampliar a cobertura e consolidar o Brasil como referência global no combate às arboviroses.