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FMI alerta que sanções contra a Rússia podem acabar com o domínio do dólar

Para o FMI, as medidas abrangentes impostas pelos países ocidentais após a invasão da Rússia, incluindo restrições ao seu banco central, podem incentivar o surgimento de pequenos blocos monetários.

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 (James Lawler Duggan/Reuters)

(James Lawler Duggan/Reuters)

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Carlo Cauti

Publicado em 31 de março de 2022, 09h39.

Última atualização em 20 de abril de 2022, 08h50.

A Guerra na Ucrânia pode causar mais 'fragmentação' no sistema financeiro global e acabar com o domínio internacional do dólar.

O alerta veio de Gita Gopinath, vice-diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Segundo ela, outras moedas além do dólar americano podem começar a representar uma parcela maior das reservas externas dos países

As medidas abrangentes impostas pelos países ocidentais após a invasão da Rússia, incluindo restrições ao seu banco central, podem incentivar o surgimento de pequenos blocos monetários baseados no comércio entre grupos separados de países.

Dólar já está perdendo espaço no comércio mundial

Gopinath lembrou como já hoje alguns países estão mudando a moeda que utilizam em seu comércio internacional.

A Rússia busca há anos reduzir sua dependência do dólar, uma campanha que se acelerou depois que os EUA impuseram sanções em retaliação à anexação da Crimeia em 2014.

Apesar desses esforços, a Rússia ainda tinha cerca de um quinto de suas reservas estrangeiras em ativos denominados em dólares pouco antes da invasão, com uma parcela notável no exterior na Alemanha, França, Reino Unido e Japão.

Esses países agora se uniram para isolar Moscou do sistema financeiro global.

Gopinath disse que o maior uso de outras moedas no comércio global levaria a uma maior diversificação dos ativos de reserva mantidos pelos bancos centrais nacionais.

“Os países tendem a acumular reservas nas moedas com as quais negociam com o resto do mundo e nas quais tomam emprestado do resto do mundo, então você pode ver algumas tendências lentas em direção a outras moedas desempenhando um papel maior [em ativos de reserva]”, disse Gopinath.

Domínio do dólar baseado em instituições sólidas

Segundo a vice-presidente do FMI, o domínio do dólar é baseado no apoio de instituições fortes e altamente confiáveis, mercados profundos e o fato de ser livremente conversível.

Um conjunto de fatores que dificilmente será desafiado no médio prazo.

Entretanto, nas últimas duas décadas, a participação do dólar nas reservas internacionais caiu de 70% para 60%, com o surgimento de outras moedas de reserva, lideradas pelo dólar australiano.

Cerca de um quarto da redução na participação do dólar como reserva internacional pode ser explicado pelo maior uso do yuan renminbi chinês.

Entretanto, segundo os dados do próprio FMI, menos de 3% das reservas globais dos bancos centrais são denominadas na moeda de Pequim.

Para Gopinath, Pequim estava em processo de internacionalização do yuan renminbi antes da crise atual e já estava à frente de outras nações na adoção de uma moeda digital do banco central.

Mas ela acrescentou que é improvável que o yuan substitua o dólar como moeda de reserva dominante.

“Isso exigiria total conversibilidade da moeda, mercados de capitais abertos e instituições que possam apoiá-los. Esse é o processo lento que leva tempo, e o domínio do dólar permanecerá por um tempo”, explicou a economista.

Segundo a vice-presidente do Fundo Monetário Internacional, a guerra também estimularia a adoção de finanças digitais, de criptomoedas a stablecoins e moedas digitais do banco central.

“Tudo isso receberá ainda mais atenção após os episódios recentes, o que nos leva à questão da regulamentação internacional”, disse Gopinath, “Existe uma lacuna a ser preenchida.”