Mineradores de Bitcoin serão desligados da rede em caso de crise energética, diz União Europeia
A Comissão Europeia pediu aos Estados-Membros que implementem medidas adequadas para reduzir o consumo dos mineradores de criptoativos em caso de piora da crise energética
Carlo Cauti
Publicado em 18 de outubro de 2022 às 15h25.
Última atualização em 18 de outubro de 2022 às 15h25.
A União Europeia (UE) informou nesta terça-feira, 18, que será possível desligar a energia dos mineradores de Bitcoin e de outras criptomoedas caso a crise energética piore.
A informação foi divulgada pela Comissão Europeia aos Estados-membros, que foram convidados a "implementar medidas apropriadas para diminuir o consumo dos mineradores” caso o desabastecimento energético continue, após a Rússia cortar o fornecimento de gás para o continente.
“Caso haja necessidade de redução de carga nos sistemas elétricos, os estados membros da UE também devem estar prontos para interromper a mineração de ativos criptográficos”, aparece no documento que a Comissão Europeia publicou nesta terça.
A redução de carga ocorre quando as empresas de energia deliberadamente desligam o fornecimento de um determinado conjunto de usuários para evitar a queda de toda a rede.
Com isso, as redes elétricas de cada país vai reduzir, senão diminuir, a oferta de KiloWatts para quem estiver validando transações em blockchains que exploram a chamada “prova de trabalho” (“proof of work”).
“Nos próximos meses e anos, a Comissão pretende tomar várias medidas para impulsionar os serviços de energia digital, garantindo um setor de TIC (tecnologias de informação e comunicação) com eficiência energética, incluindo … um rótulo de eficiência energética para blockchains”, salientou a Comissão.
Segundo o órgão executivo da União Europeia, "o consumo de energia por parte de mineradores de criptomoedas aumentou 900% em cinco anos, atingindo cerca de 0,4% do uso mundial de eletricidade.
A Comissão Europeia prometeu outro relatório sobre o assunto até 2025 que poderia recomendar medidas adicionais para reduzir o uso de energia da criptomoeda. A Europa representa 10% da mineração global de prova de trabalho.
O que muda para os mineradores de Bitcoin e de outras criptomoedas
A decisão da Comissão Europeia muda drasticamente o mundo dos criptoativos. Antes de tudo, é útil lembrar o que são algoritmos de consenso. Em geral, para a validação das transações (e, portanto, a inserção de novos dados na blockchain), é necessário que os participantes cheguem a um consenso sobre a mesma transação.
E é nesse momento que os mecanismos chamados algoritmos de consenso entram em ação. Entre as mais utilizadas no mundo dos criptoativos estão a “ prova de trabalho ” (proof-of-work) ou a “ prova de participação ” (proof-of-stake).
O primeiro é o usado pelo Bitcoin e, até recentemente, pelo próprio Ethereum. Neste caso o mecanismo baseia-se na criação de uma competição, cujos participantes são os “mineradores”. Estes tem como objetivo resolver um enigma criptográfico que, com o tempo, se torna cada vez mais difícil. Em outras palavras, os "mineradores" fornecem hardware e potência computacional crescente. O objetivo, por um lado, é justamente encontrar por primeiros a solução do enigma; e por outro lado, na sequência da validação, ser remunerado com Bitcoins.
O sistema da "prova de participação" (agora utilizada pelo Ethereum) é totalmente diferente. Neste caso, a validação é realizada pelos chamados "validadores", através de assuntos que são escolhidos antecipadamente, e de forma aleatória, com base na quantidade de criptomoedas em sua posse (chamada stake). A possibilidade de ser o sujeito que realiza a validação é de fato proporcional à soma de criptomoedas oferecida como garantia, para poder ser identificado precisamente como validadores.
E é justamente nesse aspecto que a possibilidade de cortar a energia decidida pela União Europeia se torna relevante, pois uma das principais diferenças entre as duas provas é exatamente o consumo de energia.
Diferença entre prova de trabalho e prova de participação
Na "prova de trabalho" a necessidade de atingir um poder computacional muito elevado induz os "mineradores" a trabalharem em conjunto e a utilizarem enormes quantidades de KiloWatts. E foi exatamente essa situação que deu origem e dá origem à conhecida controvérsia sobre a sustentabilidade ecológica do Bitcoin.
Por outro lado, no caso da "prova de participação", o problema da energia não existe, especialmente no caso do Ethereum, pois após a atualização do The Merge, a rede não depende mais de computadores para validar e executar as transações.
Por isso, uma eventual ação da União Europeia para cortar a energia dos mineradores tornaria complicada o funcionamento do Bitcoin, a maior criptomoeda criada até o momento. O tempo vai dizes como a situação vai se evolver.