Afinal, criptomoedas são seguras? A nova tendência entre criminosos, segundo a Chainalysis
Endereços ilícitos receberam mais de R$ 72 bilhões neste ano, com protocolos DeFi se tornando principal alvo de ataques hackers; número de golpes com criptomoedas cai
Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2022 às 10h00.
Por Brianna Kernan
Em 2022 assistimos ao mercado de criptomoedas sofrer duras quedas nos preços de seus ativos. Tido como principal termômetro para os movimentos do setor, o bitcoin caiu abaixo dos US$20 mil pela primeira vez desde 2020. Esta queda levou investidores - muitos dos quais encaravam seu primeiro bear market -, a liquidarem seus fundos para evitar grandes perdas, aumentando a oferta de ativos digitais no mercado e, por conseguinte, derrubando os preços como um todo. Mas como os criminosos lidaram com este inverno? Qual o efeito dessa baixa nas ações ilícitas?
Em primeiro lugar, é necessário destacar que o uso legítimo das criptomoedas nunca foi tão grande e supera, em muito, a atividade ilícita. Dado o crescimento de 567% no uso desses ativos entre 2020 e 2021, segundo dados da Chainalysis, não é surpresa que mais cibercriminosos estejam de olho neste mercado.
Além disso, é importante salientar que o setor de criptomoedas manteve relativa resiliência, apesar das quedas nos preços. Isso demonstra uma maior maturidade do mercado, com o volume de transações e a quantidade de investidores mantendo certo ritmo de crescimento. De acordo com a Chainalysis, o bear market está intimamente relacionado ao cenário de baixa do setor de tecnologia como um todo. Novas condições macroeconômicas, aliadas às taxas de juros crescentes e a um ambiente regulatório desafiador, impuseram o inverno que o mercado vive hoje.
Não há como afirmar que o pior momento para o setor já foi superado, mas podemos estabelecer algumas análises sobre a segurança do mercado neste período. De acordo com o levantamento ‘ Mid-year Crypto Crime Update ’, elaborado pela Chainalysis com dados consolidados entre janeiro e julho deste ano, o volume de criptomoedas movimentadas ilicitamente caiu 15% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Apesar da baixa, ao investigarmos intimamente os dados, percebemos uma movimentação curiosa: enquanto a receita de golpes com criptomoedas em 2022 foi de US$ 1,6 bilhão, 65% menor do que era até o final de julho de 2021, o total arrecadado por serviços de hacks foi de US$ 1,9 bilhão, o que representa alta de mais de 50% ante os US$ 1,2 bilhão de 2021.
Cabe apontar que os hacks são violações diretas dos servidores de um sistema ou de uma empresa, enquanto os golpes envolvem a exploração de vítimas que são coagidas a voluntariamente fornecer informações confidenciais - como login e senhas de bancos ou corretoras.
Segundo a investigação da Chainalysis, a queda no número de golpes estaria relacionada à baixa nos preços das criptomoedas. Cada vez menos pessoas estão caindo em golpes, e isso pode ser atribuído ao menor interesse das vítimas em oportunidades de investimentos que prometem rendimentos irreais. Além disso, usuários novos e inexperientes, que são mais propensos a cair nesses golpes, estão em menor número agora que os preços estão em baixa.
Por outro lado, o crescimento dos hacks pode ser atribuído ao aumento massivo nos fundos roubados de protocolos DeFi (Finanças Descentralizadas, na sigla em inglês). Essas plataformas são exclusivamente vulneráveis a hackers que examinam o código-fonte aberto em busca de falhas ou brechas de segurança. Apesar disso, os códigos abertos são fundamentais por permitirem a auditoria, o que reforçaria a segurança das transações.
Essa vulnerabilidade fez com que o Federal Bureau of Investigation (FBI) dos Estados Unidos alertasse investidores sobre a segurança dos serviços de finanças descentralizadas. Segundo o comunicado, o FBI solicitou às plataformas DeFi que implementassem análises em tempo real e fizessem testes no código para identificar possíveis vulnerabilidades.
Não devemos observar uma diminuição no número de ataques hackers tão cedo. Desde que as criptomoedas mantidas em protocolo DeFi tenham valor e sejam vulneráveis, hackers tentarão roubá-las.
Ferramentas que localizam violações de cibersegurança e ataques de ransomware são bons aliados do setor no combate às práticas criminosas. Por meio desses instrumentos é possível rastrear e recuperar as criptomoedas roubadas. Além disso, é fundamental que os consumidores sejam informados sobre quais são os projetos seguros para seus investimentos.
Por fim, é importante ressaltar que a regulamentação é uma das principais formas de proteger as empresas e os investidores de criptomoedas. Por meio de uma legislação clara e objetiva, é possível reforçar a segurança e estimular a inovação e a expansão do setor.
No Brasil, um projeto de regulamentação do mercado de criptomoedas tramita no Congresso Nacional. O texto foi aprovado em abril pelo Senado Federal e aguarda a avaliação na Câmara dos Deputados. No último mês, a Câmara Brasileira da Economia Digital se posicionou em defesa da aprovação do projeto, destacando a melhora na segurança jurídica e no processo de desenvolvimento do setor.
A indústria de criptomoedas deve aproveitar o período de inverno para inovar e implementar novas ferramentas de segurança. O atual cenário é um desafio para o setor provar o seu valor prático e ganhar a confiança dos consumidores, garantindo o desenvolvimento da criptoeconomia.
*Brianna Kernan é líder de Vendas da Chainalysis para a América Latina.
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