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Pequeno investidor vira coqueluche da B3 em meio à pandemia de coronavírus

Gilson Finkelsztain, presidente da B3, e Florian Bartunek, sócio-fundador da Constellation, falaram sobre a importância da pessoa física no mercado de ações

B3: o número de CPFs cadastrados aumentou mais de 10% em março, para 2,25 milhões (Germano Lüders/Exame)
B3: o número de CPFs cadastrados aumentou mais de 10% em março, para 2,25 milhões (Germano Lüders/Exame)
GV

Graziella Valenti

24 de abril de 2020 às 07:37

A atuação da pessoa física no mercado de ações durante a crise da pandemia está chamando tanta atenção que fez Gilson Finkelsztain, presidente da B3, e Florian Bartunek, sócio-fundador da renomada gestora Constellation, darem uma pausa em suas funções para uma transmissão ao vivo com foco nesse público, no fim da tarde de ontem.

Ambos trataram do ambiente da crise em tópicos totalmente dedicados ao investidor individual. Não foi um evento para iniciados e profissionais. Só para iniciantes.

Desde os tempos de Raymundo Magliano Filho, ex-presidente da Bovespa no início dos anos 2.000, responsável pelo “Bovespa vai à praia”, não se via tanta dedicação ao pequeno aplicador.

Pudera. Só em março, o mês que segundo Finkelsztain registrou os três piores pregões da história da bolsa brasileira, o número de CPFs cadastrados aumentou mais de 10%, para 2,25 milhões.

Todo esse agito está fazendo até banco de investimento e companhias pensarem em IPO (a sigla famosa para ofertas públicas iniciais) porque esse público “está forte” no mercado, como é o caso da Estapar, gestora de estacionamentos que divulgou na quarta-feira o prosseguimento de seu processo de ida à bolsa. Tem corretora inaugurando home broker e casas graúdas tirando o inglês do vocabulário para falar português. “Já estou vendo as sondagens sobre IPOs voltarem”, contou o gestor da Constellation.

“O investidor brasileiro está se educando e começa a entender que a bolsa não é um buraco negro”, disse Bartunek. A pessoa física carregou o mercado nas costas no pior da crise. Comprou mais de 17 bilhões de reais em ações – saldo líquido entre aquisições e vendas – no mês passado. Absorveu a maior parte do volume vendido pelos estrangeiros, que retiraram 24,2 bilhões de reais nesse período.

O saldo comprador da pessoa física do mês passado foi o dobro da captação líquida dos fundos de ações, que ficou em 8,5 bilhões. E, mesmo depois desse apetite com o efeito liquidação, abril segue forte: foram 3,9 bilhões de reais de compras líquidas no mês, até dia 20.

Finkelsztain abriu a transmissão de ontem com as lições básicas como “não colocar todos os ovos na mesma cesta”, “rentabilidade passada não garante futuro” e “também é importante para consistência do fundo, a volatilidade da carteira”.

Em meio a esses recados clássicos, abordaram temas que foram alvo de rumores no auge da instabilidade dos preços.

Bartunek destacou que manter o mercado aberto e funcionando é melhor para o investidor do que fechar, mesmo com quedas fortes. “É importante manter a liquidez para o investidor”, afirmou. Ele explicou que parar a B3 geraria grandes distorções de preços, pois muitas companhias brasileiras também têm ADRs – certificados de ações – sendo negociados na Bolsa de Nova York (Nyse).

Já Finkelsztain lembrou que o mercado brasileiro é muito mais protegido para operações vendidas do que os outros – que suspenderam essas operações. A mesma cartilha foi ensinada na crise de 2008: as posições vendidas aqui são limitadas e não passam de 20% do capital em circulação das empresas. “Nenhuma ação bateu o limite nesse período. O teto que vimos foi 18%”, disse o presidente da B3.

 

O ânimo é tanto que o executivo lembrou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a respeito da revisão do entendimento emitido de que BDRs só podem ser adquiridos por investidores qualificados. BDRs são o contrário dos ADRs: certificados de ações de empresas internacionais negociados aqui. “Achamos que diversificação é importante e esperamos que a CVM dê sua posição final até junho.”

O gestor da Constellation transmitiu uma mensagem otimista, de forma geral. Ele destacou que no Brasil apenas as grandes companhias acessam o mercado de capitais. E, no atual ambiente de crise, elas têm não apenas maior chance de passar melhor pela situação como até de saírem mais fortes, já que competidoras menores poderão ficar pelo caminho.

O índice Ibovespa caiu 33% no ano, mas já subiu 20% desde o vale do dia 23 de março, quando chegou aos 63 mil pontos.

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