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O que a Infracommerce espera após abertura de negociação dos papéis para pessoa física

Empresa espera conquistar novos investidores para continuar crescendo

Infracommerce: após IPO em 2021, ações já acumulam queda de 64% (Infracommerce/Divulgação)
Infracommerce: após IPO em 2021, ações já acumulam queda de 64% (Infracommerce/Divulgação)
KS

Karina Souza

7 de novembro de 2022 às 09:48

A partir desta segunda-feira, 7, as ações da Infracommerce (IFCM3) passam a estar disponíveis para compra por pessoas físicas — um movimento que, na prática, reflete a conclusão de uma etapa regulatória após a abertura de capital na bolsa. Em detalhes: por ter sido realizado o IPO dentro da instrução nº 476 da CVM — que, geralmente, tem um processo ligeiramente menos burocrático do que o realizado via instrução nº 400 — a Infracommerce só poderia abrir a venda dos papéis para a pessoa física depois de 18 meses de estrear na B3. O que acontece hoje. Com esse novo passo, a empresa espera alimentar um ciclo virtuoso: tornar mais fácil ao público o entendimento do que a empresa faz, aumentar a liquidez e, consequentemente, tornar a empresa mais atrativa para investidores institucionais. Tudo a seu devido tempo, é claro. 

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Hoje, os principais acionistas da companhia são o fundo estrangeiro Engadin Investments (que conta com aporte da Cadonau Investimentos, family office dos Jereissati), com 10,4% do negócio, seguidos pela gestora Compass (10,3%), pela Flybridge Capital (9,8%) e pela empresa japonesa Transcomos (8,4%). Ainda são acionistas a IGVentures (6,5%) e o CEO da empresa, Kai Philipp Schoppen, com 5,7%. A empresa tem seu capital totalmente pulverizado na bolsa, sem a formação de um bloco de controle, um plano que deve continuar também daqui para frente. De acordo com os dados disponíveis na B3, das ações em circulação no mercado, quase 79,4%, ou 289 milhões de papéis, estarão, a partir de agora, acessíveis aos investidores pessoa física.

“Temos conversado bastante com o mercado e com a imprensa. É um momento totalmente novo para a companhia, em que buscamos deixar claro quem somos e o que fazemos, uma vez que não se trata de algo tão intuitivo quanto entender o que um shopping ou um supermercado fazem, diante do público final. Além disso, estamos num momento operacionalmente ótimo, crescendo 46% organicamente e quase 180% em receita”, diz Marcelo Korber, diretor de relações com investidores da Infracommerce, ao EXAME IN.

Nesse processo, cabe um parágrafo aqui também para esclarecer o que a empresa faz. A Infracommerce, hoje, cobre todo o processo de levar uma empresa do mundo físico para o canal digital, seja ela B2C ou B2B. A empresa gerencia desde a escolha da plataforma até os meios de pagamento, passando pela logística (este, um ponto facultativo para os clientes), dados e inteligência do e-commerce e até mesmo o SAC. O produto é totalmente white label — pode ser customizado como a empresa bem decidir — e o cliente, no fim das contas, tem nas próprias mãos os dados sobre os clientes, um ponto que pode ficar difícil quando se vende somente via marketplaces, por exemplo. 

Com mais de 500 clientes, além de ser uma ‘one stop shop’ para o varejo e para a indústria, a Infracommerce guarda um ponto importante também financeiro: a escala. Hoje, a empresa tem um GMV de R$ 13 bilhões, o que traz condições mais atrativas de negociação com cada um dos fornecedores e, consequentemente, condições melhores para os clientes em termos de serviços do que se fossem contratar cada etapa do funcionamento do próprio e-commerce de forma isolada.

Os principais clientes são marcas fortes no mundo físico. Entre eles, estão nomes como Nike, Montblanc e Cartier, por exemplo. Mas, não é necessário ser uma marca de luxo para conseguir ser cliente da empresa de tecnologia. O ponto é ser conhecido o suficiente para ter tráfego direcionado a um site próprio — ou, no limite, estar disposto a gastar, além do próprio e-commerce, um bom desembolso com tráfego pago para tentar buscar algum consumidor que se torne fiel.

Com esse viés de consolidação do mercado de varejo digital, a companhia foi para o Novo Mercado em maio do ano passado, de olho em levantar recursos capazes de fazê-la crescer dentro de sua tese. A oferta levantou R$ 870 milhões, com papéis precificados abaixo da faixa estabelecida. De lá para cá, comprou os dois principais concorrentes no país, bem como fez uma série de aquisições na América Latina. Hoje, está presente em sete países.

“Estamos entregando aproximadamente 40% mais do que estipulamos na época do IPO. Saímos de um patamar de faturamento de R$ 100 milhões em 2019 para R$ 1 bilhão em 2022. Foi um crescimento bastante expressivo em um curto espaço de tempo”, disse Fábio Bortolotti, VP de relações com investidores da Infracommerce, em uma conversa com o EXAME IN em setembro.

Futuro

O crescimento cobrou seu preço em um mercado mais duro, de juros mais altos. Para contorná-lo, a empresa fez um aumento de capital com acionistas de referência, em que levantou R$ 400,8 milhões, no fim de setembro. A cifra refletia, segundo Bortolotti, o mínimo necessário para limpar a estrutura de capital sem precisar de nenhum outro financiamento com bancos. No segundo trimestre, para referência, a dívida líquida da companhia foi de R$ 250,5 milhões, ante uma posição de caixa de R$ 224 milhões.

Esse foi apenas um dos passos tomados pela companhia para reagir com uma estrutura de capital melhor diante do novo cenário macroeconômico. Ao todo, foram três: o aumento de capital privado, que por sua vez permitiu a renegociação de todos os M&As realizados pela companhia e a renegociação de dívidas com os bancos, a partir de um caixa mais robusto.

Em relação ao efeito máximo das sinergias dessas aquisições no balanço, Bortolotti afirma que não se trata de um processo tão simples. Isso porque os clientes são plugados no sistema da Infracommerce e são migrados periodicamente, até que todo o sistema legado possa ser desligado. É uma rotina interrompida diante de datas de alto fluxo de compras, como a Black Friday, por exemplo, de olho em fornecer um serviço estável aos clientes. O efeito maior, segundo o executivo, deve ser visto a partir do ano que vem. Em 2022, o principal já observado foi o de diluir custos fixos, despesas gerais e administrativas e possibilitar a renegociação com fornecedores. 

“A empresa sempre foi lucrativa. Em 2019, tínhamos lucro líquido, não só Ebitda. No ano seguinte, fizemos um grande investimento em despesas administrativas para o IPO, principalmente para estruturar o C-Level, RH, finanças, compliance, RI, controles internos, e isso comprimiu um pouco o Ebitda. Em 2021, tivemos o efeito do IPO e as aquisições. Mas é importante sempre lembrarmos que montamos toda a estrutura para uma empresa de R$ 1 bilhão”, diz Bortolotti.

Apesar do viés positivo para o futuro, em curto prazo, assim como outras ações de empresas de tecnologia, a Infracommerce também acumula desvalorização. De janeiro para cá, os papéis já caíram 64,95%, algo que os executivos esperam que se recupere à medida que os juros caiam. Isso, é claro, somado ao fato de que, agora, a empresa espera ganhar um novo fôlego diante de um grupo ainda maior de investidores para continuar crescendo.

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