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Natura&Co: reestruturações de olho em rentabilidade devem surtir efeito até o fim de 23

Revisão da Avon Internacional, da The Body Shop e venda da Aesop foram alguns dos pontos ressaltados pela companhia na divulgação dos dados de 22

Natura &;Co: seja qual for o futuro da Aesop, marca butique deve trazer liquidez para holding
Natura &;Co: seja qual for o futuro da Aesop, marca butique deve trazer liquidez para holding
Karina Souza

14 de março de 2023 às 14:26

O fim do "sonho global" da Natura&Co (NTCO3) já é notícia desde o ano passado, mas ganhou ares ainda mais práticos na divulgação do balanço relacionado a 2022. É o tal foco em rentabilidade. Com resultados mais fracos do que os de 2021 em praticamente todas as unidades de negócio a única exceção é a Aesop a companhia direcionou seu discurso ao mercado para o lado do que deve fazer de olho em garantir um 2023 com margens maiores. Nesse escopo, se destacam a venda da marca australiana (ainda sem novidades sobre um possível comprador), reestruturação da Avon e da The Body Shop.

Antes de partir para o futuro, um retrato do que foi 2022 para cada uma das marcas. Começando pela empresa que deve ser separada do grupo, a Aesop. No ano, a receita líquida cresceu 21%, para R$ 2,7 bilhões, mas houve perda de rentabilidade, com um Ebitda 13,8% menor do que o registrado em 2021 (R$ 536,7 milhões). De acordo com a Natura&Co, a redução se deve a uma reclassificação de gastos de margem bruta, mas trata-se apenas de um cálculo contábil para padronizar todas as unidades de negócio. Não há impacto sobre números anteriores.

Como afirmou Fábio Farbosa ao EXAME IN há cerca de um mês, as propostas para o negócio de maior crescimento do grupo devem acontecer ainda neste mês. Em fevereiro, estavam na mesa apenas discussões sobre venda para grupos estratégicos e fundos de private equity. Ainda não há definições sobre venda parcial ou total da companhia.

No ano, teve destaque o crescimento da marca na China, com duas das maiores lojas em faturamento para a marca abertas no país ao longo de 2022. Deve ser um efeito único para a Aesop, não replicado para as demais marcas. "O investimento na China da Natura&Co é focado em Aesop. Tiramos o foco de The Body Shop e Avon, dada a questão do footprint. Não existem outras marcas que planejamos investir por lá", afirmou Guilherme Castellan, CFO da Natura&Co, em coletiva de imprensa.

A venda da divisão continua sendo um dos pontos principais na estratégia de desalavancagem da companhia. A Natura&Co fechou o ano com uma alavancagem (dívida líquida/Ebitda) de 3,49x, ante 1,52x em 2021. O alto nível de endividamento está relacionado principalmente ao Ebitda menor em relação aos níveis históricos da companhia.

As medidas de reestruturação para conter esse efeito já começaram em 2022, mas é claro que a venda da divisão traz um fôlego adicional para esses planos. Por enquanto, o que a Natura&Co mostrou foi uma redução da queima de caixa da companhia ao longo do ano passado, um fator que também deve permanecer em 2023.

A companhia teve uma saída de R$ 1,6 bilhão de caixa em comparação com uma de R$ 2,3 bilhões no ano anterior. "Tivemos uma melhora significativa ao longo do ano de 2022, que deve continuar e ter efeitos maiores ao longo do ano completo de 2023", afirmou Castellan.

Daqui para frente: Avon na mira da divisão Latam e reestruturação da TBS

Em relação à Avon Internacional, volta à cena o plano de desinvestimento em áreas menos rentáveis para focar nas que podem trazer resultados melhores para a empresa. No último ano, a operação foi afetada por problemas na Ucrânia e na cadeia de suprimentos em geral, bem como por um número de representantes ainda 20% abaixo do considerado ideal pela empresa -- um ponto que segue em melhora sequencial, de acordo com João Paulo Ferreira, CEO da Natura&Co América Latina, e Fábio Barbosa, CEO da Natura&Co. Outro ponto visto de forma positiva para o ano é o repasse dos efeitos de inflação para os preços, o que traz uma melhor produtividade para as representantes. Em 2022, a divisão teve uma queda de 9,9% em moeda corrente, para R$ 7,1 bilhões, com uma margem Ebitda 170 bps menor, de 4,3%.

Para 2023, permanece o plano já anunciado em 2022: reduzir a presença geográfica em locais menos rentáveis, considerando, inclusive, franquias para permanecer em alguns deles.

Na América Latina, mais uma vez a operação da Avon é destaque, mas, mais uma vez, pelo potencial de melhorias que têm de ser feitas para que a operação consiga ganhar rentabilidade ao longo do ano. Em um olhar por região, a hiperinflação da Argentina trouxe impactos negativos ao longo do segundo semestre, que encolheram o market share da marca na região. A Natura, por outro lado, conseguiu crescer, especialmente no México  na Colômbia, compensando em parte o efeito negativo local. Ainda assim, o ganho de rentabilidade para a Avon é defendido como uma alternativa para que a companhia consiga efetivamente crescer ao longo de 2023.

Em 2022, a divisão Latam teve uma receita líquida praticamente estável em moeda reportada, de R$ 22 bilhões, e um aumento de 6,3% em moeda corrente. A margem Ebitda encolheu 120 bps, fechando o ano em 10%.

The Body Shop continua sendo o principal ponto de interrogação nos resultados da empresa. Com um ano particularmente difícil, a marca vai enfrentar uma reestruturação maior ao longo de 2023, cujos impactos já começaram ao longo do primeiro trimestre: redução de 25% no quadro corporativo, fechamento de centro de distribuição no Reino Unido e o fim da BS At Home nos Estados Unidos .

A companhia teve, em 2022, a maior queda percentual em receita líquida de todas as divisões da companhia. Fechou 2022 com R$ 4,4 bilhões, queda de 24% em moeda reportada e de 13,5% em moeda corrente. A margem também derreteu no período, com uma queda de 670 bps.

O reflexo de todas as reestruturações deve ser sentido em margem da companhia ao longo de 2023, segundo Castellan.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.