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Metalfrio quer se relançar na B3 e estuda oferta de R$ 600 milhões

Companhia fez IPO em 2007, mas sócios controladores concentraram participação e ação quase não tem mais liquidez

GV

22 de junho de 2020 às 08:25

Sabe aquela cerveja gelada que você pedia naquele domingão à tarde, de sol, sentado do lado de fora de algum restaurante ou boteco preferido? Ou o sorvete na padoca, ou ainda a carne do churrasco e até a vacina do seu filho? Pois é, grande chance de cada um desses produtos estar dentro de um aparelho de refrigeração da Metalfrio Solutions, uma  pouco conhecida companhia listada na bolsa há mais de uma década e fundada em 1960. É daqueles negócios que estão quase todos os dias na sua vida e você não sabe.

A companhia prepara seu relançamento na B3, para levantar cerca de 600 milhões de reais com uma oferta de ações, conforme informações que circulam no mercado desde que a empresa tornou público que estuda uma captação. Tecnicamente é uma oferta subsequente, já que a Metalfrio foi listada após uma oferta inicial (IPO) realizada em 2007, o ano da febre das ofertas. O plano para o que o mercado chama de "Re-IPO" estava sendo estudado desde o começo do ano, mas foi mais um interrompido pela pandemia do coronavírus.

O valor de mercado da companhia, por não ter liquidez, não servirá de parâmetro para a operação. Por isso, o mercado chama essas ofertas de Re-IPO — tem características mistas de uma oferta inicial e de uma subsequente. A operação, contudo, ainda não está pronta e sua concretização vai depender da receptividade do mercado.

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Na sexta-feira, a empresa terminou o dia avaliada em 325 milhões de reais na bolsa. A ação, que estava em 100 reais no começo de março, passou para 53 reais no auge do estresse e, no último pregão, saltou de 69 reais para 80 reais. O volume negociado no dia com toda a aparente euforia? Apenas 200 mil reais.

Desde 2004, a empresa, que já teve como donos os grupos Continental e Bosh-Siemens, é controlada pelo empresário Marcelo Lima — hoje com 52,4% do capital total. Economista formato pela PUC-Rio, com histórico no mercado financeiro e fundador da Artésia Investimentos, Lima também é o principal acionista da varejista de moda Restoque, que consolida as marcas John John, Le Lis Blanc, Dudalina, entre outras, e que está em recuperação extrajudicial. Erwin Russel, seu sócio na empreitada, tem outros 41,5%. Somados, portanto, eles têm quase 94% do capital da empresa, e não sobra quase nenhuma liquidez na bolsa. Ou seja, há hoje apenas 6% do capital da companhia disponível em bolsa (conhecido como "free float"), muito pouco para qualquer empresa ter ações com liquidez no pregão.

Os recursos obtidos, se a operação for concluída com sucesso, serão usados em investimentos em expansão e redução de dívida, conforme apurou o EXAME IN. No modelo pré-Covid, havia expectativa de uma oferta secundária (quando os acionistas vendem um pedaço da participação que eles têm na empresa) junto, que na versão atualizada ou não deve acontecer ou apenas em um cenário de demanda muito aquecida.

Desde que Lima listou a Metalfrio no Novo Mercado, a companhia se internacionalizou e tem fábricas no Brasil, México, Turquia e Rússia e atende hoje mais de 80 países. Da receita total de 2019, que somou perto de 1,5 bilhão de reais, após 23% de crescimento, 64% veio do mercado externo.

Como uma oferta de 450 milhões de reais em 2007, a Metalfrio não se destacou na bolsa e foi sempre considerada uma “small cap”, empresa de menor capitalização. O negócio cresceu em ritmo médio de 11% ao ano desde 2013. Mas a expansão da operação não se refletiu no mercado.

A relação da companhia com os investidores não deslanchou. Os sócios colocaram mais dinheiro na empresa em uma capitalização privada, há alguns anos, e depois tentaram fechar o capital e tirá-la do Novo Mercado, em 2017 — mas acabaram desistindo. Foi assim, aos poucos, que, de uma liquidez reduzida, a ação passou a praticamente nenhuma, embora ainda negocie quase todos os dias na bolsa com volume pequenos.

O dinheiro novo que a Metalfrio pretende levantar agora é para expandir um segmento de maior margem que a fabricação dos aparelhos: o aluguel e manutenção deles, junto com a conectividade embarcada nas máquinas. Quem conhece o negócio de perto diz que a empresa já caminhava para essa nova frente de negócios, mas uma aposta maior exige investimento na ‘compra’ de aparelhos que ficarão em carteira para serem alugados.

Os recursos também vão fortalecer a posição financeira. A companhia ainda não divulgou o balanço do primeiro trimestre, que deve ser afetado pelo impacto cambial sobre os compromissos das operações internacionais. Em dezembro, o balanço trazia 536 milhões de reais em caixa, para 1,03 bilhão de reais em dívida financeira bruta.

Nos últimos anos, a empresa vem ampliando a parte de serviços. Ao vender seus aparelhos, entrega junto um pacote anual de manutenção, pago mensalmente. Essa estratégia gera recorrência na receita à empresa e alinhamento com o cliente — quanto melhor for o produto que sai da fábrica, menor o gasto efetivo com a manutenção e, portanto, maior a margem da empresa. No pacote de manutenção, cujo atendimento é feito diretamente nos estabelecimentos, a Metalfrio ajusta também o que não é dela, como choppeiras e outros aparelhos.

No Brasil, esse serviço já representa um volume importante da receita local, mas a empresa não divulga os percentuais. Agora, a Metalfrio quer investir em conectividade e inteligência artificial das geladeiras e ampliar o serviço de aluguel. Quem conhece bem o mercado de cervejas diz que a espanhola Estrella Galicia fez sua expansão no Brasil sem comprar uma única geladeira, só alugando.

Praticamente não há negócios imunes à pandemia. Não seria diferente com a Metalfrio, ainda mais no Brasil, onde o imenso mercado de cerveja mostrou-se fortemente associado aos bares e restaurantes, como já provou o balanço da Ambev.

Entretanto, quem acompanha de perto o negócio da Metalfrio diz que a companhia tem duas proteções: a receita em moeda estrangeira (as vendas em menor volume são parcialmente compensadas pela desvalorização do real) e o aumento das vendas para conveniências, pequenos e grandes mercados. A concentração do consumo nesses comércios levou a um aumento da demanda nesse segmento. Portanto, a inevitável queda na receita ocorrerá, mas será bem menos dramática do que a redução das vendas dos estabelecimentos comerciais e de serviços fechados devido à crise sanitária da Covid-19.

 

 

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