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Metalfrio: IG4 faz proposta para reorganizar dívida e capitalizar empresa

Empresa tinha R$ 1,25 bilhão em dívida bruta em setembro e patrimônio líquido negativo em R$ 31 milhões

Refrigeração comercial: companhia tem grandes redes de varejo e empresas globais como clientes (Thinkstock/Thinkstock)
Refrigeração comercial: companhia tem grandes redes de varejo e empresas globais como clientes (Thinkstock/Thinkstock)
GV

Graziella Valenti

16 de março de 2022 às 17:15

A Metalfrio Solutions, uma das maiores empresas do mundo de refrigeração comercial e dona de uma receita anual da ordem de R$ 1,5 bilhão, está em dificuldades financeiras. Adiando pagamento de dívida e juros desde dezembro, a companhia é alvo de preocupação dos bancos credores. As instituições estão em busca de soluções e o negócio, controlado por Marcelo Lima e Erwin Russel, precisa passar por uma capitalização. Juntos, os sócios somam aproximadamente 95% do capital total.

Em 2020, a companhia trabalhava em uma potencial oferta pública de ações, com a intenção de levantar cerca de R$ 600 milhões em recursos novos para planos de expansão. A operação, contudo, não se concretizou. Desde que abriu o capital em 2007, a Metalfrio se internacionalizou e possui unidades produtivas hoje na Turquia, no México e na Rússia (essa última obviamente afetada pela guerra). Mas, agora, uma capitalização teria que, antes de tudo, sanear as finanças. Os principais credores são Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander.

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A gestora de recursos IG4, que no Brasil também é dona da Iguá Saneamento, do Tegram (Terminal de Grãos no Maranhão) e da Opy Health (hospitais e saúde), está interessada no ativo e encaminhou uma proposta aos bancos credores e aos acionistas. Conforme fontes a par das informações, o total de uma operação poderia chegar a R$ 500 milhões, considerando reestruturação de dívida e aporte de dinheiro novo. Seria o primeiro investimento do terceiro fundo da casa criada por Paulo Mattos e que possui ativos também fora do Brasil. No entanto, procurada, a gestora preferiu não comentar o assunto.

A Metalfrio tinha R$ 1,25 bilhão em compromissos financeiros ao fim de setembro do ano passado, dos quais mais de R$ 820 milhões com vencimento até o fim do terceiro trimestre deste ano. Em caixa, a companhia registrava R$ 360 milhões naquele momento. No acumulado dos primeiros nove meses do ano passado, contudo, a geração de caixa medida pelo Ebitda somou pouco mais de R$ 140 milhões.

A liquidez do negócio piorou sensivelmente ao longo do último trimestre de 2021 e começo deste ano. “O caixa praticamente secou”, disse uma das fontes que conhece a companhia. Em setembro, o patrimônio líquido da empresa estava negativo em R$ 31 milhões.

Com a IG4, os bancos credores venderiam parte da dívida, que a gestora usaria para converter em ações. Além disso, o fundo investidor também faria um aporte em recursos — a operação seria semelhante, portanto, a soluções usadas para adquirir a CAB Ambiental (que deu origem à Iguá) e ao Tegram.

Se as negociações avançarem e a transação for concluída, Lima e Russel serão diluídos e deixarão de ser os controladores. Até onde foi possível saber, Lima, que possui carreira no mercado financeiro, foi fundador da gestora Artésia e é também dono da Restoque, ainda não teria tomado uma decisão. O empresário e investidor não retornou à tentativa de contato do EXAME IN antes da conclusão dessa reportagem.

O objetivo de Lima, quando planejava relançar a Metalfrio na bolsa — hoje, praticamente sem negociação no pregão — , era ampliar investimento em tecnologia e expandir a frente de aluguéis (leasing) e prestação de serviços. Com isso, além da venda de produtos, a companhia passaria a contar com uma fonte de receitas mais recorrente e previsível. O projeto da IG4, do ponto de vista estratégico, também seria nessa direção, com especial interesse pelas unidades do Brasil e da Turquia.

A IG4 é conhecida por seus investimentos no segmento de infraestrutura, especilamente por meio de transações que envolvem a reestruturação financeira e de governança dos ativos. Além da Iguá Saneamento, também é dona da Aenza, no Peru, antigo conglomerado Graña Y Montero.

No ano passado, a gestora  colocou o setor de consumo, em especial de bebidas e alimentos, no foco, só que de um jeito diferente. No lugar de adquirir diretamente empresas nesse ramo, a IG4 voltou-se para a infraestrutura desse segmento. Foi assim que comprou o controle da Adelco, a maior companhia de armazéns logísticos dedicado ao varejo de alimentos e bebidas do Chile.

Com isso, o ingresso na Metalfrio, que tem como grandes clientes nomes como Ambev, Coca-Cola, Unilever, entraria no mesmo racional econômico de Adelco — uma exposição indireta ao mercado de consumo. Embora fale pouco, Mattos é conhecido por ‘gostar’ de companhias com ativos reais.

Antes de ser adquirida por Lima e Russel, a Metalfrio já teve como controladores grandes multinacionais como Continental e Bosh. Após o salto de internacionalização dado logo após o IPO, a empresa não mais fez grandes movimentos de consolidação.

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