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Estapar aposta R$ 585 milhões que Zona Azul sai mais forte da pandemia

Após IPO na semana passada, companhia assinou contrato hoje e pagou compromisso com Prefeitura de São Paulo

Aeroporto de Guarulhos: Zona Azul paulista passa a ser maior operação da Estapar e deixa Cumbica em segundo lugar (Germano Lüders/Exame)
Aeroporto de Guarulhos: Zona Azul paulista passa a ser maior operação da Estapar e deixa Cumbica em segundo lugar (Germano Lüders/Exame)
GV

19 de maio de 2020 às 18:25

A Estapar teve hoje o compromisso mais importante desde a estreia de suas ações na B3, na sexta-feira. Há pouco, representantes da companhia foram encontrar o prefeito Bruno Covas (PSDB) para honrar o pagamento da Zona Azul, referente à licitação vencida em dezembro passado, e assinar o contrato de gestão. O total a pagar é de 595 milhões de reais, em parcelas até o fim de 2020.

A expectativa do mercado é que a demanda por vagas de estacionamento aumentará no novo normal do mundo pós-pandemia, reflexo da preferência da população por transportes individuais no lugar de coletivos. O motivo: saúde. A aposta é que carros e motos vão surfar a onda do “espaço pessoal” , conceito tipicamente americano que vem ampliando sua fama desde que o novo coronavírus passou a assombrar a vida coletiva no mundo.

A partir de agora e até o fim do ano, a Estapar vai passar por um período de transição até assumir por completo a gestão das atuais 44 mil vagas espalhadas na cidade de São Paulo. O contrato de concessão é de 15 anos. Entre os compromissos, está a ampliação do número de vagas para 52 mil. No total, a companhia, que hoje tem 396 mil posições, em 684 operações. A Estapar teve faturamento de 1,3 bilhão de reais no ano passado.

É a primeira vez que a prefeitura paulista concede à iniciativa privada a gestão das vagas de ruas. Para a Estapar, a novidade está no volume, não no sistema. Desde 1994, a empresa faz essa gestão em diversas cidades das regiões Sul e Sudeste, num total administrado de 37 mil vagas, sem contar a cidade de São Paulo.

Junto com a operação, vieram as obrigações de cuidado com as vagas e a sinalização e também com a fiscalização do uso. A empresa vai investir perto de 30 milhões de reais no desenvolvimento de uma central de controle e na tecnologia de suporte, com aplicativo de venda dos tíquetes (que passará a ser feita exclusivamente no aplicativo da empresa).

Para cuidar do uso correto das vagas, além de contar com os tradicionais amarelinhos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET),  a Estapar vai operar carros equipados com câmeras, que fazem uma varredura de 360º graus nas ruas, com leitura digital das placas — os chamados “scan cars”. A empresa vai usar tecnologia para prover a evidência à prefeitura, mas a aplicação da multa continuará sendo tarefa da equipe de Covas.

O objetivo é ampliar a rotatividade do uso da estrutura. Pela lei, cada veículo pode permanecer por no máximo duas horas nos espaços regulares. Fiscalização maior é sinônimo de mais receita — para a empresa e para a prefeitura — e menos trânsito. A estimativa é que cerca de 30% do fluxo de veículos nas ruas vicinais da cidade seja devido à procura por vagas.

Além da outorga da licitação, a Prefeitura de São Paulo receberá um percentual mensal do faturamento com a vendas de tíquetes, que varia dentro uma banda de 6,5% a 10% do total arrecadado.

Foi em busca de recursos para quitar o compromisso com a prefeitura que a Estapar fez o IPO na B3, na semana passada — o primeiro da pandemia e o primeiro totalmente digital. Com a mobilidade suspensa pela Covid-19, a empresa realizou mais de 70 reuniões on-line exclusivas com investidores e fez mais de 100 visitas “virtuais” a potenciais acionistas.

Na operação, captou 345 milhões de reais. O plano antes da pandemia era uma operação bilionária, que permitisse até mesmo saída para fundos investidores que assim desejassem. Na última década, a companhia recebeu mais de 800 milhões de reais em aportes de diversos fundos. Mas o coronavírus cassou não apenas a movimentação das pessoas, como também qualquer plano mais ousado para mercado de capitais.

Além de André Esteves, do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), que se tornou acionista em 2009, a Estapar tem na lista de sócios o bilionário do setor imobiliário Sam Zell, por meio do fundo Equity International, e as gestoras Franklin Templetom e Crescera Investimentos, entre outros.

A ação saiu no piso do intervalo estimado para a oferta, a 10,50 reais. Esteves, que ofereceu garantia firma para a colocação, comprou 40% dos papéis emitidos. Com isso, sua participação no negócio ficou praticamente inalterada, saindo de 47,7% antes do IPO para 46,4%, considerando a venda já programada do lote suplementar de papéis. O BTG Pactual foi o coordenador líder do IPO, acompanhado do Bradesco BBI, Santander e BB Banco do Investimentos.

A diferença entre o compromisso da companhia com a prefeitura e o valor captado foi paga por meio de financiamentos bancários.

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