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ESPECIALISTAS: Futuro do ecommerce no Brasil é positivo, mas o custo de crescimento deve ser alto

No Brasil, cerca de 70% dos volumes do comércio online são provenientes das vendas de eletro-eletrônicos

Mundo digital: para cada aumento de 100 pontos-base no custo de capital próprio (taxa de desconto), em média, o valor de mercado combinado das empresas de tecnologia cai cerca de 15% (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
Mundo digital: para cada aumento de 100 pontos-base no custo de capital próprio (taxa de desconto), em média, o valor de mercado combinado das empresas de tecnologia cai cerca de 15% (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
GV

Graziella Valenti

27 de julho de 2022 às 11:43

O ecommerce brasileiro deve superar R$ 500 bilhões em 2026. Mesmo com todos os desafios de curto prazo para o varejo e para investimento em tecnologia, o valor ainda é cerca de 40% acima do que eram as projeções pré-pandemia. As perspectivas, portanto, são melhores do que o esperado anteriormente, em termos de GMV — gross merchandise volume ou valor total bruto de vendas —, apesar da desaceleração no ano passado, especialmente desde o segundo trimestre. Esse é o legado dos últimos dois anos para o ecommerce brasileiro, ou pelo menos uma parte importante dele.

Em nossas estimativas, após crescer 66% em 2020 e 31% em 2021, em comparação ao ano anterior, assumimos que as vendas online vão aumentar 12% em 2022, principalmente impulsionadas pelos principais players, que respondem por mais de 2/3 do mercado. E, a partir de então, em média, 19% ao ano até 2026. Trata-se do mesmo ritmo médio de expansão entre 2015 a 2019.

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Nos últimos dois anos, as estimativas do mercado endereçável do ecommerce no Brasil já foram revisadas para refletir o crescimento exponencial de venda dos principais players com as mudanças de hábito do consumidor, mas também um legado cujos efeitos devem persistir por muito tempo após o fim da pandemia. São mais vendedores, mais tráfego, mais sortimento, frequência de compra e investimentos em nível de serviço.

Assim, ainda vemos uma tendência secular de crescimento do ecommerce brasileiro nos próximos anos e, diferentemente de mercados mais maduros, com GMV muito maior do que as estimativas pré-pandemia.

Mas no Brasil, com aproximadamente 70% das vendas online provenientes de celulares, eletrodomésticos e eletrônicos (todos impulsionados em 2020 pela maior demanda devido ao Coronavoucher e ao home office), era razoável assumir perspectivas de crescimento muito menores em 2021 e ao longo desse ano.

E, por enquanto, um custo mais alto de capital também impedirá a maioria dos players de manter o ritmo de crescimento dos últimos anos, abrindo caminho para mais consolidação, enquanto as margens, devido à concorrência e inflação ainda alta, permanecerão sob pressão no futuro próximo.

Por isso, acreditamos que há três tendências nos próximos trimestres para o setor online no país: (i) crescimento mais fraco do GMV (afetado por menor renda disponível e restrições de acesso a capital); (ii) foco na rentabilidade das operações (significando menor foco nas categorias não rentáveis, principalmente aquelas com menor ticket médio) e modo de preservação de caixa; e (iii) maior consolidação do mercado entre um pequeno grupo de players, uma tendência que esperamos se acelerar devido a essas condições de mercado menos favoráveis já listadas.

Antes que o mundo tivesse de lidar com o atual cenário inflacionário, o ambiente de juros baixos dos últimos anos, tanto no Brasil quanto globalmente, tornou as empresas de tecnologia mais atraentes, levando a um aumento relevante dos investimentos no setor, tanto para empresas públicas quanto privadas.

Só que, por enquanto, à medida que grande parte da população volta ao trabalho presencial e passa menos tempo em casa, o setor tem sofrido perdas profundas. Os investidores estão preocupados que as empresas impulsionadas pela pandemia estejam perdendo força.

Não por acaso, as ações que dispararam durante o rali da pandemia foram algumas das maiores perdedoras na desaceleração desde o ano passado. Uma reversão que também sinaliza as preocupações dos investidores com o valuation de muitos ativos de risco.

Temores com a inflação e a trajetória de alta das taxas de juros tem provocado turbulências no mercado e um acalorado debate sobre os múltiplos de valuation corretos para as ações de tecnologia no ambiente atual.

Uma das maiores fontes de preocupação é o risco de que o aperto do FED (o banco central americano) leve a economia a uma recessão, prejudicando ainda mais os fundamentos e o sentimento dos investidores. No curto prazo, taxas de juros mais altas reduzem os fluxos de caixa futuros das empresas em metodologias de precificação usadas com frequência.

Para cada aumento de 100 pontos-base no custo de capital próprio (taxa de desconto), em média, o valor de mercado combinado das empresas de tecnologia que cobrimos cai cerca de 15%, o que em parte explica a derrocada das ações. No Brasil, em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária do Banco Central elevou a taxa básica para 13,25% ao ano.

Como parte do mesmo cenário, as pressões inflacionárias e o impacto sobre a renda disponível significam que a demanda será afetada no curto prazo, principalmente para categorias cíclicas e de alto ticket médio como eletroeletrônicos e eletrodomésticos.

É por isso que, apesar da tendência secular positiva para o ecommerce, vemos o setor em uma posição difícil no curto prazo, o que significa, no mínimo, volatilidade ainda alta. As companhias navegam, nesse momento, em uma perspectiva top-down desfavorável, o que coloca pressão nos fundamentos da maioria das empresas. Além disso, dificilmente as perspectivas de crescimento futuro serão precificadas antecipadamente. O mercado deve seguir com o foco cada vez mais direcionado para valorizar lucratividade, no lugar de crescimento a qualquer custo.

*Luiz Guanais é especialista em varejo e consumo do BTG Pactual

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