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Elon Musk: até onde o bilionário conseguirá usar os holofotes para manter investidores?

Fundador da Tesla e da SpaceX passa por período turbulento com incertezas sobre crescimento global e aquisição do Twitter

Uma análise rápida no Google Trends mostra a diferença de quantidade de buscas no nome do fundador da Tesla e da SpaceX em relação a Jeff Bezos (Ted Talk/Reprodução)
Uma análise rápida no Google Trends mostra a diferença de quantidade de buscas no nome do fundador da Tesla e da SpaceX em relação a Jeff Bezos (Ted Talk/Reprodução)
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Karina Souza

22 de outubro de 2022 às 15:49

Tudo que Elon Musk fala, vira notícia. É um feito admirável, até mesmo para um dos homens mais ricos do mundo. Uma análise rápida no Google Trends mostra a diferença de quantidade de buscas no nome do fundador da Tesla e da SpaceX em relação a Jeff Bezos, com quem vive alternando o topo do ranking de maior patrimônio no mundo todo. O andamento do processo do Twitter, resultados da montadora de veículos elétricos, novidades da empresa de foguete, intenção de povoar Marte com a própria prole… Não faltam assuntos para os quais o filho de Errol e Maye Musk não tenha uma opinião que renda muitos cliques. Mas, no meio de toda essa turbulência e nos tempos mais difíceis para a economia global, o que realmente sobra para quem investe nas teses de Elon?

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Começando pela montadora de veículos elétricos, a Tesla enfrenta um futuro completamente diferente do desenhado até agora. A euforia com os juros baixos acabou, assim como o ritmo de crescimento da empresa na China. Em junho, o governo chinês ordenou um recall de quase todos os carros vendidos no país (mais de 285 mil) para corrigir uma falha de software. Ao mesmo tempo, diante da disputa cada vez mais acirrada com os Estados Unidos, o receio de que os veículos possam enviar dados pessoais aos EUA também ganha ares cada vez maiores por lá. No mês de agosto, foi constatado que a chinesa BYD — que tem Warren Buffett entre seus investidores – ultrapassou a Tesla em volume de veículos vendidos nos últimos seis meses. Foram 641 mil entre janeiro e junho, ante 564 mil unidades da empresa de Musk.

O valor de mercado também se deteriorou ao longo do tempo, deixando cada vez mais distante a ideia de que a empresa pode valer mais do que a Apple e a Saudi Aramco juntas, como o fundador defendeu no último call com analistas. Hoje, a Tesla está avaliada em US$ 671,94 bilhões, com os papéis valendo US$ 214,44, um patamar distante do pico que atingiu no ano passado, em que as ações estavam cotadas a US$ 407,36. Ainda assim, cabe a ressalva, o feito está longe de ser inexpressivo. Nos últimos cinco anos, a valorização acumulada nas ações é de 902%.

O problema é que “o futuro não é mais como era antigamente”. Bater as metas de crescimento anunciadas em junho, de aumentar a companhia em 50%, já parece muito mais um plano para ficar no papel do que propriamente uma realidade para o último trimestre de 2022. De olho em animar investidores em meio a toda essa turbulência, Musk anunciou um programa de recompra de ações de US$ 5 milhões a US$ 10 milhões. Mas ainda está longe de ser suficiente.

Pontos em comum são notados tanto por investidores estrangeiros quanto brasileiros. Felipe Miranda, fundador da Empiricus, fez um bom resumo dos desafios da Tesla daqui para frente: maior competição com outras montadoras por veículos elétricos, problemas de demanda na China e, em menor grau, na Europa. Isso sem falar nos problemas intrínsecos à companhia, como a dificuldade de cumprir o tempo de espera de encomendas, que motivou a companhia a parar de aceitá-las em maio deste ano. O ‘combo’ causa um tanto de desconfiança a respeito dos planos do bilionário para conseguir manter a empresa nos trilhos.
Há, ainda, no já turbulento 2022, um ponto que também não é dos mais amigáveis para o bilionário: a novela da compra do Twitter por US$ 44 bilhões. Em meio ao vaivém de informações, polêmicas e anúncios — Musk quer controle absoluto? Vai demitir mais da metade da força de trabalho da empresa? Vai fechar o capital da rede social? — fato é que não se sabe, até agora, de onde o fundador da SpaceX vai tirar o restante do dinheiro que precisa, caso realmente seja obrigado a comprar a rede social.

Até o momento, US$ 7 bilhões foram assegurados por investidores como o príncipe saudita Al-Walid bin Talal e o fundo soberano do Catar. Na situação atual em que os Estados Unidos estão, o governo americano está preocupado com a presença deles nesse ‘consórcio’ para financiar a operação, alegando questões de segurança nacional. De acordo com a Bloomberg, uma análise a respeito disso pode ser dirigida pelo Comitê de Investimentos Estrangeiros nos Estados Unidos (CFIUS) para investigar a questão mais a fundo.

Ainda que isso seja resolvido, de onde Musk vai tirar o restante para arcar com a oferta? No início das negociações, o caminho mais apontado para isso era a venda de ações da Tesla por parte do executivo — o que colaborou para as ações da empresa despencaram pouco tempo depois. Agora, ainda é cedo para tirar uma conclusão final do caso tão turbulento, mas ainda assim, a possibilidade de que um movimento como esse aconteça está longe de ser descartada.

Ou seja, no fim das contas, Musk tem uma empresa ainda muito valiosa nas mãos (a Tesla) mas cujo diferencial competitivo e possibilidade de crescimento estão ameaçados, somado à aquisição de uma rede social que quis comprar, depois desistiu, e agora pode ter de arcar com uma despesa bilionária. Não fosse isso suficiente, o empresário ainda é frequentemente envolvido em polêmicas sobre a atuação da SpaceX para proporcionar internet em meio à guerra na Ucrânia.

O vaivém de informações — vai derrubar a conexão local? Não vai? — levantou até mesmo a questão no Financial Times sobre até que ponto um empresário pode se envolver em questões de segurança nacional. Gillian Tett, editora especial da publicação, repetiu em seu artigo a pergunta feita por Chris Bryant, político britânico: “Haverá um momento em que poderemos ter de sancionar Elon Musk?”. A pergunta está longe de ser ilógica, é claro. Mas traz um adicional de tempero ao que já está borbulhando em relação ao executivo.

Não que Musk tenha mudado sua conduta de uma hora para a outra. Longe disso. Polêmicas sobre relacionamentos, ideia de povoar Marte a partir da própria prole, nomes de filhos um tanto quanto fora do usual e outras tantas notícias já foram geradas a partir da postura do bilionário em relação aos mais variados temas. O ponto é que, em meio à mudança completa na condição econômica global, somada ao acirramento da disputa entre Estados Unidos e China e, para coroar, uma guerra na Rússia e na Ucrânia, até que ponto Musk vai conseguir manter as polêmicas ao mesmo tempo em que entrega resultados?

Para ser justa, os resultados da Tesla estão longe de serem inexpressivos: a empresa mais do que dobrou o lucro na comparação anual entre os trimestres. Mas isso já parece pouco diante dos olhos do mercado. O que parece, cada vez mais, é que Musk terá de usar daqui para frente toda a sua habilidade para estar no centro dos holofotes para convencer investidores de que não é apenas um falastrão — e de que conseguirá sobreviver às crises do momento.

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