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De cabo a rabo: BRF tem prejuízo de R$ 137 mi no 3º tri e novo CEO, plano para mexer em tudo

Resultado da dona de Sadia e Perdigão confirmou previsão de analistas de alta na receita, mas com perda de margens

Miguel Gularte, novo CEO, sobre plano para BRF: "Não vai ser tentativa e erro" (Marfrig/Divulgação)
Miguel Gularte, novo CEO, sobre plano para BRF: "Não vai ser tentativa e erro" (Marfrig/Divulgação)
GV

9 de novembro de 2022 às 20:15

Miguel Gularte, presidente da BRF (BRFS3) há 45 dias, apresentou um balanço que ainda não é seu. A companhia, como os analistas esperavam, trouxe crescimento de receita, mas perda de margem na comparação anual. A última linha do balanço segue negativa: prejuízo de R$ 137 milhões. Contudo a perda é 51% menor do que um ano atrás e 70% inferior à do segundo trimestre. A receita teve alta de 13,4%, para R$ 14 bilhões, mas o lucro bruto caiu 1% e ficou em R$ 2,6 bilhões. O Ebitda ajustado acompanhou a margem bruta, mais do que a receita, e ficou praticamente estável em R$ 1,37 bilhão.

O que Gularte trouxe de seu é a mensagem de que nada vai escapar de ser revisado em busca de melhoria. Não se trata de reinventar a companhia, mas de aprimorar processos. Sua fala foi do campo, da eclosão de ovos e mortalidade de animais, passando pela eficiência industrial na desossa e melhorias na frente comercial até a execução logística. Em uma breve conversa com jornalistas, afirmou que desde que chegou fez um processo de imersão e que dele saiu “um plano muito bem desenhado em cada tópico e para dois cenários, um de curto prazo e outro de médio e longo prazo.”

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Não houve uma apresentação de detalhes do que será feito, mas ficou claro que o objetivo é ganhar em todas as frentes. Embora analistas que mantêm proximidade com a empresa afirmem que a execução é sempre um desafio — ainda mais para uma empresa que sofreu tantas mudanças na última década — , Gularte enfatizou, firme: “não é um plano de tentativa e erro. Minha experiência de 42 no setor de proteína animal vai ajudar nisso”.

Segundo ele, o plano reuniu todas as lideranças e houve tempo dedicado ao teste de sua consistência. O executivo destacou que existem questões mais urgentes, sem detalhá-las, e afirmou que a empresa não está “priorizando o presente renunciando ao futuro.”

Outro recado dado — e esse já havia sido captado pelos analistas, ao atualizarem as projeções para o resultado do terceiro trimestre após conversas com a empresa — é que a companhia não vai abrir mão nem de volume, nem de share de mercado. E que isso vai ser conquistado com uma atuação comercial mais assertiva e uma execução logística melhor. A fala vale para todas as geografias, não apenas para o Brasil. “Se antes eu olhava para a China como algo continental, agora olho região por região e por tipo de produto”, disse o novo CEO.

Além da melhoria dos processos, o que o novo CEO quer para a BRF é flexibilidade para ter agilidade na tomada de decisão. “A melhor opção para uma empresa é ter muitas opções.” Por isso, entre as frentes que a nova gestão já trabalha está a habilitação para exportação do maior número possível de plantas para a maior quantidade possível de mercados. É daí que deve vir uma maior eficiência de pricing. A companhia conquistou habilitações para exportações a destinos como Canadá, Singapura, Cuba, México, Japão e Malásia.

Por mais de uma vez, Gularte afirmou que a BRF tem o que precisa para executar as melhorias pretendidas: marcas fortes, acuracidade de dados e pessoas para executar os avanços pretendidos.

A chegada de Gularte à presidência da BRF marca a assunção da gestão do negócio pela Marfrig, de Marcos Molina. Até dois meses atrás, Gularte era o presidente da operação da Marfrig na América do Sul. Em uma tacada surpreendente, a empresa de carnes tornou-se, em maio do ano passado, por meio de compra de ações diretamente na bolsa, a maior acionista da dona de Sadia e Perdigão. A Marfrig tem cerca de 33% do capital total, mas sua participação é muito maior que a dos demais acionistas e, por isso, tornou-se a sócia gestora da empresa.

Desde o segundo trimestre de 2022, a BRF é inclusive consolidada ao balanço da Mafrig. Apesar de ter feito a aquisição em 2021, Molina havia se comprometido a apenas mexer na administração após a temporada de assembleias deste ano. Assim, começou por indicar a maioria do conselho de administração, em abril, para apenas meses depois trocar a gestão executiva.

Efeito mínimo

O Brasil foi o calcanhar de Aquiles do terceiro trimestre, como era esperado. A receita líquida no país avançou 6,6%, menos do que a inflação do período, e somou R$ 6,8 bilhões. A margem bruta, na comparação anual, caiu de 23% para 16%. O Ebitda teve queda de 48%, para R$ 458 milhões – a margem ficou pela metade, saiu de 13,7% para 6,7%.

Gularte destacou que houve um erro de expectativa, não só da BRF, mas de todo mercado, em relação ao efeito do Auxílio Emergencial de R$ 600, implementado pelo governo até o fim de 2022. “Se esperava que esse auxílio tivesse o mesmo efeito do coronavoucher, mas não foi isso que vimos. Se o auxílio anterior tocou 28% das famílias, esse tocou 9%.”

Dívida

A BRF terminou setembro com R$ 24,1 bilhões de dívida bruta e R$ 9,3 bilhões em caixa. Segundo a empresa, não há nenhum risco de necessidade de refinanciamento e há cobertura para todos os compromissos até 2025.

 

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