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C&A chega ao primeiro bilhão de vendas online — mas investidores querem saber é da rentabilidade

Varejista conseguiu melhorar Ebitda e margem bruta em 2022 com plano de eficiência operacional estabelecido no fim do ano

Lojas físicas: expansão controlada em 2023, de olho em preservar caixa (Karina Souza/Exame)
Lojas físicas: expansão controlada em 2023, de olho em preservar caixa (Karina Souza/Exame)
Karina Souza

Karina Souza

2 de março de 2023 às 14:03

A C&A chegou ao primeiro bilhão de receita bruta em vendas pela internet, crescimento de 30% em relação a 2021.O resultado, apresentado junto aos dados relacionados ao ano de 2022, reflete principalmente o esforço acumulado desde a pandemia para se aproximar das clientes no mundo digital. Em 2019, para lembrar, as menções a esse canal ainda apareciam principalmente dentro da seção de "transformação digital", com uma menção aqui e outra acolá sobre os esforços conduzidos para melhorar o aplicativo da varejista. De lá para cá, a empresa acelerou os esforços para conquistar clientes no mundo dos bites e bytes, incluindo as ditas melhorias no próprio app, o lançamento de um marketplace e o canal por Whatsapp — este último, um sucesso e tanto. Hoje, mais de 60% do GMV digital vem do aplicativo de mensagens instantâneas.

O canal digital (e seu sucesso até aqui) foram um dos principais temas apresentados pela companhia a analistas na manhã desta quarta-feira como uma das quatro alavancas de crescimento para 2023. As demais envolvem novas lojas, com um cronograma reduzido de inaugurações para o ano, aumento da oferta de crédito e modernização do modelo operacional de supply chain. Tudo feito com muita cautela, de olho em rentabilidade -- a principal preocupação dos analistas para o setor como um todo -- para colher resultados daqui para frente.

“Em 2023, o foco vai estar na dimensão do resultado financeiro e proteção ao caixa como prioridade, dado o contexto e custo do dinheiro no país. As melhorias operacionais que fizemos em 2022 vão permanecer, teremos aberturas de lojas mais focadas e investimentos em tecnologias feitos de forma mais assertiva, determinados ao que pode trazer retorno. Despesas continuam sendo assunto sob monitoramento e o capital de giro vai ser beneficiado por medidas adotadas em 2022”, afirmou Paulo Correa, CEO da C&A, durante o call.

No último ano, a empresa apertou os cintos e estabeleceu um plano de eficiência operacional, que buscou enxugar gastos de olho no dinheiro mais caro. Algumas dessas iniciativas — além da redução dos aportes em marketing, mais recente — envolveram também a diminuição brusca do plano de investimentos da empresa ao longo do ano: o capex caiu praticamente pela metade, fechando o último ano em R$ 373 milhões.

O resultado desse plano apareceu principalmente nas linhas de margem e Ebitda, em que a companhia conseguiu, mais do que superar o desempenho do ano anterior, ficar acima também dos patamares registrados no pré-pandemia pela primeira vez.

A margem bruta fechou o ano em 50,2% (crescimento de 3,7 pontos percentuais em relação a 2021) e, o Ebitda, em R$ 750,1 milhões, aumento de 66% na comparação anual, também com ganhos em margem Ebitda. Os ganhos não chegaram até à última linha do balanço principalmente pelo aumento da despesa financeira no período, um fato que se estendeu por todo o ano passado para o setor. A C&A fechou o ano com lucro líquido de R$ 800 milhões, queda de 99% em relação ao ano anterior.

Em 2022, especialmente no quarto trimestre, a companhia também tomou iniciativas para preservar capital de giro, realizando o pagamento de dívidas mais caras e alongando prazos de pagamento com fornecedores — um ponto que os analistas quiseram entender melhor, à luz dos recentes problemas da Americanas com o assunto. De acordo com Milton Lucato Filho, CFO da C&A, as mudanças feitas de olho em alongar prazos de pagamento foram estudadas cautelosamente, são sustentáveis e serão preservadas também em 2023. Hoje, a varejista não faz nenhuma operação que tenha característica de financiamento (risco sacado) com fornecedores. “O desconto é feito em benefício do fornecedor, que tem a condição de ir ao mercado financeiro e antecipar o recebimento que teria da C&A, dentro do prazo original de vencimento”, afirmou Filho.

C&A Pay

Além de alongar prazos com fornecedores e pré-pagar dívidas a juros altos, a C&A também estuda alternativas para reduzir o consumo de capital ao desenvolver sua vertical de crédito, o C&A Pay. Em vez de finalizar a parceria com o Bradesco já neste ano (como era previsto anteriormente), a companhia alongou a parceria até 2025, em função do cenário macroeconômico e da alta base ativa de cartões nessa modalidade (mais de 2 milhões) presentes na base da varejista. Nos próximos dois anos, entretanto, não serão emitidos novos cartões dentro do modelo anterior de parceria. O novo contrato entre as partes prevê que a C&A seja remunerada em um esquema de comissões, a cada emissão de novo cartão que fizer.

Relembrando toda a história, a C&A comprou em 2020 os direitos de oferecer serviços e produtos financeiros aos seus clientes, um ponto explorado de forma exclusiva pelo banco. Nisso, a companhia investiu R$ 415 milhões, valor que deveria ser liquidado em janeiro deste ano e corrigido a 112% do CDI a partir de janeiro de 2022.

Enquanto faz o 'fade-out' da parceria com o Bradesco, a empresa continua desenvolvendo sua ferramenta própria de crédito, o C&A Pay, hoje já responsável por 16% das vendas realizadas pela varejista (enquanto os cartões da parceria com o Bradesco respondem por outros 6%). Não custa lembrar que o C&A Pay completou o primeiro ano de vida em dezembro.

Sendo tão recente, a ferramenta de crédito próprio deve arcar com inadimplência maior do que o 'tradicional', como afirmou o Levi Fonseca, diretor executivo do C&A Pay, durante a conferência. "A gente se preocupou em montar um time com muita experiência, porque a construção de uma carteira nova não tem base legada para segurar e você convive com níveis maiores. Mantivemos diligência de cada safra e ao longo do ano fizemos ajustes na política, o que permitiu terminar o ano com inadimplência menor do que a esperada. Vamos continuar nesse modelo e tomando decisões conforme necessário. Esperamos aumento no índice de inadimplência pela maturidade da carteira e seguimos atentos".

Para lidar com a necessidade de capital que a expansão da vertical de crédito deverá trazer ao longo do ano, a companhia estuda criar um FIDC, agora que obteve a licença para operar como uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), uma espécie de autorização para operar como fintech capaz de prestar alguns serviços financeiros, como empréstimos, de forma totalmente digital. “Estamos avaliando este veículo e, se mostrando eficaz para 2023, será nele que colocaríamos o funding para a necessidade do Pay”, afirmou o CFO. 

Seja no crédito ou em vendas, fato é que o mundo digital representa cada vez mais uma estratégia eficaz para a C&A conciliar sua expansão com as mais de 300 lojas físicas que tem em todo o país. O otimismo é calculado, claro, mas há perspectivas de um ambiente mais estável a partir do segundo semestre, de acordo com o CEO da companhia. "Estamos trabalhando de maneira muito pragmática com gestão do caixa. o que queremos fazer é conseguir manter a evolução da companhia e a captura dos investimentos e ao mesmo tempo garantir a expansão e o sucesso e cada uma dessas frentes de trabalho", afirmou Correa. O ano está só começando, mas nem por isso os desafios ficaram menores para a varejista daqui até lá. 

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.