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Eletrobras

As três prioridades de Wilson Ferreira Jr. para o futuro da Eletrobras

CEO deve finalizar até março a revisão estratégica para os próximos cinco anos da empresa

Wilson Ferreira Júnior: transformação completa para atender às necessidades do futuro (Germano Lüders/Exame)
Wilson Ferreira Júnior: transformação completa para atender às necessidades do futuro (Germano Lüders/Exame)
KS

Karina Souza

1 de fevereiro de 2023 às 11:46

Uma empresa que olha para o futuro. Essa é a marca que Wilson Ferreira Júnior quer deixar no comando da Eletrobras (ELET3), como mostrou em painel do evento Latin America Investment Conference, promovido pelo Credit Suisse. Aos quatro meses da segunda vez que assume o cargo de CEO da maior empresa de energia da América Latina, o executivo deixou claro que a empresa vai passar por uma transformação no melhor estilo ‘barba, cabelo e bigode’. Vai desde a contratação de profissionais mais jovens passa por uma empresa mais leve em número de funcionários, para culminar em uma companhia melhor preparada para atender às necessidades de um mercado que vive uma revolução. O objetivo com isso tudo é conseguir aproveitar as diversas oportunidades que surgirão no setor ao longo dos próximos anos.

Para começar todo esse processo, até março, a empresa deve concluir a revisão estratégica para os próximos cinco anos, com destaque para dois fatores principais:  eficiência operacional e a possibilidade de crescimento — agora que a Eletrobras está capitalizada — principalmente de olho em uma agenda de crescimento e de valorização da energia renovável. “Se a gente espera um país crescendo, energia vem junto com isso”, afirmou o executivo. 

Até o momento, já foram identificadas 40 oportunidades para serem viabilizadas. Cinco delas já foram cumpridas e outras 15 serão finalizadas dentro dos próximos dois meses. Dentro dessa agenda de eficiência, o CEO destacou a contratação de profissionais mais jovens. Hoje, o funcionário mais jovem da Eletrobras tem 37 anos — e a empresa não contratava ninguém desde 2009. “Não tem ninguém com tatuagem, costumo brincar”, disse Ferreira Júnior. 

De olho nessa agenda, a empresa estabeleceu um acordo com sindicatos para um programa de demissão voluntária, que teve, até o momento, 2,5 mil adesões. Por outro lado, a companhia está contratando 1.000 novos profissionais, justamente de olho em promover essa oxigenação, que traz como resultado mais eficiência e em atenção aos critérios ESG para avançar. Até abril do ano que vem, vale lembrar, a empresa pode estabelecer um novo PDV, que contemple até 20% da força de trabalho que tiver. O processo de oxigenação demandou, ainda, a criação de uma nova vice-presidência de fusões e aquisições, a ser comandada por Elio Wolff (ex-Engie), bem como trazer pessoas para atividades novas de digital e cibersegurança. Hoje, por exemplo, a Eletrobras ainda tem sete data centers no grupo para as quatro empresas — não está, portanto, na ‘nuvem’.

“Temos de ser o maior player de energia e também o que tem o menor custo. Há uma série de redundâncias hoje. O melhor exemplo é o centro de serviço compartilhado. Quando tínhamos 16 empresas, foram montados quatro centros. Hoje, com quatro companhias, os quatro centros permanecem lá. Há um processo importante de racionalização de atividade corporativa. Política única de pessoas, de remuneração, para acordos judiciais, manter sistemas e assim por diante. O que estamos fazendo agora é integrar, sem uma redução significativa na quantidade de funcionários”, afirmou Ferreira Jr. Ainda na seara de unificar a empresa, Ferreira Jr afirmou que a Eletrobras comprava de forma descentralizada e, agora, vai unificar o processo. Um exemplo já foi provado: a compra de seguros. Ao realizá-la de forma única, houve uma economia de 30% a 40%, na casa dos R$ 200 milhões, para o grupo. 

A obsessão por ser o maior player com o menor custo é justificada, para além do efeito óbvio, por uma questão de setor: no processo de revisão tarifária, a vantagem de competidores fica com quem é mais eficiente. 

No processo de modernização, a Eletrobras guarda uma vantagem importante: tem uma matriz quase que totalmente limpa. Hoje, a empresa é a segunda maior do mundo em geração de energia renovável — só perde para a Enel, por pouco. E é a vice-líder em baixas emissões. “Temos térmicas pequenas, que estão terminando seu prazo de concessão nos próximos dois anos. Isso vai reduzir nossas emissões em 60%. É uma vantagem que não está precificada. É uma empresa brasileira crescendo da forma que o mundo precisa e com um grande potencial ali”, disse.  Ainda de olho na sustentabilidade, a empresa fez ontem o primeiro de 10 aportes relacionados ao ESG, como parte das exigências estabelecidas no processo de privatização. O valor só do desembolso realizado ontem é de R$ 883 milhões, e foi direcionado a três fundos, que visam à preservação da Amazônia e do Rio São Francisco.

Olhos atentos ao futuro: comercialização 

Por fim, o último ponto — enfatizado com maior tempo de fala do executivo — foi o da comercialização de energia. Trata-se de área em que a Eletrobras não tinha uma ação organizada e que, a partir de agora, passa a ter uma vice-presidência inteira dedicada ao assunto. A casa começa a ser organizada, com processos definidos para pontos como a venda de energia entre as companhias, metas de preço, caracterização de produtos e por aí vai. 

A companhia já aprovou com o conselho de administração uma estratégia para operar no curto e médio prazo ações de comercialização. Para isso, conta com assessoria especializada em um processo que conta com uma rigorosa agenda de acompanhamento, prevista para durar até o fim do ano. O CEO, pessoalmente, acompanha as reuniões do comitê de estratégia e fornecimento para as companhias toda segunda-feira e, toda sexta-feira, há uma avaliação de como tudo aconteceu ao longo da semana. 

O tema está no centro das atenções para este ano. Em encontro com jornalistas realizado no fim de 2022, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica afirmou que as discussões para trazer regras claras ao setor devem começar no início deste ano, com a expectativa de consultas públicas por parte da Aneel, tanto para monitoramento prudencial quanto para regras relacionadas ao aspecto financeiro das empresas no setor. Enquanto isso, a CCEE também espera a autorização para começar uma operação sombra (uma espécie de ambiente de testes).

Ferreira Jr. ressaltou que a descotização acontece no ritmo de 20% ao ano, em um volume que tem que gerar vendas e também o próprio hedge. Olhando pelos modelos da companhia, há cerca de 13% do portfólio para ser vendido ao longo de 2023, um percentual que aumenta para 30% a 35% ao longo de 2024. 

“A Eletrobras vendia principalmente para geradores, distribuidores, grandes consumidores e principal volume livre era para comercializadores. Vamos ter limite de risco para elas, desenvolver com a vice-presidência de comercialização uma área que vá gerar grandes clientes”, afirmou o CEO. 

Hoje, no Brasil, Ferreira Júnior afirmou que há 1,5 mil clientes que podem ser atendidos por comercializadoras, um número que deve passar para mais de 110 mil clientes a partir de 2024, com a liberação integral do grupo A. “Temos o ano inteiro para nos organizarmos nessa atividade. A companhia precisa originar direto para o consumidor. Precisamos de uma área comercial atuante e que possa ter uma relação próxima de crédito, confiança, negociação de prazos, que customize a relação da empresa com grandes clientes. Devemos estruturar isso ao longo de 2023 e entrar com muita força a partir do ano que vem”, afirmou. 

Riscos com governo?

Mesmo no fim de todo esse processo de descotização, o CEO esclareceu que não se trata de um cenário de poder absoluto para a Eletrobras.“Se o mercado for livre, nossa avaliação é de que chegaremos ao fim desse processo com 14% do mercado. Hoje, a companhia tem 42 mil MW instalados, mas não tem isso livre. Com o fim de tudo, 40% do tamanho dela poderá ser comercializado dessa forma. É muito pouco e temos que lembrar que nosso preço não é formado por oferta, mas por sistemas”, disse. 

Questionado a respeito de riscos para companhia no novo governo, Ferreira Júnior afirmou que “é natural que existam manifestações, mas não é possível esquecer que o processo de privatização se origina com lei no Congresso”, relembrando cada etapa e formato de privatização juridicamente possível no país. 

Em relação à participação do governo na empresa, também lembrou que não há como mudar os 10% atuais, a não ser que seja numa assembleia. “Temos várias iniciativas que de alguma forma o governo se beneficia, como os depósitos da CDE ao longo de 30 anos. O governo vai perceber as vantagens de ser sócio da empresa com perspectiva de crescimento e de ter uma governança de altíssimo nível. A prática vai mostrar”, afirmou. 

Para quem decide. Por quem decide.

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