Mesmo as plataformas mais novas mudaram seu posicionamento para entrar na onda das HR Techs. A Contratado.ME, criada há quatro anos, trocou até mesmo seu nome: hoje, chama-se Revelo.
Os sócios Lachlan de Crespigny e Lucas Mendes moraram nos Estados Unidos e perceberam como havia a oportunidade de resolver os problemas brasileiros na área de recrutamento de talentos.
“As HR Techs ainda não tinham desembarcado e vimos uma grande oportunidade. Afinal, o Brasil é o quinto maior mercado de recrutamento e seleção do mundo”, afirma Mendes. “A compra da Love Mondays abriu as portas do investimento internacional em startups daqui que trabalhem com recursos humanos. No nosso caso, nossos dois investidores mais recentes são fundos internacionais [Seek e Valor Capital Group]”.
Com inspiração nos exemplos de fora, o diferencial da Revelo é inverter o processo de contratação. No lugar de as empresas postarem suas vagas e profissionais se candidatarem, a startup criou um marketplace de candidatos selecionados.
O usuário se inscreve e passa por um processo seletivo contínuo de habilidades que ele alegou possuir, com questões fáceis e difíceis. Por meio de tecnologias como inteligência artificial e machine learning, a Revelo coleta diversas informações sobre esse candidato, incluindo até qual nível ele chega nas diversas competências avaliadas.
A cada 20 candidaturas feitas com a startup, apenas um usuário permanece na plataforma. Essa elite de 5% dos inscritos é, então, colocada à disposição das empresas. Dos 170 mil candidatos de 2017, apenas 8 mil entraram para o banco da Revelo.
No começo, a Revelo focou na maior demanda do mercado: candidatos qualificados na área de tecnologia. “Mas temos, hoje, oportunidades em business intelligence, data science, design e marketing”, afirma Mendes.
O negócio atende hoje a 1.700 clientes, desde startups até gigantes como 99, B2W, Cielo, Grupo Pão de Açúcar, Hospital Albert Einstein, Itaú Unibanco, Kroton e Natura. O ticket médio mensal é de 5 mil reais, variando de acordo com a dificuldade das vagas e o número de candidatos desejado.
A Revelo não abre números absolutos de faturamento, por ter assinado recentemente seu contrato de investimento. Mas diz ter crescido três vezes em 2017, em comparação anual, e quer repetir a dose em 2018. “Nós queremos ser o primeiro unicórnio de HR Tech no Brasil, e achamos que conseguiremos por estarmos alinhados com o que acontece nos principais mercados desse setor.”
Vanessa Duarte, gerente de RH da plataforma de microrrecompensas Minutrade, descreve a experiência da PME com os serviços da Revelo. "Foi o casamento ideal para integrar pontos essenciais para um recrutamento e seleção de excelência: filtros assertivos de perfil de candidatos, agilidade na identificação dos gaps e inserção em redes sociais colaborativas para divulgação de vagas", afirma Duarte. "Recentemente realizamos duas contratações de profissionais da área de tecnologia e inovação em menos de 30 dias, uma prova de que a ferramenta ajudou na seleção e na agilidade do processo."
Escritório da startup Revelo (Revelo/Divulgação)
Enquanto a Revelo nasceu com os olhos voltados ao exterior, a HR Tech Gupy nasceu a partir de um problema bem brasileiro. Mariana Dias era trainee na gigante Ambev e percebia como a empresa sofria com a rotatividade de funcionários.
Em 2015, a empreendedora se uniu ao irmão Guilherme Dias e aos colegas Bruna Guimarães e Robson Ventura para criar um negócio que realmente selecionasse os candidatos com maior aderência às empresas.
Para isso, o primeiro passo tomado pela Gupy é fornecer um sistema de gestão de recrutamento para as empresas clientes da startup. A partir das informações inseridas nesse sistema, uma análise é feita para elencar as características em comum dos funcionários mais produtivos e que representam melhor a cultura da empresa.
Tais funcionários irão responder perguntas e, com isso, a Gupy tem uma base para rodar o match entre novos candidatos e os melhores da empresa. Só então o algoritmo de inteligência artificial começa a operar e faz seu ranqueamento automático dos currículos em cada processo seletivo.
O negócio contratante da Gupy paga uma mensalidade fixa – que vai de 850 a 40 mil reais, dependendo do número de vagas abertas por mês. A startup não abre números absolutos de faturamento, por recentemente ter assinado um contrato de aporte com os fundos Canary e Yellow Ventures.
O primeiro grande cliente da Gupy foi a gigante Kraft Heinz. Segundo Dias, a Gupy conseguiu reduzir em 80% a carga operacional de recursos humanos e aumentar o engajamento dos candidatos no processo seletivo em três vezes.
Os bons resultados vistos na empresa de alimentação trouxeram novos clientes. Hoje, a Gupy atende também a gigantes como Cielo, Fundação Lemann, Somos Educação e Vivo, além de startups como Méliuz. No total, são 70 clientes e 200 mil usuários cadastrados na plataforma. Mais de 170 mil matches foram feitos pela plataforma.
“A maior parte da concentração das vagas é para contratar um perfil intermediário da pirâmide, como estagiários, desenvolvedores, analistas e gerentes”, afirma Guilherme Dias.
Em 2018, a Gupy quer triplicar o crescimento da receita recorrente visto no ano anterior. “Vamos consolidar a Gupy como a plataforma número um para gestão de recrutamento e seleção com inteligência artificial no Brasil. Temos os desafios principais de aumentar a escalabilidade dos nossos processos de crescimentos, aprimorar as funcionalidades e o machine learning do sistema e, por fim, fortalecer nossa cultura e criar um ambiente de muito desenvolvimento para nosso time”, completa o sócio.
Bruno Belintane, coordenador de talent acquisition da Pearson, comenta como o grupo usou os serviços da Gupy para selecionar candidatos. "Percebemos um aumento significativo no recrutamento de pessoas de alta performance no nosso ano mais recente com a Gupy. No Programa de Estágio da Pearson em 2017, por exemplo, devido ao perfil das pessoas, nós aprovamos 200% a mais do que em 2016."
A equipe da startup Gupy (Gupy/Divulgação)
Por fim, o TAQE é uma das participantes mais recentes da onda das HR Techs. O negócio foi lançado em maio de 2017 com um foco bem distinto: o mercado de vagas de entrada, com posições mais operacionais.
Renato Dias, CEO do TAQE, conta que a startup surgiu da percepção de que recrutamento era um negócio extremamente promissor – mas, ao mesmo tempo, cheio de dores para o candidato e para a empresa.
Muitas empresas não dão retorno a quem se candidata, enquanto recrutadores recebem currículos sem nenhum indicativo de qualidades decisórias de quem é a melhor pessoa para a vaga, especialmente em cargos mais operacionais.
“Olhando para esse mundo de gente que se candidata, para a tração do mercado de recrutamento, pensamos no impacto social que a capacitação de um grande volume de jovens traria ao setor”, conta o CEO. Ao mesmo tempo, a empresa receberia informações mais precisas sobre seus potenciais funcionários.
Denise Asnis e Renato Dias, dois dos sócios da TAQE (Thiago Gomes;/TAQE/Divulgação)
A ideia recebeu investimentos-anjo em 2016 e 2017, tendo como principal aportador Nercio Fernandes, fundador da gigante de softwares Linx. Com isso, o TAQE conseguiu desenvolver tanto a tecnologia de produto quanto a operação da equipe.
O TAQE se posiciona como um jogo que capacita entrantes no mercado de trabalho. Os jovens fazem aulas e testes no aplicativo e, a partir dos resultados, a startup monta um score card de cada usuário. Eles conseguem ver as atividades feitas, as competências e os aspectos de personalidade medidos na ferramenta, além de poderem incluir dados de seus currículos. A partir daí, são apresentadas as vagas relacionadas aos seus perfis.
Ao mesmo tempo, a TAQE testa os melhores funcionários de seus clientes em cada área com vagas abertas. Isso é fundamental para montar uma base de comparação entre o que seria um perfil “ideal” e os resultados dos novos candidatos.
O algoritmo criado pela TAQE consegue fazer uma triagem com base na performance dos usuários e envia às empresas uma lista de matches entre suas oportunidades de trabalho e os possíveis contratados. É possível filtrar a vaga também por proximidade a ônibus fretados e transportes públicos, algo crucial para vagas em fábricas, por exemplo. Algumas das principais oportunidades são para ser atendente de restaurante, assistente comercial, auxiliar de fábrica, operador de telemarketing e promotor de vendas.
Na Natura, um processo seletivo viabilizado pela TAQE teve uma eficiência de 80% - a cada dez pessoas convocadas para a fase presencial, oito foram contratadas, diz Renato Dias. No lugar de analisar 200 currículos, a gigante dos cosméticos analisou 4.200 perfis com o algoritmo da TAQE.
Como forma de monetização, a startup cobra uma assinatura mensal com base no volume de admissões (a chamada success fee), na complexidade do perfil, na região e na forma de contratação do serviço – apenas licenciamento da ferramenta ou inclusão de táticas de atração e agendamento, por exemplo. No último caso, o valor pago gira entre 400 e 1.000 reais mensais.
Os principais clientes do TAQE são grandes empresas, com alto volume de contratações. Alguns dos doze clientes atendidos pela startup são Danone, Natura, Porto Seguro e Santander. Hoje, a plataforma conta com 90 mil cadastros e 700 candidatos foram aprovados nos processos seletivos de 2017.
A startup também foi selecionada para um programa na Estação Hack, centro de inovação criado pela rede social Facebook e pela aceleradora Artemisia para promover negócios de impacto social.
O TAQE não abre números absolutos de faturamento, mas planeja para este ano estruturar sua equipe para tração comercial; evoluir o produto para vagas intermediárias; realizar diversas integrações com o Facebook; e aperfeiçoar a mensuração do impacto social do negócio.
Vanessa Lobato, vice-presidente de Recursos Humanos do Santander, descreve uma experiência que a instituição financeira teve com o TAQE na hora de selecionar profissionais para o call center. "Foram 60 contratações em 40 dias. A tecnologia facilitou o processo de seleção, tornando-o mais dinâmico e interativo. Trouxe uma experiência mais moderna, leve, dinâmica, além de candidatos mais qualificados na fase final do processo seletivo."