Em 2009, o cientista sueco Johan Rockström, da Universidade de Estocolmo, liderou um grupo de pesquisadores que publicou um estudo chamado Fronteiras Planetárias. O trabalho, atualizado seis anos depois, apresenta 9 critérios ambientais que tornam possível a vida humana (veja no quatro abaixo). Esses critérios, ou fronteiras, funcionam em conjunto. Um desvio em qualquer um deles influencia nos demais. Mais importante ainda, o trabalho de Rockström determinou métricas de acompanhamento das fronteiras e um limite para elas. Se ultrapassado, as consequências serão desastrosas.
O estudo caiu como uma bomba entre os formuladores de políticas públicas, empresários e investidores. Pela primeira vez, foi possível quantificar, numa linguagem universal, a interferência da humanidade no funcionamento do planeta. Os dados não são bons. Três fronteiras já apresentam indicadores acima do limite: mudanças climáticas, ciclo de nitrogênio e perda da biodiversidade. A conclusão a que todos chegaram é: precisamos salvar o planeta.

Johan Rockström: “O planeta não dá a mínima importância para o que está acontecendo. Ele vai continuar a existir independentemente do que a humanidade faça. Nós não” (Global Climate Action Summit, Nikki Ritcher Photography/Wikimedia Commons)
Rockström, de certa forma, discorda. A questão não é salvar o planeta, mas sim, salvar a humanidade. “O planeta não dá a mínima importância para o que está acontecendo”, afirmou o cientista, em entrevista exclusiva à EXAME. “A Terra vai continuar a existir independentemente do que a humanidade faça. Nós não”. O raciocínio é simples. O mundo existe há mais de 4 bilhões de anos. Nesse período, passou por todo tipo de temperatura, enfrentou erupções vulcânicas, terremotos e até asteróides. O ser humano moderno, bípede e com polegar opositor, está aí há cerca de 50 mil anos, quase uma fração insignificante de tempo.

As 9 Fronteiras Planetárias: Mudanças Climáticas , acidificação dos oceanos, destruição da camada de ozônio, fluxos biogeoquímicos (fluxos de nitrogênio e fósforo), uso da água, desmatamento, perda da biodiversidade, aerossóis (partículas nocivas na atmosfera) e poluição; os itens em vermelho estão acima do limite (Felix Mueller/Wikimedia Commons)
O problema é que, nos últimos 50 anos, os humanos se tornaram uma força ainda maior do que erupções, terremoto e asteróides. O desenvolvimento das cidades, o uso de combustíveis fósseis, o descarte de plásticos e a destruição das florestas pressionam de tal forma o equilíbrio natural do planeta ao ponto de alguns cientistas, incluindo Rockström, considerarem que a humanidade atual se tornou sua própria era geológica. Os seres humanos têm o poder de determinar se, no futuro, o planeta será habitável, ou não.
A pandemia trouxe certa urgência para essa questão. As consequências econômicas do vírus, fruto do desequilíbrio ambiental (animais e humanos convivendo em um ambiente degradado), são apenas uma prévia do que aconteceria caso as fronteiras planetárias colapsem. E o pior: segundo Rockström, lidar com as mudanças climáticas é a parte fácil da equação. “Uma coisa está ligada à outra, mas, proteger a biodiversidade é bem mais complicado”, afirma o cientista.
Para Rockström, é a sociedade que está no controle da nave planetária chamada Terra. Para a humanidade continuar a existir, todas as pessoas precisam se transformar em administradores planetários.