ESG

Marcelo Serfaty: “O que vai limitar o crescimento das empresas é a falta de ESG, não de crédito”

Para o ex-presidente do conselho do BNDES, que assumiu o comando da fintech Liber, não adotar critérios socioambientais será tão limitante quanto a falta de educação no país

Marcelo Serfaty, CEO da Liber: “Quanto mais as empresas adotarem o ESG, mais serão competitivas globalmente” (Leandro Fonseca/Exame)

Marcelo Serfaty, CEO da Liber: “Quanto mais as empresas adotarem o ESG, mais serão competitivas globalmente” (Leandro Fonseca/Exame)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 14 de setembro de 2022 às 08h30.

“Precisamos democratizar o ESG”. A frase surge no final de uma detalhada explicação do modelo de negócios da Liber, fintech que nasceu especializada em antecipação de recebíveis e está expandindo sua atuação para outros elos da cadeia de crédito e pagamentos. O autor, Marcelo Serfaty, CEO da startup, está convencido de que a ideia de adotar critérios socioambientais e de governança na gestão das empresas e dos investimentos está longe de ser uma moda: é uma necessidade.

Sonia Consiglio, ex-executiva que liderou as áreas de sustentabilidade da B3 e do Banco Real e atualmente se dedica a “evangelizar” empresários e executivos na agenda, como escritora e SDG Pioneer do Pacto Global da ONU Brasil, fez coro a Serfaty, e ressaltou: “Vindo de uma pessoa como você, é sinal de uma mudança de mentalidade do mercado.”

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Serfaty é mainstream econômico na veia. Foi sócio do Pactual (atual BTG Pactual, do mesmo grupo que controla a EXAME), do fundo G5 e, até o mês passado, ocupava a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – ou Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Sustentável, como prefere Consiglio. Não se pode chamá-lo de “abraçador de árvores”, ou “ecochato”, mesmo que faça um dos discursos mais efusivos a favor do ESG que se tem notícia.

A única opção é o ESG

“Não temos duas opções. Se o Brasil não adotar o ESG, será como a educação”, afirma. Para Serfaty, há um esgotamento do modelo econômico brasileiro em virtude da histórica negligência com a educação, o que atualmente impede o crescimento do PIB. Essa limitação irá se agravar se as empresas, e o país de forma geral, não mergulharem na agenda do capitalismo de stakeholder, base conceitual do ESG, que prega que as empresas existem para gerar valor a toda a sociedade, e não apenas dar retorno aos acionistas.

Isso se deve a três grandes tendências, ou drivers no jargão financeiro. A primeira é o que Serfaty classifica como um efeito de crowding out, ou seja, um deslocamento da demanda de consumo e da oferta de crédito em direção a negócios aderentes ao novo padrão. “O que vai limitar o crescimento das empresas é a falta de ESG não de crédito”, explica.

A segunda tendência é o aumento do custo de capital, que está ligada ao crowding out, uma vez que as empresas não aderentes ao ESG terão acesso a uma parcela menor do mercado financeiro e pagarão mais caro pelo dinheiro. O terceiro driver é o risco de imagem. Na era da comunicação digital e imediata, erros na gestão ESG acabam viralizando de maneira muito rápida, o que pode gerar prejuízos consideráveis, especialmente em empresas abertas.

O pulo do sapo

O sapo, no entanto, pula pela necessidade, não pela beleza, como costuma dizer outro “mainstreamer econômico” e defensor do ESG, o empresário Rubens Ometto, presidente do conselho da Cosan. O processo de transformação dos negócios para o modelo de stakeholder está em curso no mundo todo, e o novo modelo ainda não foi totalmente construído. Isso dá às empresas brasileiras a oportunidade de pular etapas de desenvolvimento e ganhar competitividade em escala global. “Quanto mais as empresas adotarem o ESG, mais serão competitivas globalmente”, afirma Serfaty. “O que precisamos é dar dinâmica a essa transformação, para incluir quem realmente precisa adotar essa agenda.”

Ele se refere, no caso, à cadeia de suprimentos das grandes companhias. Há um obstáculo para a disseminação do ESG que é a falta de recursos dos pequenos. É nesse nó que a Liber pretende atuar, a partir de um modelo que reduz o custo de capital à medida que os fornecedores inseridos na cadeia das grandes empresas adotem critérios socioambientais e de governança. Recentemente, a Liber comprou duas outras fintechs, Bava e Evencard, expandindo sua atuação para o setor de pagamentos digitais.

A ideia, diz Serfaty, é criar uma plataforma que premie as empresas conforme avancem na adoção do ESG com acesso a um dinheiro mais barato, seja para capital de giro ou para investir em painéis solares, por exemplo, utilizando, para isso, o nível de risco de grandes companhias. Para ele, ou ganha todo mundo, ou ninguém sai do lugar.

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