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Remy Sharp
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Em junho, levei minhas filhas para assistir A Pequena Sereia. “Mamãe, essa Ariel é diferente da Ariel do desenho”, disse Alice, 5 para 6 anos, na saída do cinema. No desenho da Disney, a Ariel (a pequena sereia) é uma garota branca de cabelos vermelhos. No filme, a sereia foi lindamente interpretada por Halle Bailey, uma atriz negra. “Diferente como, Alice?”, eu perguntei. “A Ariel do filme tem cabelo laranja, mamãe, e não vermelho”.

“A princesa que mais parece com a mamãe é a Tiana”, me disse Isabela, minha filha mais nova. Tiana é a protagonista do desenho A Princesa e o Sapo, também da Disney, uma garota negra que batalha duro para alcançar seus sonhos. “Ela é trabalhadora”, justificou Bebela. Me enchi de orgulho.

Para as crianças, o diverso é o normal. Ao longo da vida, no entanto, esse “chip de pureza” será testado, e é minha responsabilidade prepará-las para o que vão encontrar, inclusive os discursos de ódio e preconceito. Mas como abordar esses temas, sem “riscar o cristal”? Eu quero a ser a princesa Tiana aos olhos bondosos de minha filha. Mas, eventualmente, ela irá descobrir que eu e a princesa não somos iguais, e que essa diferença, por mais irrelevante que seja, em inúmeras ocasiões define nossos papeis na sociedade.

Diversidade nos livros infantis

Decidi falar com elas sobre diversidade de maneira lúdica. Para isso, recorri aos livros. Obras infantis que usam animais para tratar de questões de diversidade me ajudaram a iniciar discussões que considero importantes.

No livro Orelha de Limão, de Katja Reider e Angela von Roehl, publicado no Brasil pela Brinque Book, uma ovelha branca tem uma orelha amarela. A vizinha cabra a chama de azeda, pois a orelha tem cor de limão, e o vizinho porco a chama de fedida, pois a orelha tem cor de queijo. E a ovelhinha culpa sua orelha amarela por tudo de ruim que acontece na sua vida.

O velho carneiro, seu amigo, propôs uma solução: pintar de branco sua orelha. Mas o carneiro apenas fingiu fazer o serviço e, pensando estar igual aos outros, a ovelha achou que sua sorte tinha mudado. Tudo começou a dar certo. Um dia, ela descobriu que sua orelha, na realidade, sempre estivera amarela.

A ovelha percebeu, então, que sua orelha não interferia na sua sorte: o que importava era sua atitude em relação ao que os outros falavam dela. A partir desse momento, quando foram tirar sarro dela, a ovelha, orgulhosa de sua orelha, pediu para começar a ser chamada “orelha de estrela”.

No livro Um Porco Vem Morar Aqui, de Claudia Fries, também publicado no Brasil pela Brinque Book, um apartamento está vago no prédio onde moram a galinha, a raposa e o coelho. Os três moradores desejam que o apartamento seja habitado por um “gato limpo” ou um “tatu ordeiro”, mas ficam horrorizados ao saber que o novo vizinho será um porco.

Tendo certeza de que o porco é sujo e bagunceiro, a galinha, a raposa e o coelho não perdem a chance de fofocar toda vez que o porco deixa cair farinha na entrada do prédio, lenha na calçada ou suja a escada de lama. Mas, enquanto fofocam, não percebem que o porco está limpando a sujeira que causou ou arrumando a bagunça que fez. Quando enfim decidem reclamar com o vizinho, o encontram em uma casa cheirosa e arrumada, fazendo deliciosos biscoitos para compartilhar com seus novos amigos.

Esses dois livros abriram espaço para que, de forma natural, pudéssemos conversar sobre como respeitar o que é diferente, ou como elas podem se portar quando veem alguém tirar sarro ou falar mal de um amigo. E, nessas horas, é uma delícia – e importante – escutá-las falar sobre os conflitos e as coisas com as quais não concordam.

Claro que, à medida que as crianças vão crescendo e o cristal é naturalmente riscado, teremos de abordar a diversidade de outras formas, e assuntos mais espinhosos terão de entrar na pauta. Mas esse processo será mais natural se a semente tiver sido plantada e o diálogo já existir.

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