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Entrevista: Pedro Wongtschowski defende mais investimentos em inovação

Especialista acredita que políticas públicas de incentivo à pesquisa e desenvolvimento já existentes precisam ser otimizadas

Pedro Wongtschowski (FAPESP/Divulgação)

Pedro Wongtschowski (FAPESP/Divulgação)

Presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da FIESP e membro do Conselho Superior da Fapesp e do Conselho do FNDCT, Pedro Wongtschowski defende que as políticas públicas brasileiras voltadas para pesquisas e desenvolvimento precisam ser otimizadas.  Em entrevista ao portal da Esfera Brasil, Wongtschowski explica algumas medidas que podem ser adotadas pelo governo em prol da inovação e destaca que as universidades federais merecem atenção para não haver um apagão de mão-de-obra especializada. Confira a seguir:

Levando em consideração o cenário político e econômico brasileiro atual, o que seria ideal falando em subvenção econômica para inovação?

PW: O que eu defendo é que instrumentos de financiamento para inovações já existentes sejam utilizados em escala maior.  O governo tem diversos mecanismos que podem ser mais explorados.

Um deles é o das encomendas tecnológicas, previsto na lei da inovação e muito pouco utilizado. Eu só tenho conhecimento de duas experiências, ambas de muito sucesso. Uma delas é a encomenda feita a Embraer do avião KC-390. A aeronave já foi vendida e será um produto de alta tecnologia importante para a exportação brasileira. O segundo exemplo mais recente é a vacina Oxford AstraZeneca encomendada à Fiocruz. A vacina, produzida hoje inteiramente no Brasil, teve um papel muito importante na contenção da covid-19.

Outro mecanismo é o uso da Embrapii, organização social também de grande sucesso que subsidia metade do valor total de um novo produto, ou de um novo negócio, de empresas que passam por um processo de classificação. O modelo tem mais de R$ 2 bilhões em modelos desenvolvidos e a escala podia aumentar.

A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) tem como subsidiar tecnologias de maior risco, com sistema de participação acionárias, investindo em startups. A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) também tem mecanismos que financiam fundo perdido a startups, que tem sido um grande sucesso.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FNDCT) é um dos principais instrumentos públicos voltados para a inovação, certo? Ele está na mira de um novo corte de orçamento anunciado pelo governo federal. Que resultado essa retirada pode ter para o país?

PW: Sou membro do Conselho Diretor do Fundo e tenho acompanhado com pesar essas indicações de corte. Entendo que são cortes de legalidade discutível, já que a lei em vigor proíbe expressamente o contingenciamento dos recursos do FNDCT. A despeito disso, o governo criou uma nova nomenclatura, chamando o corte de bloqueio, que, na minha opinião, é a mesma coisa.

O resultado é o empobrecimento do Brasil em todos os sentidos: científico, cultural, e até em termos de eficácia de políticas públicas. É um ataque ao longo prazo. Mira-se o presente e o que se destrói é o futuro. 

Como é o cenário do Brasil em comparação a outros países?

PW: Historicamente, o Brasil investe em Ciência cerca de 1,2% do PIB. Esse número é baixo e ainda tem caído. Grosso modo, metade disso é investimento empresarial e metade do setor público. São todos números muito baixos.

O investimento deve alcançar pelo menos 2% do PIB e nós estamos muito aquém disso. Em 2022 a estimativa é que o investimento será próximo de 1% do PIB, o que é absolutamente incompatível com as ambições que o Brasil deveria ter.

Há alguma área específica do país que precise mais de investimentos?

PW: Eu tenho uma preocupação muito grande com as universidades federais, que estão envelhecendo rapidamente. Não há renovação de quadros, pois são feitos poucos concursos. Houve uma redução no número de pós-graduados e o que se vê é que a gente corre o risco de ter um apagão de mão-de-obra universitária dentro de alguns anos. Esse seria um cenário desastroso para suprir tanto a necessidade da indústria, quanto da própria gestão pública. 

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