O aumento do superávit comercial no primeiro trimestre não foi suficiente para elevar o saldo de transações correntes. De acordo com o Banco Central (BC), o saldo em conta corrente acumulou um superávit de 1,790 bilhão de dólares no período, 33% menor que os 2,661 bilhões registrados até março de 2005. O desempenho foi prejudicado pelo aumento de gastos com serviços e rendas. Trata-se de mais um efeito colateral do real valorizado, que estimulou as subsidiárias brasileiras a aumentar a remessa de lucros e dividendos a suas matrizes no exterior, a fim de aumentar a rentabilidade em dólar.

O raciocínio é simples: 100 reais de lucro remetidos ao exterior, a uma cotação de 2,5 reais por dólar, representaria um ganho para a matriz de 40 dólares. A mesma quantia, com o dólar a 2 reais, eleva os ganhos para 50 dólares. O resultado prático foi um aumento de 31% na rubrica de serviços e rendas no primeiro trimestre. No total, o BC registrou a saída de 8,494 bilhões de dólares, contra 6,482 bilhões no mesmo período do ano passado. A conta foi composta por 6,102 bilhões de dólares de receitas, neutralizados por 14,596 bilhões de despesas (uma alta de 30%). Dentro dessas despesas, estão 3,608 bilhões de lucros e dividendos remetidos ao exterior - um incremento de 51,5% sobre os 2,381 bilhões do primeiro trimestre de 2005.

Isto não significa que as subsidiárias estejam erradas em remeter lucros para as matrizes - afinal, entre os objetivos de qualquer empresa, está o de remunerar seus acionistas. Também não é errado que as companhias escolham o melhor momento para aumentar a rentabilidade de suas matrizes - faz parte da estratégia financeira. O ponto é que a valorização cambial também tem reflexos nas contas públicas.

Um deles foi neutralizar a expansão de 12,5% do superávit comercial, que acumulou 9,341 bilhões de dólares no primeiro trimestre, contra 8,305 bilhões no período de referência. As exportações somaram 29,387 bilhões e as importações, 20,046 bilhões. O aumento dos gastos com serviços e rendas e das transferências unilaterais (que atingiram 943 milhões no trimestre) fez com que as transações correntes representassem 0,82% do PIB, contra 1,40% no mesmo período do ano passado.

Segundo o último relatório de mercado do BC, as instituições financeiras consultadas esperam um superávit em conta corrente de 9 bilhões de dólares neste ano. Num cálculo aproximado, isso equivaleria a 2,25 bilhões por trimestre;

Investimentos estrangeiros

Os investimentos estrangeiros diretos líquidos cresceram 16,8% em março, na comparação com o mesmo mês de 2005, e atingiram 1,6 bilhão de dólares. Do total, 940 milhões foram destinados a participação no capital de empresas. Já os empréstimos intercompanhias representaram 689 milhões. Os investimentos estrangeiros em carteira (ações e outros títulos de dívida) atingiram 2,3 bilhões de dólares, ante 2,1 bilhões em março de 2005.

A dívida externa total, em março, somou 170,3 bilhões de dólares, com acréscimo de 870 milhões em relação a dezembro de 2005. Já as reservas internacionais alcançaram 59,8 bilhões de dólares no mês passado, uma alta de 2,4 bilhões sobre fevereiro.