Exame logo 55 anos
Remy Sharp
Acompanhe:

TCU suspende por 20 dias julgamento sobre privatização da Eletrobras

Adiamento esbarra nos planos do governo, que tinha a expectativa de privatizar a empresa até 13 de maio

Modo escuro

Eletrobras: TCU julga processo de privatização da empresa (Pilar Olivares/Reuters)

Eletrobras: TCU julga processo de privatização da empresa (Pilar Olivares/Reuters)

A
Alessandra Azevedo, de Brasília

Publicado em 20 de abril de 2022, 17h56.

O Tribunal de Contas da União (TCU) adiou, nesta quarta-feira, 20, a decisão sobre a privatização da Eletrobras. A presidente da corte, Ana Arraes, concedeu vista coletiva de 20 dias — ou seja, mais prazo para que os ministros avaliem o processo, que está na segunda e última fase de análise no tribunal.

Assine a EXAME e fique por dentro das principais notícias que afetam o seu bolso.

O julgamento da segunda fase começou nesta quarta-feira, com o voto do relator, Aroldo Cedraz, e deve ser retomado somente a partir de 11 de maio. O voto de Cedraz foi a favor da privatização, desde que o governo reveja o preço mínimo por ação a ser ofertada ao mercado. O BNDES deve revisar a metodologia usada ao precificar as ações.

No início da sessão, o ministro Vital do Rêgo pediu 60 dias de vista para a análise do caso, mas o prazo precisaria ser aprovado pelos outros ministros. O ministro Jorge Oliveira sugeriu sete dias. Sem consenso, Vital do Rêgo afirmou que aceitaria um prazo de 20 dias, que foi acatado pela presidente Ana Arraes. 

O adiamento da decisão esbarra nos planos do governo, que tinha a expectativa de privatizar a empresa até 13 de maio. O cronograma previa o fim da discussão no TCU até 27 de abril. O governo acredita que, se a privatização ficar para julho ou agosto, dificilmente o plano sairá do papel, devido à proximidade das eleições.

"A postergação da manifestação do tribunal vai impactar diretamente num cronograma, numa janela de oportunidades, para que esse negócios seja viabilizado", afirmou o ministro Jorge Oliveira.

O processo está no tribunal desde setembro de 2021. Em 15 de fevereiro, o TCU aprovou a primeira etapa da análise sobre a privatização da estatal, após avaliar o bônus de outorga que a empresa deverá pagar à União pela renovação de contratos das usinas.

Ao pedir vista, Vital do Rêgo argumentou que o voto foi incluído no sistema do TCU às 11h51 desta quarta-feira, dando pouco tempo para a avaliação. Ainda assim, o ministro apontou inconsistências no processo, que, segundo ele, precisam ser sanadas antes da conclusão do julgamento.

A primeira delas tem a ver com os investimentos previstos na Eletrobras com a privatização. Vital do Rêgo afirmou que os fluxos de caixa apresentados pelo BNDES nos últimos anos do período de privatização, até 2051, registram redução drástica de investimentos, até chegar a zero.

"Contudo, o discurso por trás da liquidação da Eletrobras é outro", apontou Vital do Rêgo. Ele lembrou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, informou que a privatização permitiria investimento de 15,7 bilhões de reais ao ano. 

"O que se percebe é que há uma evidente contradição entre o discurso para justificar a privatização, a garantia de novos investimentos, e os estudos apresentados ao TCU, que preveem ao final de 30 anos, a ausência completa de investimentos", disse o ministro.

Vital do Rêgo também apontou diferenças expressivas entre os cálculos das duas consultorias independentes contratadas pelo BNDES para avaliar a precificação das ações da Eletrobras. Ele ressaltou que, pela lei, quando há divergências acima de 20% quanto ao preço mínimo recomendado nas duas avaliações, é preciso contratar uma terceira consultoria, o que não foi feito.

A diferença apontada, a princípio, foi de 12,4%, abaixo de 20%, mas "foi possível observar que na avaliação do serviço B não foram considerados os efeitos de contingências exclusivas da holding Eletrobras na ordem de 30 bilhões de reais", afirmou o ministro. "Trata-se, portanto, de ilegalidade no estudo apresentado pelo serviço B", sustentou.

Quando esse patamar é normalizado, a divergência entre os preços mínimos supera os 20%, chegando a 60%, segundo Vital do Rêgo. Ele citou exemplos: na Eletrosul, o valor obtido por uma das consultorias foi 40% menor do que pela segunda. Em Furnas, a diferença foi de 25%. E, na Eletronorte, de 35%.

"Isso levaria à exigência de uma terceira consultoria, porque não estamos falando a respeito de coisas abstratas, estamos falando de linhas de transmissão, prédios físicos, ativos que são de pedra e cal. Como uma consultoria com critérios pré-determinados oferece tanta disparidade entre a outra?", questionou o ministro.

Outra inconsistência apontada pelo ministro é que, desde 2010, a Eletronuclear, controlada pela Eletrobras, deixa de pagar os dividendos oriundos da distribuição de lucros. A soma chega a 2,7 bilhões de reais, segundo ele. "Esse valor deveria aparecer no passivo demonstrativo contábil da Eletronuclear como valor a pagar, e no contábil da Eletrobras como valor a receber", disse.

Vital do Rêgo ressaltou que a modelagem de privatização da Eletrobras consiste em quitar os dividendos não pagos com recursos oriundos de novas ações. "Esses erros deveriam ter sido consertados conforme normativo da Aneel e da CVM. As demonstrações financeiras da Eletrobras e da Eletronuclear contêm erros que maculam o preço mínimo da ação da Eletrobras", argumentou.

A capitalização da Eletrobras será feita pela venda de ações ordinárias na bolsa de valores, de forma a diluir a participação da União, que deixará de ser acionista majoritária. Pelos cálculos do governo, a privatização renderá 67 bilhões de reais.

Últimas Notícias

ver mais
Preço da gasolina deve aumentar com nova cobrança de ICMS
Economia

Preço da gasolina deve aumentar com nova cobrança de ICMS

Há 7 horas
Caged: Brasil abre 180 mil vagas com carteira assinada em abril
Economia

Caged: Brasil abre 180 mil vagas com carteira assinada em abril

Há 8 horas
Gás de cozinha sobe em nove estados, mesmo com redução de preços da Petrobras a distribuidoras
Economia

Gás de cozinha sobe em nove estados, mesmo com redução de preços da Petrobras a distribuidoras

Há 11 horas
Brasileiros usam cada vez menos dinheiro em espécie, diz Banco Central
Economia

Brasileiros usam cada vez menos dinheiro em espécie, diz Banco Central

Há 12 horas
icon

Branded contents

ver mais

Conteúdos de marca produzidos pelo time de EXAME Solutions

Exame.com

Acompanhe as últimas notícias e atualizações, aqui na Exame.

leia mais