Economia

Os mercados amam Narendra Modi, o novo líder indiano

A vitória arrasadora de Narendra Modi anima o mercado com a expectativa de reformas e aceleração do crescimento, mas seu currículo não é livre de manchas


	Narendra Modi durante evento da campanha em fevereiro de 2014
 (Vivek Prakash/Bloomberg)

Narendra Modi durante evento da campanha em fevereiro de 2014 (Vivek Prakash/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 22 de maio de 2014 às 11h32.

São Paulo - Não é nada fácil organizar uma eleição em um país com mais de 1 bilhão de pessoas, mas a Índia conseguiu.

A votação durou cinco semanas e a contagem ainda não acabou, mas já é possível concluir que Narendra Modi, de 63 anos, será o novo primeiro-ministro do país.

Seu partido, o nacionalista hinduísta Bharatiya Janata Party (BJP), deve superar com folga as 272 cadeiras necessárias para obter maioria no Parlamento.

É a maior vitória de qualquer partido no país nos últimos 30 anos e um duro golpe para a família Gandhi, que domina a política indiana desde a independência em 1947.

Os mercados financeiros reagiram com euforia: nos primeiros momentos após o anúncio, a bolsa indiana subiu 6% e atingiu o maior nível da sua história, enquanto a rúpia teve sua maior forte cotação em relação ao dólar dos últimos 11 meses.

E o otimismo não é de hoje. Nos últimos 6 meses, os investidores despejaram US$ 16 bilhões em ações e títulos indianos, apostando na vitória de Modi.

Expectativa

A esperança dos investidores é a mesma dos votantes: a de que Modi será capaz de injetar novo ânimo na economia indiana.

Depois de atingir taxas entre 8% e 10% em meados da década passada, o crescimento do país caiu pela metade recentemente (4,7% em 2012 e 4,5% em 2013).

Parece até um bom número, mas não para a Índia, que precisa crescer 8% ao ano só para absorver os 1 milhão de habitantes que entram todo ano na força de trabalho. O país também tem uma das maiores taxas de inflação do mundo.

Com uma campanha cara e moderna, Modi conseguiu canalizar a frustração da população e prometeu construir dezenas de cidades, limpar o rio Ganges e inaugurar o primeiro trem-bala do país (a China é uma inspiração óbvia).

Currículo

Nos seus 12 anos como governador da província de Gujarat, ele ganhou a fama de um reformador pró-negócios capaz de diminuir a burocracia e atrair investimentos estrangeiros.

Seu bem-sucedido programa de eletrificação da província chamou a atenção em um país no qual um terço da população ainda não está ligada à rede. Gujarat cresceu a uma média de 16,6% por ano entre 2001 e 2010.

Seus críticos dizem que a província já vinha em uma trajetória ascendente mesmo antes da chegada de Modi ao governo e que outras regiões do país tiveram performances ainda melhores sem atrair uma fração da mesma euforia. Eles também apontam que os resultados sociais não acompanharam o ritmo das melhoras econômicas.

A maior preocupação, no entanto, é com o histórico de intolerância de Modi e seu partido. Ele já era governador quando tensões étnicas em Gujarat culminaram na morte de mais de mil indianos, na sua maioria muçulmanos, em 2002.

A polícia foi acusada de não controlar a revolta e alguns anos depois, os Estados Unidos chegaram a negar o visto para Modi. A Suprema Corte do país o eximiu de qualquer responsabilidade, mas o episódio continua sendo uma mancha no seu currículo e na história do país.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaCrescimento econômicoDesenvolvimento econômicoEleiçõesHindusÍndiaIslamismoNarendra Modi

Mais de Economia

Pedro Nery: "Como aceitar taxa de extrema pobreza de 4% se Bolsa Família tem R$ 170 bilhões?"

Alckmin diz que acordo União Europeia-Mercosul vai aumentar o PIB e derrubar a inflação no Brasil

BNDES levanta R$ 9 bi na primeira emissão de LCDs, novo título de renda fixa

STF forma maioria para validar contrato intermitente criado com a reforma trabalhista