Economia

Nacionalização na Bolívia ameaça política externa de Lula

Maior economia da América do Sul é dominada pela agenda da nação mais pobre da região, afirma Financial Times

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h13.

Maior que os prejuízos causados à Petrobras pela nacionalização do setor energético boliviano, serão as perdas da diplomacia brasileira após esse episódio. A percepção de que os arranhões causados pela indecisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no episódio e pelo fortalecimento de Hugo Chávez, seu colega venezuelano, como a maior liderança sul-americana já é sentida pelo corpo diplomático do Brasil. "Toda a nossa política externa está ameaçada", afirmou um negociador brasileiro ao jornal britânico Financial Times.

A principal preocupação dos observadores estrangeiros é quanto ao rumo que Lula dará às relações internacionais após a nacionalização promovida pelo presidente boliviano Evo Morales em 1º de maio. Até então, Lula tentou se apresentar como uma terceira via entre o pragmatismo econômico da centro-esquerda que governa o Chile e o Uruguai, e o populismo radical da Venezuela e da Bolívia. Sua receita era mesclar ortodoxia econômica com preocupações sociais.

Além disso, há dúvidas sobre a capacidade de o Brasil manter sua insistência em assumir a liderança política da América do Sul, tônica do Itamaraty sob o governo Lula. De acordo com Peter Hakim, especialista em relações internacionais do centro de estudos Inter-American Dialogue, antes do governo petista, o foco da diplomacia brasileira era promover o desenvolvimento interno, por meio da atração de investimentos estrangeiros, e manter uma política de boa vizinhança com os países da região. "A liderança era sempre uma parte dos objetivos, mas, sob Lula, a liderança tornou-se um fim em si mesmo, mais do que uma ferramenta para outros interesses", afirmou Hakim.

Maior economia da América do Sul, o Brasil porém viu-se constrangido ao papel de reagir a uma agenda ditada pelo país mais pobre da região, a Bolívia, durante a 4ª Cúpula da América Latina e Caribe-União Européia. Há duas dúvidas sobre o rumo do país, agora: a que grupo de nações sul-americanas o Brasil se alinhará e o que fará com sua ambição de liderar a região.

"É um quebra-cabeças para Lula. Não está claro ainda o que ele obterá em constantes encontros com gente como Chávez, erguendo seus braços em sinal de vitória. Por que Lula não trata o Chile e o Uruguai do mesmo modo?", observa Hakim. Segundo FT, dada a trajetória de Lula, que começou como líder sindical e defensor de medidas muito parecidas com as adotadas por Chávez e Morales, o que ainda preocupa os investidores é se o pragmatismo econômico e político adotado por Lula é apenas uma conveniência de momento ou uma convicção real. As dúvidas crescem ainda mais, quando se considera o rumo que Lula poderia tomar em um eventual segundo mandato.

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