Economia

Juros altos ajudam o país a acabar com o fantasma da dívida externa

Nunca a dívida externa brasileira, em relação ao PIB, foi tão baixa. O cenário internacional contribuiu, mas a política de juros altos (quem diria) também

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h14.

O fantasma da dívida externa, que nos anos 80 rondou a economia brasileira, já não assusta mais. O passivo do governo e de empresas nacionais com credores estrangeiros é o mais baixo dos últimos anos, quando comparado ao Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, essa proporção é de 21% - a menor desde 1975. Grande parte dessa dívida tem sido abatida nos últimos anos, graças, entre outros motivos, aos juros altos.

"Reduzir a dívida externa tem sido um feito desse governo, mas a um preço: as maiores taxas de juros do mundo", diz o professor de economia da PUC-SP, Antônio Correa de Lacerda. Em sua opinião, nem por isso o governo Lula deixa de ter seu mérito. Ou seja, o Ministério da Fazenda conseguiu mudar completamente o perfil da dívida brasileira.

As dívidas de curto prazo, consideradas as mais caras para o bolso do governo, além de arriscadas para o investidor estrangeiro, representam menos de 10% do total do passivo externo brasileiro. Isso porque o Tesouro Nacional vem atuando na compra desses títulos, alongando a dívida, além de torná-la mais barata para as contas do governo.

A redução da dívida externa, no entanto, não é apenas fruto da competência da equipe econômica. "A economia mundial vive um boom há quatro anos. E é isso que leva a economia brasileira nas costas", diz o economista Alberto Furuguem, ex-diretor do Banco Central. Ele lembra que o PIB mundial vem crescendo a uma média de 4% nos últimos anos, acima da média histórica. O crescimento mundial gera liquidez, que por sua vez aumenta a procura por ativos, entre eles títulos de países emergentes.

"Não é apenas o Brasil que está mudando o perfil de sua dívida. Todos os emergentes estão aproveitando o bom momento, muitos até melhor do que o Brasil", diz o economista. Segundo ele, a questão principal é saber o que o governo brasileiro fará quando a boa maré passar. "O pagamento da dívida externa é sempre bem-vindo, mas é preciso ter uma política que não dependa apenas da economia internacional", afirma Furuguem.

Sai a externa, entra a interna

Os juros altos, que atraem o investidor para os papéis brasileiros, têm um outro efeito colateral: o crescimento da dívida pública interna. No ano passado, esse montante foi de 979 bilhões de reais, contra 810 bilhões de reais em 2004. Como a maior parte dessa dívida (cerca de 53%) é atrelada à Selic (a taxa básica de juros, determinada pelo Banco Central), quanto maior forem os juros no Brasil, maior será o valor devido pelo governo.

O problema de qualquer dívida é que, quando ela atinge um nível elevado, os credores passam a olhar o devedor com desconfiança. Podem, por exemplo, deixar de emprestar. De acordo com Lacerda, entretanto, a dívida pública interna é bem menos preocupante do que uma dívida externa elevada. "No primeiro caso, o Banco Central tem mais autonomia para atuar, mexendo na base monetária [como, por exemplo, emitindo mais papel-moeda para pagar os credores]", diz o professor da PUC. "Apesar dos juros altos e da dívida pública interna, acredito que estamos no caminho certo.".

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