Economia

Investimentos em infraestrutura devem crescer no Brasil, mas falta planejamento

Apesar da alta estimada nos investimentos, cresce também o número de projetos anunciados sem data de início das obras; execução depende de vontade e prioridade política

Obras de escavação do metrô de São Paulo (Germano Lüders/EXAME.com/Exame)

Obras de escavação do metrô de São Paulo (Germano Lüders/EXAME.com/Exame)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 14 de fevereiro de 2021 às 09h00.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2021 às 12h06.

Mesmo com um cenário político e econômico desfavorável, os investimentos em obras de infraestrutura e indústria no Brasil devem totalizar 71,2 bilhões de reais no período de 2021 a 2026 - um crescimento estimado de 24,7% comparado ao período de 2020 a 2025. Os números são do estudo "Perspectivas do Mercado de Infraestrutura 2021 - 2026", da empresa de Big Data Analytics e Inteligência Artificial Neoway, cedido com exclusividade à EXAME, e contemplam obras em andamento com previsão de conclusão até o último ano do período indicado.

A alta desses números é puxada pelo setor de transportes e vias urbanas e pelo setor de energia, que respondem, respectivamente, por 40% e 30% do montante. As obras de parques eólicos, termoelétricas, metrôs e rodovias concentram a maioria dos investimentos. "No setor de energia, os investimentos continuam convergindo para energia eólica, que cresce continuamente como matriz energética do país", aponta o relatório.

Mesmo durante a crise do coronavírus, os governos não chegaram a cancelar nem postergar grandes projetos - o que ajuda a entender o crescimento dos números mesmo em um cenário adverso, como explica Jamila Rainha, gerente de produtos da Neoway, que monitora as construtoras e obras do segmento imobiliário, infraestrutura e industrial com abrangência nacional.

"Há para este período uma previsão de obras de grande porte como as do Metrô de São Paulo - a extensão da linha 2 Verde até a Penha -, que está autorizada pelo governo do estado e tem previsão de entrega entre 2025 e 2026", explica a executiva. "Outros exemplos de fatores que contribuem são projetos como da linha Laranja do Metrô e grandes projetos industriais na área de papel e celulose, que continuam impulsionando investimentos nesse setor."

Apesar de algumas dessas obras estarem em um estágio inicial e dependerem de uma complexidade de fatores para ser executada no período previsto, o que o estudo leva em consideração é a projeção de conclusão.

Muitos projetos e intenções, mas pouco planejamento e execução

O relatório aponta também um aumento de 14% nas intenções de investimentos anunciados para o período de 2021 a 2026, totalizando R$ 882,3 bilhões. Apesar dos números expressivos, apenas 8% dessas obras em fase de projeto e intenção tem uma previsão de início - percentual que vem aumento ao longo do anos -, o que significa que o montante de investimento em jogo é real, mas a execução depende de vontade, prioridade política e planejamento estratégico.

A divulgação de previsão de início da obra indica, mesmo que de forma imprecisa, que esse projeto consta no planejamento governamental, tendo, assim, maior probabilidade de ser executada. Um aumento no número de projetos anunciados sem data de início demostra que os sucessivos governos mantêm a propensão de divulgar novos projetos de obras de infraestrutura pelo país sem planejamento estratégico e cronogramas de execução.

Jamila Rainha, gerente de projetos da Neoway

Assim como nas obras em andamento, o setor de transportes e vias urbanas deve concentrar as intenções de investimento (48,3%), seguido do setor energético (20,9%) e da indústria (26,9%), este último puxado pelos aportes planejados na área de papel e celulose.

Tanto em relação às obras em andamento quanto aos projetos e intenções, a região Sudeste concentra a maioria dos investimentos - puxada pelo Estado de São Paulo -, seguida do Nordeste (que concentra metade dos investimentos em projetos de geração de energia) e do Sul do país.

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