Fed anuncia decisão sobre juro e estímulo nesta quarta; veja o que esperar
Por Craig Torres e Olivia Rockeman*
Os primeiros quatro anos de Jerome Powell como presidente do banco central dos Estados Unidos foram marcados pela façanha de salvar a economia de um desafio histórico como a pandemia. Seu segundo mandato -- e legado -- à frente do Federal Reserve será definido pelo esforço para salvar a economia americana de um superaquecimento.
Powell e seus colegas no Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), que decidem e anunciam nesta quarta-feira, dia 26, a decisão sobre a taxa de juros e o programa de estímulos, tentam debelar a maior inflação em uma geração sem interromper os ganhos do mercado de trabalho.
A decisão será anunciada às 16h de Brasília, com a habitual entrevista coletiva de Powell na sequência, às 16h30.
Os riscos de errar nessa tentativa de pouso suave são grandes: um movimento muito rápido pode colocar a economia novamente em recessão, enquanto medidas muito lentas podem permitir que a inflação crie raízes.
O apoio emergencial de Powell aos mercados financeiros para enfrentar a disseminação da Covid-19 em 2020 ajudou a preparar o terreno para uma recuperação sólida em 2021. Sua destreza fez com que ele recebesse apoio dos dois grandes partidos do país e a nomeação do presidente Joe Biden para um segundo mandato.
Agora, “esse legado está sendo desafiado” por uma inflação muito alta e por uma resposta do Fed que, na visão de alguns economistas e analistas, está muito lenta, disse Tim Duy, economista-chefe da SGH Macro Advisors. “Vai ser difícil trazer a inflação de volta para a meta de 2% [ao ano]” rapidamente sem induzir uma recessão.
A expectativa dos mercados é que, após o término da reunião nesta quarta, as autoridades sinalizem um aumento da taxa básica de juros -- que está no intervalo entre zero e 0,25% -- em março.
Mas talvez Powell precise abrir caminho para mais acréscimos neste ano do que os três que foram sugeridos pelas previsões apresentadas em dezembro passado. Alguns analistas pedem que Powell indique a possibilidade de aumento potencial de juros em todas as reuniões se necessário.
Ele terá que equilibrar essa mensagem com o compromisso do Fed com uma nova estrutura que permita o aquecimento do mercado de trabalho em prol de ganhos abrangentes e inclusivos.
Há também a questão da fragilidade do mercado financeiro. O S&P 500 caiu 8,6% desde o fim do ano passado, em parte por causa do nervosismo em torno do aperto monetário.
Enquanto o líder do Fed se prepara para sua primeira entrevista coletiva do ano, críticos citam duas áreas em que uma maior clareza se faz urgente: o ritmo de aumentos de juros e o balanço patrimonial.
Um problema na comunicação do Fed é que as autoridades falam muito sobre seu cenário-base, mas não têm uma boa maneira de descrever a resposta coletiva a uma evolução rápida do cenário e atualizam suas previsões apenas uma vez por trimestre.
No momento, o cenário-base feito em dezembro não tem muita credibilidade, segundo Anna Wong, economista-chefe para os Estados Unidos da Bloomberg Economics.
A previsão do Fed é a de “desemprego caindo para 3,5% neste ano, abaixo da taxa sustentável de longo prazo, e permanecendo ali pelos próximos dois anos, mas ainda assim a inflação recuaria para 2,1% em 2024”, ressaltou.
Enquanto isso, as autoridades sinalizaram que a taxa básica de juros subiria para pouco acima de 2% -- sequer atingindo o que consideram território restritivo.
“Embora a palavra ‘transitória’ tenha sido aposentada [pelo Fed nos comunicados do FOMC], a previsão ainda sugere que as autoridades entendem que a inflação é impulsionada principalmente pela oferta e que desaparecerá por conta própria”, disse Wong, que espera cinco aumentos de juros pelo Fed neste ano.
(Com a Redação)