Economia

China vive transição política em clima pacífico _ até agora

A abertura da China comunista para a economia de mercado começou timidamente no início da década de 90. Foi conduzida pelo então chefe do Partido Comunista Chinês, Jiang Zemin, que acaba de deixar o comando há duas semanas, em uma transição até o momento sem expurgos nem revolta popular. "O processo chinês de abertura se […]

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h13.

A abertura da China comunista para a economia de mercado começou timidamente no início da década de 90. Foi conduzida pelo então chefe do Partido Comunista Chinês, Jiang Zemin, que acaba de deixar o comando há duas semanas, em uma transição até o momento sem expurgos nem revolta popular. "O processo chinês de abertura se desenvolveu a partir de 1992, quando se criou a economia socialista de mercado, ou o modelo capitalista chinês", diz Henrique Altemani, especialista em China da PUC-SP e do Núcleo de Relações Internacionais da USP.

A abertura para o mercado começou nos bastidores do Partido Comunista em 1989, ano de protestos e do massacre na Praça da Paz Celestial, em Pequim. "Enquanto o mundo via apenas o massacre, a esquerda radical do PC era derrotada no comit", diz Altemani. Jiang, que assumiu o comando do PC em 1989, com a saída de Deng Xiaoping, criou a doutrina das Três Representações, segundo a qual o Partido Comunista, até então representante de proletários e camponeses, passou também a abrigar o empresário. "A idéia de que é glorioso enriquecer foi decisiva para a China mudar sua postura", diz Altemani.

Mas Jiang deixou para o novo chefe do PC e futuro presidente Hu Jintao vários desafios. "A nova geração vai seguir as linhas atuais de abertura ao exterior", diz o embaixador Jiang Yuande. "Mas precisa abrir mais as portas do nosso país, promover novas reformas e melhorar a condição de vida do nosso povo". O maior problema de Hu será a adaptação às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). "As províncias são muito autônomas e é preciso que cada uma delas se enquadre às regras da Organização Mundial do Comércio", diz Altemani.

Para mudar, a China também precisará seguir o receituário dos demais países emergentes como o Brasil: fazer reformas bancária, tributária e fiscal e iniciar o processo de desestatização. "O dilema chinês é este: mudar o perfil do estatal para o privado vai gerar uma legião de desempregados", afirma Altemani. "Apesar da economia forte, crescendo a 7% ao ano, a China está um passo atrás em relação aos demais países emergentes." A reforma bancária talvez seja a mais complicada. O câmbio é fixo e controlado pelo Estado -- cada dólar vale 8 reinmimbi. "Na crise asiática, a China reconheceu a necessidade de desvalorização, mas não o fez para não aprofundar a crise mundial", diz Altemani.

Mesmo longe de ter feito a "lição de casa" dos países emergentes, a China atrai US$ 40 bilhões em capital estrangeiro produtivo pro ano. "Vale lembrar que 70% desse capital vem da diáspora chinesa, principalmente de Hong Kong, Taiwan e Cingapura. É um capital asiático que confia no governo chinês". Outro desafio à espera de Hu é equilibrar a abertura. "A China que cresce é a China costeira. É preciso expandir o crescimento para o interior e controlar a insatisfação das regiões que não estão dentro desse processo", diz Altemani. "Enquanto outros países comunistas, como a Rússia e Leste Europeu, tiveram tratamento de choque, a China está sendo coerente, protegendo a economia e tendo em mãos um estado forte."

Partido comunista sólido

Mas até quando deve durar a mão de ferro do PC, com controle da informação, desrespeito aos direitos humanos e regime de partido único? "A recente transição marcada pela calmaria, sem violência e expurgos, é mostra dessa força do PC", afirma Altemani. "Não há, na verdade, nenhum outro grupo que possa pleitear assumir o poder. Não há necessidade interna de mudar o partido". Nas pequenas cidades, porém, começa um tímido processo de democratização. Moradores escolhem seus representantes por eleição direta, prática permitida e incentivada pelo Partido Comunista. A classe média que surge e ganha legitimidade no interior do partido também pode pouco a pouco ampliar suas reivindicações políticas. "Mas é um processo muito lento. Até lá é vida longa ao Comitê do PC", diz o professor da PUC. Ainda prevalece a lógica chinesa: comunismo forte, mas com discurso e práticas econômicas capitalistas.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Pobreza atingiu 52,9% da população argentina no primeiro semestre

BC monitora impacto das bets na inadimplência, diz Campos Neto

Ipea revisa projeção de inflação pelo IPCA de 4% para 4,4% em 2024

Petrobras reduz em 9,1% preço do querosene de aviação