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Caxias do Sul

O DNA do empreendedorismo

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h12.

Imagine um lugar em que existe uma empresa para cada 14 pessoas. E onde, apesar da retração da economia, foram abertos 532 negócios entre janeiro e setembro deste ano -- no mesmo período de 2002 foram 481. O empreendedorismo parece estar no DNA dos 360 000 habitantes de Caxias do Sul, a metrópole da Serra Gaúcha, localizada a 130 quilômetros de Porto Alegre. Fundada por imigrantes italianos do Vêneto, da Lombardia e do Piemonte, que chegaram em 1875, Caxias transformou-se rapidamente num dos mais importantes pólos econômicos do sul do país. A vocação empreendedora dos caxienses gerou até uma anedota que circula entre os empresários locais. Segundo ela, quem nasce na capital costuma perguntar qual faculdade vai cursar e em qual empresa vai trabalhar. Já para os nascidos em Caxias, que abriga uma universidade com 32 000 alunos, a questão que se coloca é que negócio deverá abrir quando crescer. "Encontrei aqui um espírito empreendedor que não vi em outro lugar", diz José Rubens De La Rosa, paulistano que há seis anos é diretor-geral da Marcopolo, um dos maiores fabricantes mundiais de ônibus. "As pessoas fazem acontecer. É, talvez, uma das únicas cidades que não param no Carnaval."

A economia de Caxias caracteriza-se por uma enorme diversidade. Num ambiente em que as propriedades rurais são pequenas, a indústria predomina -- Caxias sedia cerca de 2 000 empresas de setores dinâmicos, como o automotivo, o metal-mecânico e o eletroeletrônico, que empregam 30 000 funcionários. Na contramão da economia brasileira, Caxias é uma cidade eminentemente industrial: suas fábricas respondem por 60% da riqueza local. No país, a indústria representa 33% do PIB.

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Produz-se praticamente de tudo no pólo regional liderado por Caxias, onde vivem 800 000 pessoas, formado por cidades como Bento Gonçalves, Farroupilha, Carlos Barbosa, Garibaldi e Flores da Cunha. A região é berço de nomes fortes do varejo, como Lojas Colombo e Lojas Arno. Abriga os QGs de empresas com atuação internacional, a exemplo da Marcopolo, da Randon e da Tramontina. É endereço de fabricantes de móveis do porte de Todeschini, Florense, DellAnno e Saccaro. Produz os vinhos nacionais mais conhecidos, como Miolo, Valduga, Salton e Aurora. "A diversificação deixa a região menos suscetível ao sobe-e- desce da economia", diz Olívio Viecceli, diretor executivo da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul. "Aqui produzimos de parafusos a caminhões fora-de-estrada. Somos uma míni São Paulo."

Só em Caxias, há 25 000 empresas, que garantem 107 000 empregos com carteira registrada a seus moradores -- sem contar os das cidades vizinhas. Um punhado delas, como a Randon, fabricante de carrocerias para caminhões, com 5 200 funcionários, ou a Marcopolo, com 9 000, seria considerado grande em seus setores em qualquer lugar do mundo. Mas o que predomina mesmo na cidade são as micro e pequenas empresas, que constituem 98% dos negócios.

Por trás delas há um exército de empreendedores anônimos, como Gilberto Fonseca. Ele é dono da Perfiline, fabricante de perfis especiais de inox e aço carbono utilizados nos setores moveleiro, automotivo, de transportes e da construção civil. Em 2001, Fonseca, formado em engenharia mecânica, deixou para trás um emprego de 11 anos na Ghetal, empresa de equipamentos para a construção civil, para montar a Perfiline, de olho nas oportunidades geradas pela terceirização. "As empresas locais eram muito verticalizadas e começaram a repassar muitas de suas atividades", diz Fonseca. Hoje com 14 funcionários, a Perfiline deve dobrar de tamanho em relação ao ano passado, com receita de 1 milhão de reais. "Estava com 52 anos e resolvi aproveitar as oportunidades que Caxias oferece", afirma Fonseca.

Tão arraigada quanto o empreendedorismo é a vocação de internaciona lização das empresas caxienses. Em alguns casos, literalmente fincando filiais lá fora. Uma das pioneiras, a Marcopolo abriu sua primeira fábrica no exterior em 1991, em Portugal. Hoje seus ônibus são produzidos também no México, na África do Sul, na Colômbia e na China -- as receitas externas corresponderam no ano passado a 62% de seu faturamento de 1,5 bilhão de dólares. A Marcopolo fez escola: atualmente, as exportações representam 14% do faturamento das indústrias de Caxias -- a média nacional é 8%. Esse caminho é seguido por empresas de menor porte, como a Forma Inox, fabricante de utensílios para fondue e utensílios domésticos, dona de um faturamento anual de 15 milhões de reais. Com 70 empregados, automatizada e informatizada, a Forma Inox conta em seu portfólio com clientes até da Suíça, a pátria da fondue, atraídos pelo design de suas peças. "Já vendemos mais de 50 000 aparelhos de fondue aos suíços", diz José Antônio Weber, proprietário da Forma.

Inovação e design, por sinal, são duas palavras em voga no vocabulário dos empreendedores de Caxias. "Uma região exportadora não pode copiar", diz o arquiteto Paulo Bertussi, especialista em design industrial. Esse mandamento é seguido até por quem ainda não ultrapassou as fronteiras nacionais, como a Coza, que produz luminárias, artigos de decoração e utensílios domésticos de plástico. Durante muito tempo, a Coza investia apenas na funcionalidade de seus produtos. Essa situação começou a mudar há três anos, quando as irmãs Cristina, Daniela e Manuela, da segunda geração da família Zatti, controladora da empresa, assumiram o comando. A prioridade ao design deu frutos: da chegada da trinca à direção, a Coza já conquistou sete prêmios nacionais de design. Ao mesmo tempo, seu faturamento se multiplicou por 10, chegando aos 14 milhões de reais previstos para este ano. O número de empregados também cresceu -- de 25 para 70. "Já poderíamos estar exportando, mas ainda não damos conta do mercado interno", diz Daniela, responsável pela administração e comercialização da Coza.

CAXIAS DO SUL EM NÚMEROS
Área geográfica: 1 586 km2
População: 375 000 habitantes
Potencial de consumo per capita*: 3 136 dólares
Expectativa de vida: 74 anos
Mortalidade infantil: 13 por 1 000 nascimentos
IDH: 0,857 (é o 12º do Brasil)
Lei de Responsabilidade Fiscal: o município compromete 48,5% de
suas receitas com a folha do funcionalismo
Principais atividades: é o segundo pólo metal-mecânico do país, com fábricas
de material de transporte, mecânica e metalurgia, e o segundo pólo plástico
do estado. Concentra também empresas de madeira e mobiliário, têxtil e de
alimentos
Fontes: IBGE/Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias/Simonsen
Associados *Em 2002
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