Economia

Campos Neto afirma que reajuste nos preços da gasolina e diesel terá impacto de 0,40 p.p. no IPCA

A Petrobras informou que vai aumentar o preço dos combustíveis nas suas refinarias a partir de amanhã

Campos Neto: presidente do BC vê impacto na alta do combustível na inflação (Pedro França/Agência Senado/Flickr)

Campos Neto: presidente do BC vê impacto na alta do combustível na inflação (Pedro França/Agência Senado/Flickr)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 15 de agosto de 2023 às 15h25.

Última atualização em 18 de agosto de 2023 às 00h13.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira, 15, que o reajuste nos preços da gasolina e do diesel realizado pela Petrobras terá impacto na inflação e estima que ele possa afetar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 0,40 ponto percentual entre agosto e setembro.

"Hoje teve um aumento grande em combustíveis, que tem impacto na inflação. O impacto da gasolina [na inflação] é direto na cadeia. Ainda terá algumas revisões com o reajuste de hoje", disse Campos Neto, em evento na sede da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE).

A petroleira informou que vai aumentar o preço da gasolina e do diesel nas suas refinarias a partir de amanhã. O litro da gasolina passa de R$ 2,52 para R$ 2,93, um aumento de R$ 0,41 por litro. O diesel terá aumento de R$ 0,78 por litro e o preço médio de venda será de R$ 3,80 por litro. O aumento reduz a defasagem em relação ao mercado internacional e também o risco de faltar combustível no Brasil.

A previsão de Campos Neto acompanha a reação de analistas de gestoras e bancos. As estimativas variam, mas Luis Menon, economista da Garde Asset, avalia que o impacto no IPCA pode ser de 0,38 ponto percentual, dividido em 0,10 ponto em agosto e 0,28 ponto em setembro. Com isso, a gestora elevou suas projeções preliminares para de agosto (de 0,10% para 0,20%) e de setembro (de 0,19% para 0,47%). No ano, a casa aumentou a expectativa do IPCA de 4,6% para 4,8%.

Juros longos

Campos Neto afirmou que tentativas de se reduzir a Selic no passado em um processo pouco crível tiveram o efeito inverso, gerando aumento de juros. Ele alertou para o risco de se cortar os juros curtos e provocar uma elevação na curva de juros. "Se eu não consigo fazer uma queda de juros com credibilidade, eu não vou atingir meu objetivo. O objetivo da queda de juros é gerar liquidez", afirmou.

Para o presidente do Banco Central, sem credibilidade, uma queda da Selic vai afetar negativamente o ambiente econômico, piorando indicadores de crédito, emprego e atividade. Ele ainda reiterou que o País não terá juros e inflação baixos e estáveis se o lado fiscal estiver descontrolado. "Precisa ter as coisas alinhadas. É muito difícil imaginar juros baixos e estáveis, inflação baixa e estável, se isso (gastos do governo) não estiver controlado", disse.

Pouso suave na inflação

Campos Neto repetiu que o Brasil tem feito um "pouso suave" na inflação com pouco custo para o crescimento da economia. Ele voltou a citar as revisões para cima nas projeções para o produto interno bruto (PIB) em 2023.

Ele repetiu que há uma há "desancoragem gêmea" tanto nas estimativas do mercado para a inflação quanto para o resultado fiscal. Repetindo a apresentação feita na semana passada no Senado e em dois eventos em Curitiba, ele voltou a pontuar as dificuldades estruturais de se reduzir gastos públicos no País.

No começo do mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou o ciclo de afrouxamento monetário com uma queda de 0,50 ponto percentual dos juros básicos, para 13,25% ao ano, o que surpreendeu uma parte do mercado, que apostava majoritariamente em uma queda mais "parcimoniosa", de 0,25 ponto. O colegiado sinalizou ainda a manutenção do ritmo de cortes nas próximas reuniões.

Meta da inflação

O presidente do Banco Central disse que o Brasil é um dos poucos países com inflação encaixada para os próximos anos. "Quando olha expectativa de inflação, o Brasil é um dos poucos países com inflação encaixada em 2023, 2024 e 2025. Tem países com inflação desacelerando mais rápido, aqui está no intervalo da meta", afirmou.

Campos Neto avaliou que países avançados estão com desinflação mais lenta e citou como exemplo os Estados Unidos e Europa ainda subindo juros. Em contrapartida, ele frisou que Brasil e Chile desaceleram a inflação mais rápido entre os países emergentes.

O presidente do BC reiterou que o custo de desinflação no Chile está mais alto do que no Brasil, e ainda disse que a taxa de juro de 11% no Chile é muito alta, comparada com o Brasil.

Erro da Argentina foi desrespeitar a autonomia do BC, afirma Campos Neto

Questionado sobre a situação da Argentina, Campos Neto disse que o Brasil pode aprender com erros do país vizinho e citou como piores deslizes na condução da política econômica dos vizinhos o desrespeito à autonomia do Banco Central local, a mudança no regime de meta de inflação e ausência de ajuste fiscal. 

O presidente do Banco Central também criticou a tentativa de ajuste fiscal argentina. "O ajuste fiscal foi muito lento e, no final, não teve. Ele acabou com a percepção de falta de autonomia do BC e falta de regramento monetário, gerou uma inflação em espiral", disse.

Ele vê situação econômica delicada do país vizinho, com inflação descontrolada. "A Argentina está em situação complexa, com inflação rodando a 140%. Eles subiram os juros ontem [segunda-feira, 14] e a moeda desvalorizou, segue desvalorizando bastante", afirmou, no evento na sede da FPE.

Campos Neto ainda comentou que o resultado das eleições primárias do País, quando o populista de extrema direita Javier Milei foi o mais votado, reflete a preocupação da sociedade com a inflação. "O candidato que acabou se saindo melhor realmente atendeu ao apelo das pessoas de cuidar da inflação. Ele foi o único candidato que batia no tema de inflação. O que as pessoas hoje não aguentam mais na Argentina é a inflação", disse.

Questionado sobre a possibilidade de dolarização da economia argentina, ele disse que seria um processo complicado, já que o País tem reservas negativas de dólar. "É complicado sair. A que preço vou fazer essa dolarização?", ponderou.

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