Ação do BC no mercado cambial não influi, diz consultoria
Para a consultoria GRC Visão, recentes movimentos da moeda americana são explicados por fatores externos. Além disso, justificativa do Banco Central para atuar no mercado cambial não é convincente
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h12.
A compra de dólares por parte do Banco Central (BC) para elevar o nível das reservas internacionais é legítima. Entretanto, para a consultoria GRC Visão, essa não é uma justificativa que o BC pode apresentar com sinceridade. Em análise, a consultoria afirma que é desejável que o país tenha o maior nível possível de reservas para resistir melhor às instabilidades no mercado internacional. Mas os economistas da GRC duvidam que as compras do BC tenham realmente esse propósito. Aparentemente, a ação da autoridade monetária estaria voltada à sustentação da taxa de câmbio acima do patamar de 2,70 reais por dólar, a fim de favorecer as exportações e a geração de superávit comercial.
A cautela que uma recomposição de reservas denotaria não combina, no raciocínio da GRC, com as atuais condições "totalmente desfavoráveis" para a atuação do BC no mercado cambial. Ao trocar dólares por reais, o BC precisa retirar esses reais de circulação para não gerar novos focos de pressão inflacionária. A autoridade monetária enxuga a liquidez do mercado emitindo títulos, mas a expectativa dealtada taxa básica de juros sobrecarrega o custo financeiro das operações. Levá-las a cabo não é nada prudente.
Além disso, diz a consultoria, os fatores do mercado internacional se sobrepõem aos internos. O atual movimento de apreciação do câmbio está mais atrelado ao baixo nível das taxas de juros nas economias centrais do que ao movimento puro de oferta e demanda. Em outras palavras, logo que o BC interromper suas compras, o real volta a ganhar valor em relação ao dólar. Para que o dólar volte a se valorizar frente a uma série de moedas, como o euro e o iene, é preciso que haja elevação mais acentuada dos juros praticados nos Estados Unidos - algo que só deve ocorrer em meados de 2005, na avaliação da GRC.
A consultoria exemplifica sua tese com os dados da valorização do dólar ocorrida na quarta-feira passada (8/12) - mesmo sem qualquer movimento de compra pelo BC brasileiro. O que determinou o movimento do câmbio foram três notícias de fora, diz a consultoria: a inflação ao produtor nos Estados Unidos acumulou 5% nos últimos 12 meses, o maior resultado em 14 anos; a confiança dos consumidores americanos avançou mais do que o esperado; e os títulos do tesouro americano tiveram forte alta no leilão primário de 15 bilhões de dólares em papéis de cinco anos.
Tudo isso leva a crer que a recente desvalorização do real frente ao dólar não é sustentável, conclui a consultoria, e que a justiticativa do BC é "um tanto intrigante" (leia reportagem de EXAME sobre a taxa de câmbio).