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Por que é importante separar a conta pessoa física da conta pessoa jurídica

Além de dificultar a gestão financeira da empresa, a prática impede o acesso a serviços bancários voltados exclusivamente a empreendedores

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 (Towfiqu Photography/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 13 de fevereiro de 2023, 13h14.

Última atualização em 23 de março de 2023, 11h00.

Controlar o fluxo de caixa de uma empresa é um dos principais segredos para o sucesso e a prosperidade de um negócio. Empresas saudáveis chegam a projetar uma segurança de caixa que cobre de um a dois anos de operação, explica a investidora-anjo e mentora de empreendedores Patrícia Zanlorenci, CEO da Vellore Ventures. “Na pandemia, percebemos muito na prática a diferença que isso traz para a continuidade do negócio”, afirma. 

Quando o dono da empresa mistura as contas pessoais com as empresariais, ele começa a não ter mais visibilidade do caixa da sua empresa a curto e médio prazo, o que pode comprometer o pró-labore e os custos básicos da

operação. “Por isso, independentemente do tamanho da empresa, é importantíssimo cuidar do caixa, que é o coração do negócio”, alerta Zanlorenci.  “Se ele parar de bater, o risco de o negócio fechar é muito grande em um curto período de tempo, e todo o esforço feito para empreender é perdido.”

Riscos de misturar as contas PJ e PF

Erika Rodrigues, coordenadora de política de lavagem de dinheiro (PLD) no banco PAN, reitera que administrar as finanças pessoais e de uma empresa separadamente é o primeiro passo — e um dos mais importantes — para controlar melhor as receitas e alcançar seu sucesso profissional e pessoal. “Misturar receitas e despesas físicas e jurídicas compromete negativamente ambos os planejamentos financeiros”, afirma.

Quando há confusão entre a conta PJ e a conta da pessoa física, além de a prática dificultar a gestão financeira do empreendimento, outro problema pode surgir como o risco de ser barrado pela Receita Federal. 

Rodrigues explica que pessoas físicas e jurídicas pagam uma série de tributos diferentes. “Todo valor que for depositado na conta PF será checado pela Receita e, através de um cruzamento de dados, os valores transacionados podem ser interpretados como uma renda de profissional autônomo. Se isso acontecer, a aplicação de tributação deve ser diferente, podendo chegar a 27% de desconto no Imposto de Renda, além de tributar seu INSS como autônomo”, explica.

Por isso, ela é taxativa. “O melhor a se fazer é evitar que o dinheiro de seu negócio se misture com suas receitas e despesas pessoais desde o início. Para isso, criar contas bancárias diferentes, uma de pessoa física, outra de pessoa jurídica, é a melhor opção.”

Existe lei que obriga a abrir conta PJ?

Não existe uma lei que obrigue as empresas a ter uma conta pessoa jurídica, afirma a especialista do banco PAN. No entanto, a não bancarização do negócio pode acarretar no atraso de seu crescimento. Isso porque o empreendedor não irá se beneficiar de todos os itens que acompanham uma conta PJ, como:

  • Realizar a emissão de notas fiscais e boletos
  • Solicitar cartões de crédito e débito para empreendedores
  • Ter crédito para impulsionar o negócio
  • Ter acesso a maquininhas de cartão e outros serviços

“Todos esses diferenciais auxiliam a criar oportunidades de impulsionar o empreendimento, construindo credibilidade, segurança e expandindo as operações e produtos”, diz Rodrigues.

Prática afasta os investidores-anjo

Engana-se quem pensa que a confusão entre a conta PJ e contas pessoais se dá apenas entre microempreendedores, aqueles muito pequenos. “É muito comum ver startups em estágio inicial com esses problemas”, afirma Zanlorenci. “Nós sabemos que qualquer empresa demora a apresentar resultados, e é justamente nesse período de risco que muitos começam a querer usar o caixa da empresa para retirada de pró-labore, para cobrir o custo de vida anterior à vida de empreendedor.”

Qualquer investidor-anjo se preocupa com a saúde financeira da empresa para saber o índice de endividamento e a capacidade de honrar os

compromissos em curto, médio e longo prazo. 

Se a empresa não tiver uma boa gestão e não acompanhar indicadores para tomar decisões inteligentes, dificilmente saberá usar com inteligência o capital do investidor anjo, o que vai afastá-los da possibilidade de concretizar um aporte. 

“A clareza é essencial para ajudar a tomar decisões estratégicas para o negócio. Sem visibilidade, não é possível saber para qual direção a empresa está indo. É como se colocássemos um barquinho em alto mar e deixá-lo à deriva”, analisa Zanlorenci. “Os investidores-anjos estratégicos, que não só aportam recursos, mas também ajudam nas estratégias de negócio para que a empresa cresça, vão cobrar retorno sobre como seu capital está sendo utilizado e quanto saudável a empresa está.”

Como se organizar financeiramente

Zanlorenci diz que a organização financeira de um empreendedor já deve começar dentro de casa. “Se o empresário gerencia bem os seus recursos pessoais fará o mesmo com a própria empresa”, diz. “Ao saber o seu custo de vida ideal, colocará metas de vendas, lucro e caixa para a empresa e receberá o pró-labore ideal para seu custo de vida.”

Ela afirma que quem sabe calcular o próprio custo de vida em casa tem, geralmente, mais facilidade de trilhar o mesmo caminho na empresa.

Uma boa forma de dar um primeiro passo, recomenda a mentora, é definir metas de gastos máximos mensais, tanto na vida pessoal, quanto na empresa e, reservar, no mínimo, 10% do capital para investir. 

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