Consumo consciente: qual a hora certa de dar um cartão para o meu filho?
Especialistas apontam estratégias para despertar nas crianças e nos adolescentes o olhar para o consumo consciente. E mais: dizem como - e quando – a mesada pode ser interessante
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Ao dar um cartão de crédito à criança, é importante estabelecer regras e limites claros e acompanhar o uso do dinheiro, aplicando consequências caso as regras sejam quebradas e os limites ultrapassados (Francesco Carta fotografo/Getty Images)
Publicado em 17 de novembro de 2022, 18h40.
Última atualização em 17 de novembro de 2022, 23h54.
O consumo consciente é algo que deve fazer parte até da rotina das crianças. Afinal, os pequenos também são consumidores, seja adquirindo algo na cantina da escola, figurinhas na banca de jornal, ou até itens de maior valor, como uma bicicleta.
Mas é importante que fique claro que, ainda que sejam consumidoras, as crianças precisam que os adultos não só acompanhem de perto os gastos, como despertem nelas a importância do consumo consciente.
Maria Eduarda Ferraz, especialista da PROTESTE em defesa do consumidor, chama a atenção para mais uma questão: a exposição dos pequenos a propagandas, o que pode incentivar o consumo desenfreado.
Para ajudar famílias – e a garotada – a entender melhor os direitos do consumidor das crianças, a PROTESTE listou algumas dicas:
- Informações adequadas sobre consumo: para que a criança possa aprender a consumir de forma consciente, evitando a aquisição de produtos e serviços por impulso, é importante que o adulto a ajude a entender suas reais necessidades.
“Se a criança tiver interesse em comprar uma bicicleta, por exemplo, planeje a compra junto com ela e explique que planejamento financeiro é juntar dinheiro até ter o suficiente para comprar o que desejamos”, pontua Maria Eduarda.
- Proteção contra publicidade enganosa e abusiva: fique atento e ajude a criança a entender quando um produto ou serviço é anunciado de forma incorreta – um suco dizendo ser feito apenas com ingredientes naturais quando, na verdade, não é, por exemplo.
- Legislação respeitada: aliás, os fabricantes devem seguir a legislação e garantir o direito das crianças, sem se utilizar da vulnerabilidade dos pequenos. Já os pais devem se atentar para checar se os fabricantes seguem as normas estabelecidas pela legislação para produtos e serviços para crianças.
Mesada ajuda no consumo consciente?
Muitos pais optam por dar mesada (ou semanada) aos pequenos. Pode ser uma estratégia interessante para ajudá-los a se relacionar melhor com o dinheiro.
Para Larissa Machado, educadora parental e pedagoga, a idade certa para começar a dar mesada é quando os pais percebem uma capacidade mínima da criança de fazer pequenos cálculos de adição e subtração, por volta dos cinco ou seis anos.
“Se a criança ainda não tem essa capacidade, é positivo que os pais a acompanhem em pequenas compras, como ir junto na padaria e comprar o pão, comprar picolé na praia, comprar figurinha na banca, e essa mediação seja feita junto com a criança para que esse exercício vá acontecendo e ela vá lidando com essa experiência de compra, cálculo real, troco”, explica.
Cartão de crédito para criança: cuidados
Hoje em dia, alguns bancos oferecem a possibilidade de os pais oferecerem um cartão para os pequenos. Larissa diz que, nesse caso, o importante é acompanhar o uso. “Com o dinheiro na mão o adolescente vê acabando e tem uma noção concreta do seu gasto.
Com o cartão essa percepção real do quanto se está gastando não existe e esse limite fica mais abstrato”, explica. “Isso acontece com os próprios adultos. Por isso é muito importante ajudar nos processos de controle, em como a pessoa pode acompanhar o gasto e o saldo restante.”
Na visão de Larissa, mais que o recurso - dinheiro, cartão ou conta bancária -, é importante estabelecer regras e limites claros e acompanhar o uso do dinheiro, aplicando consequências caso as regras sejam quebradas e os limites ultrapassados. “Por isso a necessidade do acompanhamento bem de perto.”
Segundo a especialista, a mesada pode ser usada para a compra de itens supérfluos. “Claro que para cada família, com suas condições socioeconômicas distintas, o que é considerado supérfluo é diferente”, diz. “Mas não é positivo, por exemplo, dar mesada para comprar lanche, porque a criança ou adolescente pode ficar sem comer para usar o dinheiro para outra coisa.”
Ela alerta que a mesada também não deve ser usada para a compra de materiais de responsabilidade dos pais, como livros escolares, fardamentos, roupas necessárias. Mas a criança que quer um tênis de uma marca específica, quer um determinado jogo, que são supérfluos, ela deve juntar sua mesada, esperar ter a quantia suficiente e comprar com as suas próprias economias, ensina a especialista.
Mesada condicionada é correta?
Tem pais que condicionam a mesada a boas notas. “Essa é uma boa discussão”, diz Larissa. “Tem que faça isso, mas eu penso que ter boas notas, assumir as suas responsabilidades, cumprir suas atividades de estudante não deveria ser associado a um benefício externo, a uma premiação, e sim a uma obrigação natural, a motivação interna de cumprir com as suas responsabilidades e isso precisa ser uma cultura”, afirma. “Quando condicionamos o cumprimento de obrigações que deveriam ser naturais ao filho, como forrar a cama, lavar o prato, fazer o dever de casa, estudar, estamos estimulando a fazer essas coisas não pelo senso de comunidade, de cooperação e de responsabilidade (motivações internas), mas pelas recompensas.”
A mesada, quando concedida, precisa vir associada a regras claras, diz Larissa. O que pode estar associado a ela é o uso do dinheiro. Por exemplo, se um adolescente não está cumprindo com as suas obrigações escolares, ele não pode usar o dinheiro da mesada para ir a uma festa. O direito de ir à festa só é adquirido com o cumprimento do dever. Mas a mesada continua sendo dada e o filho guarda para usar quando for possível. “Por isso, as regras e acordos precisam estar muito bem estabelecidos e claros.”
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