Por que as mulheres são hoje maioria entre os endividados?
Economista explica as principais razões do endividamento feminino e dá dicas de como mudar o comportamento para não cair na inadimplência
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Sete em cada dez famílias comprometem pelo menos 10% da renda com dívidas, segundo CNC; mulheres são as que mais estão devendo (Israel Sebastian/Getty Images)

Publicado em 29 de março de 2023, 07h30.
O perfil da pessoa com dívida no Brasil é uma mulher, de menos de 35 anos, que não terminou o ensino médio e tem renda familiar de até dez salários mínimos – é o que constatou a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores (PEIC), realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).
“Com mais mulheres chefes de família e contribuindo para o orçamento doméstico, responsável por um conjunto maior de despesas, é natural que haja uma alta no endividamento feminino”, comenta Izis Ferreira, economista responsável pelo levantamento.
No último mês, segundo a especialista, a proporção de famílias brasileiras devendo cresceu – 78,3% têm algum tipo de dívida – e o aumento foi puxado principalmente pelo grupo das mulheres. “Mais consumidoras se endividaram em fevereiro, enquanto que entre os homens o número caiu. Temos 79,5% de mulheres endividadas e 77,2% de homens na mesma situação”, diz.
Cartão de crédito concentra maior parte das dívidas femininas
O cartão é a modalidade de crédito preferida do público feminino e onde essa parcela da população mais está se endividando. Hoje, há mais mulheres devendo no cartão do que homens, especialmente por essa ser uma opção que não necessita de bancarização nem aprovação de crédito.
Dada a realidade das mulheres, que têm menor participação no mercado de trabalho formal, o cartão é a alternativa mais fácil e rápida. “São mais mulheres na informalidade e no trabalho por conta própria, devido ao acúmulo de funções desempenhadas. Isso gera uma maior volatilidade da renda, com menor previsibilidade, por isso elas acabam optando pelo cartão de crédito”, explica Izis.
A cada R$ 1.000, o brasileiro gastou, em média, R$ 302 com o pagamento de dívidas em 2022
Fonte: CNC
Depois do cartão, as dívidas femininas se concentram em carnês de lojas e no crédito consignado. Aliás, na comparação com os homens, uma proporção cada vez maior de mulheres tem se endividado nessa última alternativa, o que indica que aparentemente estão repensando as condições do crédito que buscam.
“Ainda que se mantenha menor do que a masculina, houve uma alta da participação feminina no emprego com carteira assinada no último ano e, com ela, mais mulheres puderam optar pelo consignado, que é uma linha de crédito com taxas de juros menores, bem mais atrativas que o cartão, por exemplo”, pontua a economista da CNC.
Inadimplentes, porém mais preocupadas em pagar
O número de mulheres atrasando as dívidas também é maior: 30,3% atualmente, enquanto que essa porcentagem é de 29,1% entre os homens. Por outro lado, elas estão mais preocupadas com o pagamento dos compromissos em atraso.
Uma vez inadimplente, a mulher procura resolver o problema de forma mais rápida. Ela leva em média 62 dias para quitar um pagamento atrasado, ao passo que o tempo médio do homem é de 64 dias, o que em um contexto de juros elevados, faz muita diferença.
Como se organizar financeiramente? Veja 4 dicas
Considerando o contexto das brasileiras endividadas, algumas atitudes são essenciais para organizar as finanças e não ficar inadimplente. Veja as dicas de Izis Ferreira:
1. Monitore as despesas, principalmente as pequenas, do dia a dia
“Não tem bala de prata, uma solução única que vai resolver o problema, mas controlar os gastos é o primeiro passo quando se busca uma melhora do fluxo de caixa da família. Não dá para fugir disso. É nos pequenos gastos do dia a dia que o dinheiro vai pelo ralo sem a gente perceber”.
2. Avalie o tipo de crédito que está usando
“Mais do que a dívida em si, é preciso analisar a qualidade dessa dívida. A maioria das mulheres deve no cartão e em carnês de lojas, que são os mais caros. Com mulheres desempenhando diversos papéis ao mesmo tempo, realmente às vezes é difícil fazer boas escolhas, ou por falta de conhecimento ou uma necessidade emergencial. Mas é fundamental buscar informação sobre os tipos de crédito, juros e condições de pagamento”.
3. Coloque um lembrete no cartão para evitar compras por impulso
“Uma dica para quem usa muito o cartão de crédito é ter um lembrete com o valor da fatura em aberto – pode ser uma etiqueta –, no cartão físico principalmente. Isso costuma fazer com que a pessoa repense essa compra, especialmente se for por impulso”.
4. Esforce-se para mudar sua mentalidade
“Nada vem sem esforço, por isso é necessário aprender a dizer não para anseios e vontades não essenciais e que podem esperar. É igual fazer dieta: quem quer melhorar sua relação com a alimentação e com o peso, precisa prestar atenção ao comportamento, reduzir calorias e alguns nutrientes. Para fazer uma ‘dieta financeira’, também é preciso dizer não para alguns hábitos”.
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