Como sair do ciclo das dívidas
Hoje educadora financeira, Simone Sgarbi se viu completamente endividada dez anos atrás e conta como deu a volta por cima
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A educadora financeira Simone Sgarbi, 49, do canal Investir, eu? (Simone Sgarbi,/Divulgação)

Publicado em 27 de março de 2023, 10h00.
Última atualização em 27 de março de 2023, 13h57.
Especialista em educação financeira, membro da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros, com formação na Fundação Getulio Vargas (FGV) e ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), Simone Sgarbi, 49, é criadora do canal Investir, eu? no Instagram, onde tem mais de 18 mil seguidores. Quem a vê hoje, assim, não pensa que ela mesma já se enrolou no ciclo das dívidas. E que foi justamente essa situação que a fez mudar de carreira.
Jornalista de formação, Sgarbi escolheu a faculdade pelo sonho de transformar o mundo em um lugar melhor por meio da informação. Mas, com o passar do tempo, ela descobriu a potência da educação financeira para melhorar a qualidade de vida das pessoas - tanto nos aspectos pessoais, como profissionais e sociais. “Meu primeiro contato com esse universo foi causado por uma necessidade pessoal, estava superendividada e precisava sair daquele fundo do poço”, conta em entrevista à EXAME. “Cresci em uma família na qual falar sobre dinheiro era tabu, meu pai se via como o provedor e isso não era assunto para se levar à mesa, ele não dividia suas angústias conosco. Na escola e na turma de amigos isso também não era pauta. Quando fiquei muito mal, com uma dívida milionária, comecei a procurar soluções e assim fui conhecendo e me encantando com esse universo conforme minha vida ia se transformando.”
Sgarbi diz que o conhecimento sobre educação financeira gerou uma sensação de renascimento, e a partir disso ela quis compartilhar essa experiência com mais pessoas, para ajudá-las também a sair do ciclo das dívidas. “Foi assim que decidi me profissionalizar na área e assumi difundir a educação financeira como missão de vida.”
Como acontece o endividamento
Sgarbi comenta que nós, brasileiros, somos consumidores de crédito. A maioria da população compra casa ou carro por meio de financiamentos ou consórcio e usa cartão de crédito, sem necessariamente ter como pagar a fatura total. Também é comum entrar no cheque especial ou tomar algum tipo de empréstimo para suprir alguma emergência ou desejo que não se quer adiar.
“Na minha vida pessoal tinha casa e carros financiados. Na minha vida de empreendedora não tinha capital de giro próprio e usava o crédito que o banco sempre me oferecia prontamente. Queria proporcionar a melhor formação educacional para meus filhos, o que na minha cabeça significava uma escola elitizada, o que gerava uma cascata de gastos altos”, relembra.
Como ela e o marido tinham crédito, por estarem em idade produtiva e ganhar bem, como ela mesma menciona, realizaram o sonho da casa própria também por financiamento. “Assim que a primeira crise forte se abateu os juros sobre juros começaram a corroer nossos salários, que ao cair na conta já pagavam direto altos juros bancários, e não conseguíamos sair dessa bola de neve”, explica. “Engordei muitos quilos, me afastei das pessoas, fiquei mais irritada, menos criativa, enfim, me senti no fundo do poço. O que eu achava que era uma maneira normal de viver, cobrindo um santo e descobrindo o outro, correndo sempre atrás do dinheiro, me mostrou de uma maneira violenta o quanto aquilo não era saudável. Tive meu nome negativado na hora que mais precisei.”
Foi nesse momento que ela decidiu dar fim aquela angústia. “Parei de procurar uma luz no fim do túnel e fui atrás de uma luz dentro de mim mesma, que foi buscar conhecimento e definir metas bem claras para virar esse jogo”, diz.
Educação financeira se aprende
Quando começou a buscar cursos de educação financeira, Sgarbi estudava para encontrar formas de sair do endividamento pessoal e foi se encantando por aquilo. “Assuntos dos quais eu fugia porque pareciam tão complexos começaram a ficar simples. Assuntos que eu achava que eram só para rico, descobri que eram para todos”, afirma.
“Quando descobri a psicologia econômica e entendi que ter uma relação saudável com o dinheiro é 80% comportamento e 20% conhecimento, decidi nunca mais parar de estudar sobre o assunto.”
A especialista é categórica: conhecimento só é poder quando colocado em prática. “As horas de estudo formaram uma base sólida, mas foi a paciência, persistência e resiliência que fizeram com que encarasse a batalha de negociações intermináveis com credores; fizeram com que tivesse coragem de falar sobre dinheiro em família, reduzisse meu padrão de vida e descobrisse novas fontes de renda.”
Sgarbi conta que já faz algum tempo que não possui mais dívidas. Ela tem, sim, metas muito bem traçadas e paciência para realizá-las no momento certo. “Hoje tenho uma reserva financeira considerável para nunca mais precisar pegar dinheiro emprestado, a não ser que os juros que meu dinheiro esteja rendendo seja maior do que o quem quer me emprestar esteja cobrando.”
Dicas para sair do ciclo das dívidas
A primeira dica da educadora financeira é autoconhecimento. Segundo ela, é preciso entender seus gatilhos, o que faz você comprar algo ou deixar de comprar, quais são seus verdadeiros sonhos e do que está disposto a abrir mão para conquistá-los. “Os passos práticos são se libertar de tudo de negativo que pensa sobre dinheiro, revisitando suas experiências negativas e positivas com ele até então”, diz.
“Depois identificar exatamente onde você está, colocando no papel todas as suas entradas e saídas, além de fazer um levantamento detalhado de todas as suas dívidas, solicitando uma memória de cálculo ao credor; montar um plano de ação para reduzir despesas, renegociando as fixas e definindo metas para as variáveis; criar fontes de rendas variáveis e um plano de carreira bem definido. Por fim, aprender a investir para usar os juros a seu favor.”
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