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Depois da Olimpíada, novos desafios para o Rio

O fim dos Jogos Olímpicos encerrará também um longo ciclo de euforia que o país embarcou nos anos 2000. A região metropolitana do Rio de Janeiro foi fortemente afetada pela crise econômica atual, talvez por ter sido um dos principais focos de investimento do governo federal na última década. Após a festa é preciso arrumar […]

A CIDADE POR TRÁS DOS JOGOS: Se o Rio de Janeiro não achar sua nova vocação, o país inteiro sairá prejudicado / Pilar Olivares/ Reuters
DR

Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2016 às 11h15.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h06.

O fim dos Jogos Olímpicos encerrará também um longo ciclo de euforia que o país embarcou nos anos 2000. A região metropolitana do Rio de Janeiro foi fortemente afetada pela crise econômica atual, talvez por ter sido um dos principais focos de investimento do governo federal na última década.

Após a festa é preciso arrumar a casa, colocando o futuro da região novamente no centro do debate. O principal desafio será desenhar e pactuar uma agenda de desenvolvimento capaz de gerar emprego, renda e condição razoável de vida para seus 8 milhões de habitantes. Definir uma nova vocação econômica menos dependente dos ciclos de investimentos de programas do governo federal e das empresas estatais ali localizadas parece ser parte essencial desse desafio.

O vigor do capitalismo brasileiro, que até os anos 60 passava pelo Rio de Janeiro, hoje tem outros focos prioritários. A perda de parte da indústria de transformação e da praça financeira não foi substituída à altura por novos ramos de atividade econômica. Ainda que as promessas da indústria petroleira, na esteira do pré-sal, e os avanços do setor audiovisual sigam alentadores, não são suficientes para garantir a retomada econômica da região.

Ao mesmo tempo, como, com raras exceções, construir grandes plantas industriais nas megacidades deixou de ser competitivo, não faz mais sentido pensar em uma agenda industrial como eixo para o novo ciclo de desenvolvimento. O custo do terreno e das instalações, assim como as restrições ambientais e logísticas, inviabilizam uma aposta nessa direção. Por isso, já faz tempo que as cidades médias e pequenas do interior dos estados e de outras regiões do país têm atraído os investimentos do setor.

A região deverá achar sua nova vocação no campo dos serviços, principalmente aqueles de alto valor agregado. Entre os inúmeros segmentos possíveis temos o turismo, que ainda é subexplorado. A perda de apelo da cidade ao turismo de alta renda parece estar associada ao declínio da qualidade dos serviços e das condições urbanas para receber um público que exige mais sofisticação e conforto. Apesar dos avanços dos últimos anos, muitas melhorias devem ser feitas nos serviços de transporte, hotelaria e restaurantes para incentivar esse nicho, principalmente considerando turistas internacionais. É inegável o potencial do Rio no que tange a seu patrimônio natural, histórico, cultural e arquitetônico, que pode permitir à cidade competir com os melhores destinos do mundo. Mas, para isso, é preciso planejamento e investimento fora do calendário de grandes eventos.

Ainda em serviços, a cidade já é destaque em educação, principalmente universitária e de pós-graduação, e em pesquisa e inovação. Há bastante espaço para que o Rio de Janeiro se torne referência nacional e internacional no setor, podendo adotar a Cidade do Cabo como benchmarking. A capital legislativa da África do Sul está tendo razoável sucesso ao investir num projeto para se tornar um polo regional em educação. No caso do Rio de Janeiro, polos de inovação em áreas já associadas aos projetos de óleo e gás, além de biotecnologia e TI seriam fortes candidatos. Isso exigiria não só modernas instituições de ensino e pesquisa com oferta variada de cursos como também condições de vida atrativas, como facilidade de deslocamento, maior nível de segurança e programação cultural intensa.

Em vários sentidos o legado dos Jogos Olímpicos será positivo para esse debate, sendo os investimentos em transporte público e em renovação do centro histórico os melhores indicadores. As primeiras pesquisas sobre a imagem das Olimpíadas Rio 2016 mostram saldo positivo. As experiências dos turistas e a impressão dos bilhões de telespectadores resultaram, ao que tudo indica, mais favoráveis do que desfavoráveis, mas infelizmente são insuficientes para redefinir o dinamismo e os rumos de desenvolvimento da cidade para as próximas décadas. Além disso, os gastos feitos e as dívidas contraídas, as obras inacabadas ou os projetos que simplesmente não vingaram ainda seguirão por um bom tempo como um fardo para a cidade e para o país.

A viabilidade econômica e social do Rio de Janeiro não é um problema apenas de cariocas e fluminenses. Se o Rio de Janeiro não achar sua nova vocação, o país inteiro sairá prejudicado. Dadas a importância estratégica e suas dimensões, é impossível pensar um futuro vigoroso para o país que não passe também pela cidade maravilhosa.

sennesficha

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O fim dos Jogos Olímpicos encerrará também um longo ciclo de euforia que o país embarcou nos anos 2000. A região metropolitana do Rio de Janeiro foi fortemente afetada pela crise econômica atual, talvez por ter sido um dos principais focos de investimento do governo federal na última década.

Após a festa é preciso arrumar a casa, colocando o futuro da região novamente no centro do debate. O principal desafio será desenhar e pactuar uma agenda de desenvolvimento capaz de gerar emprego, renda e condição razoável de vida para seus 8 milhões de habitantes. Definir uma nova vocação econômica menos dependente dos ciclos de investimentos de programas do governo federal e das empresas estatais ali localizadas parece ser parte essencial desse desafio.

O vigor do capitalismo brasileiro, que até os anos 60 passava pelo Rio de Janeiro, hoje tem outros focos prioritários. A perda de parte da indústria de transformação e da praça financeira não foi substituída à altura por novos ramos de atividade econômica. Ainda que as promessas da indústria petroleira, na esteira do pré-sal, e os avanços do setor audiovisual sigam alentadores, não são suficientes para garantir a retomada econômica da região.

Ao mesmo tempo, como, com raras exceções, construir grandes plantas industriais nas megacidades deixou de ser competitivo, não faz mais sentido pensar em uma agenda industrial como eixo para o novo ciclo de desenvolvimento. O custo do terreno e das instalações, assim como as restrições ambientais e logísticas, inviabilizam uma aposta nessa direção. Por isso, já faz tempo que as cidades médias e pequenas do interior dos estados e de outras regiões do país têm atraído os investimentos do setor.

A região deverá achar sua nova vocação no campo dos serviços, principalmente aqueles de alto valor agregado. Entre os inúmeros segmentos possíveis temos o turismo, que ainda é subexplorado. A perda de apelo da cidade ao turismo de alta renda parece estar associada ao declínio da qualidade dos serviços e das condições urbanas para receber um público que exige mais sofisticação e conforto. Apesar dos avanços dos últimos anos, muitas melhorias devem ser feitas nos serviços de transporte, hotelaria e restaurantes para incentivar esse nicho, principalmente considerando turistas internacionais. É inegável o potencial do Rio no que tange a seu patrimônio natural, histórico, cultural e arquitetônico, que pode permitir à cidade competir com os melhores destinos do mundo. Mas, para isso, é preciso planejamento e investimento fora do calendário de grandes eventos.

Ainda em serviços, a cidade já é destaque em educação, principalmente universitária e de pós-graduação, e em pesquisa e inovação. Há bastante espaço para que o Rio de Janeiro se torne referência nacional e internacional no setor, podendo adotar a Cidade do Cabo como benchmarking. A capital legislativa da África do Sul está tendo razoável sucesso ao investir num projeto para se tornar um polo regional em educação. No caso do Rio de Janeiro, polos de inovação em áreas já associadas aos projetos de óleo e gás, além de biotecnologia e TI seriam fortes candidatos. Isso exigiria não só modernas instituições de ensino e pesquisa com oferta variada de cursos como também condições de vida atrativas, como facilidade de deslocamento, maior nível de segurança e programação cultural intensa.

Em vários sentidos o legado dos Jogos Olímpicos será positivo para esse debate, sendo os investimentos em transporte público e em renovação do centro histórico os melhores indicadores. As primeiras pesquisas sobre a imagem das Olimpíadas Rio 2016 mostram saldo positivo. As experiências dos turistas e a impressão dos bilhões de telespectadores resultaram, ao que tudo indica, mais favoráveis do que desfavoráveis, mas infelizmente são insuficientes para redefinir o dinamismo e os rumos de desenvolvimento da cidade para as próximas décadas. Além disso, os gastos feitos e as dívidas contraídas, as obras inacabadas ou os projetos que simplesmente não vingaram ainda seguirão por um bom tempo como um fardo para a cidade e para o país.

A viabilidade econômica e social do Rio de Janeiro não é um problema apenas de cariocas e fluminenses. Se o Rio de Janeiro não achar sua nova vocação, o país inteiro sairá prejudicado. Dadas a importância estratégica e suas dimensões, é impossível pensar um futuro vigoroso para o país que não passe também pela cidade maravilhosa.

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