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“O Brasil está ficando velho antes de ficar rico”

“O Brasil está ficando velho antes de ficar rico”, disse o economista Marcos Lisboa, no evento “As velhas e as novas faces da burocracia no Brasil”, que reuniu, nesta manhã, especialistas brasileiros em São Paulo. Segundo o economista, o Brasil precisa reavaliar suas políticas econômicas. “Uma boa maneira de fazer política pública má é dar estímulos sem avaliar o cenário”, disse o economista, atual diretor presidente do Insper. O debate […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 6 de agosto de 2015 às 16h19.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 07h58.

“O Brasil está ficando velho antes de ficar rico”, disse o economista Marcos Lisboa, no evento “As velhas e as novas faces da burocracia no Brasil”, que reuniu, nesta manhã, especialistas brasileiros em São Paulo. Segundo o economista, o Brasil precisa reavaliar suas políticas econômicas. “Uma boa maneira de fazer política pública má é dar estímulos sem avaliar o cenário”, disse o economista, atual diretor presidente do Insper. O debate foi promovido pelo Instituto Millenium e pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP).

Lisboa participou do painel “Burocracia e inovação”, junto com Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade Columbia, que falou sobre a importância das empresas se reinventarem. “Inovação não acontece apenas em ambientes corporativos, pode ocorrer em uma garagem”, disse ele. Segundo Troyjo, inovar e criar novas soluções é fundamental para sobreviver em uma economia globalizada. “Empresas que conseguem compreender a necessidade de inovação e, sobretudo, da capacidade de reinvenção permanecem”, disse ele.

O evento contou com mais três paineis de debate.

No painel “Os novos negócios têm vez no Brasil?“, o economista Fernando Veloso falou sobre as dificuldades para fazer negócios no Brasil. “O sistema brasileiro é tão complexo que gera insegurança jurídica. Tudo no Brasil é um grande obstáculo para fazer negócios”, disse ele. Para mudar o quadro, o país precisa solucionar problemas em diversos setores, entre eles reduzir a carga tributária. “O comércio varejista tem grande impacto da carga tributaria”, afirmou ele.

Para Veloso, o Brasil conta com poucas empresas médias e para que elas se desenvolvam e o número de grandes negócios aumente, é preciso reformas tributária e de infraestrutura. “A Colômbia passou por reformas importantes, como de redução do custo e da complexidade da regulação, além de melhorias institucionais legais”, disse o economista.

Veloso dividiu o painel com Luís Eduardo Schoueri. Professor de Direito Tributário da USP, Schoueri disse que o Brasil continuará tendo muitos impostos. “A carga tributária brasileira não vai diminuir, é uma escolha de Estado”, explicou ele.

Segundo Schoueri, tanta legislação sobre tributação, distribuída em instâncias diferentes, gera mais burocracia. “União, estados e municípios podem legislar sobre tributação, mas poderia não ser assim”, disse ele.
No painel “Burocracia e corrupção“, o economista Nelson Barrizzelli criticou o tamanho e o peso do Estado no Brasil. “No Brasil, o Estado é visto como aquele que é responsável por tudo. Esse cenário cria a burocracia”, disse ele, acrescentando que a presença maciça do Estado faz com que sejam criadas uma média de 35 normas tributárias por dia. A consequência, os brasileiros já conhecem: “Cria a corrupção miúda, à qual toda a sociedade está exposta”, disse ele.

Confira aqui o conteúdo apresentado por Nelson Barrizzelli durante sua palestra.

Outro problema destacado por Barrizzelli se refere às políticas econômicas do país. “Somos naturalmente protecionistas. O Brasil só olha para dentro”, disse ele, depois de explicar que muitos dos problemas enfrentados pelo país se deve ao patrimonialismo, herdado de Portugal.

O economista Sergio Lazzarini também participou do painel “Burocracia e corrupção” e criticou a intervenção do Estado sobre a economia. “A economia brasileira tornou-se muito marcada por atores estatais”, disse ele, acrescentando: “Com Dilma tudo mudou. [Houve] uma ação de volta da intervenção das estatais. Intervenção no setor bancário, aeroportos e transporte”.

Segundo o Lazzarini, a interferência do Estado amplia as chances de desvios. “Corrupção sempre existiu, mas intervenção estatal tende a aumentar esse processo”, ressaltou. O economista explicou que nem todo setor exige participação do Estado. “Aeroporto não precisa de investimento estatal. Há grande interesse das empresas”, afirmou.

Na opinião de Lazzarini, o país precisa, além dos ajustes macroeconômicos, estabelecer mandato claro nas estatais, com divulgação de análise do impacto econômico-financeiro, critérios para a composição da gestão e do conselho de administração. “É preciso promover a total transparência de dados em politicas executadas pelas estatais”, cobrou Lazzarini.

No painel, “Burocracia e competitividade no mercado externo: o alto custo das exportações“, o ex-embaixador Rubens Barbosa destacou os fatores que travam o crescimento do Brasil: o custo do país, incluindo as taxas de juros, e as políticas econômicas falhas. “As taxas de juros desestimularam os investidores no Brasil”, disse ele.
Barbosa ressaltou que o Brasil está fora dos fluxos de comércio. “O Mercosul está paralisado e isolado do mundo”, disse. O Brasil deixou de lado acordos comerciais com parceiros importantes e a situação gerou reflexos na indústria, que, com o aumento da competição com os produtos chineses, ainda perdeu espaço no exterior e no ambiente doméstico. “Até 1985, a indústria representava 25% do PIB, hoje responde por 11%”, disse ele.

Outro fato externo que afeta a competitividade é o custo Brasil. “A empresa brasileira é competitiva dentro da fábrica. Até o porto, aumenta 35% o custo, por conta dos problemas de logística”, criticou Barbosa, acrescentando que políticas econômicas equivocadas prejudicam o crescimento do país. “Há 63 medidas de defesa comercial no país. Políticas pontuais. É preciso políticas de médio e longo prazo”, concluiu.

A doutora em economia pela Unicamp Maria Alejandra Madi, que participou do painel com Rubens Barbosa, destacou que a competitividade no Brasil vem caindo e isso também se deve à burocracia. “O fator tempo, imposto pela burocracia, está correndo contra o Brasil”, disse ela. O resultado é que o país está fora do mercado mundial e voltou a ser um exportador de commodities. “A burocracia impede o acesso do Brasil às cadeias globais de valor”, explicou ela.

“O Brasil está ficando velho antes de ficar rico”, disse o economista Marcos Lisboa, no evento “As velhas e as novas faces da burocracia no Brasil”, que reuniu, nesta manhã, especialistas brasileiros em São Paulo. Segundo o economista, o Brasil precisa reavaliar suas políticas econômicas. “Uma boa maneira de fazer política pública má é dar estímulos sem avaliar o cenário”, disse o economista, atual diretor presidente do Insper. O debate foi promovido pelo Instituto Millenium e pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP).

Lisboa participou do painel “Burocracia e inovação”, junto com Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade Columbia, que falou sobre a importância das empresas se reinventarem. “Inovação não acontece apenas em ambientes corporativos, pode ocorrer em uma garagem”, disse ele. Segundo Troyjo, inovar e criar novas soluções é fundamental para sobreviver em uma economia globalizada. “Empresas que conseguem compreender a necessidade de inovação e, sobretudo, da capacidade de reinvenção permanecem”, disse ele.

O evento contou com mais três paineis de debate.

No painel “Os novos negócios têm vez no Brasil?“, o economista Fernando Veloso falou sobre as dificuldades para fazer negócios no Brasil. “O sistema brasileiro é tão complexo que gera insegurança jurídica. Tudo no Brasil é um grande obstáculo para fazer negócios”, disse ele. Para mudar o quadro, o país precisa solucionar problemas em diversos setores, entre eles reduzir a carga tributária. “O comércio varejista tem grande impacto da carga tributaria”, afirmou ele.

Para Veloso, o Brasil conta com poucas empresas médias e para que elas se desenvolvam e o número de grandes negócios aumente, é preciso reformas tributária e de infraestrutura. “A Colômbia passou por reformas importantes, como de redução do custo e da complexidade da regulação, além de melhorias institucionais legais”, disse o economista.

Veloso dividiu o painel com Luís Eduardo Schoueri. Professor de Direito Tributário da USP, Schoueri disse que o Brasil continuará tendo muitos impostos. “A carga tributária brasileira não vai diminuir, é uma escolha de Estado”, explicou ele.

Segundo Schoueri, tanta legislação sobre tributação, distribuída em instâncias diferentes, gera mais burocracia. “União, estados e municípios podem legislar sobre tributação, mas poderia não ser assim”, disse ele.
No painel “Burocracia e corrupção“, o economista Nelson Barrizzelli criticou o tamanho e o peso do Estado no Brasil. “No Brasil, o Estado é visto como aquele que é responsável por tudo. Esse cenário cria a burocracia”, disse ele, acrescentando que a presença maciça do Estado faz com que sejam criadas uma média de 35 normas tributárias por dia. A consequência, os brasileiros já conhecem: “Cria a corrupção miúda, à qual toda a sociedade está exposta”, disse ele.

Confira aqui o conteúdo apresentado por Nelson Barrizzelli durante sua palestra.

Outro problema destacado por Barrizzelli se refere às políticas econômicas do país. “Somos naturalmente protecionistas. O Brasil só olha para dentro”, disse ele, depois de explicar que muitos dos problemas enfrentados pelo país se deve ao patrimonialismo, herdado de Portugal.

O economista Sergio Lazzarini também participou do painel “Burocracia e corrupção” e criticou a intervenção do Estado sobre a economia. “A economia brasileira tornou-se muito marcada por atores estatais”, disse ele, acrescentando: “Com Dilma tudo mudou. [Houve] uma ação de volta da intervenção das estatais. Intervenção no setor bancário, aeroportos e transporte”.

Segundo o Lazzarini, a interferência do Estado amplia as chances de desvios. “Corrupção sempre existiu, mas intervenção estatal tende a aumentar esse processo”, ressaltou. O economista explicou que nem todo setor exige participação do Estado. “Aeroporto não precisa de investimento estatal. Há grande interesse das empresas”, afirmou.

Na opinião de Lazzarini, o país precisa, além dos ajustes macroeconômicos, estabelecer mandato claro nas estatais, com divulgação de análise do impacto econômico-financeiro, critérios para a composição da gestão e do conselho de administração. “É preciso promover a total transparência de dados em politicas executadas pelas estatais”, cobrou Lazzarini.

No painel, “Burocracia e competitividade no mercado externo: o alto custo das exportações“, o ex-embaixador Rubens Barbosa destacou os fatores que travam o crescimento do Brasil: o custo do país, incluindo as taxas de juros, e as políticas econômicas falhas. “As taxas de juros desestimularam os investidores no Brasil”, disse ele.
Barbosa ressaltou que o Brasil está fora dos fluxos de comércio. “O Mercosul está paralisado e isolado do mundo”, disse. O Brasil deixou de lado acordos comerciais com parceiros importantes e a situação gerou reflexos na indústria, que, com o aumento da competição com os produtos chineses, ainda perdeu espaço no exterior e no ambiente doméstico. “Até 1985, a indústria representava 25% do PIB, hoje responde por 11%”, disse ele.

Outro fato externo que afeta a competitividade é o custo Brasil. “A empresa brasileira é competitiva dentro da fábrica. Até o porto, aumenta 35% o custo, por conta dos problemas de logística”, criticou Barbosa, acrescentando que políticas econômicas equivocadas prejudicam o crescimento do país. “Há 63 medidas de defesa comercial no país. Políticas pontuais. É preciso políticas de médio e longo prazo”, concluiu.

A doutora em economia pela Unicamp Maria Alejandra Madi, que participou do painel com Rubens Barbosa, destacou que a competitividade no Brasil vem caindo e isso também se deve à burocracia. “O fator tempo, imposto pela burocracia, está correndo contra o Brasil”, disse ela. O resultado é que o país está fora do mercado mundial e voltou a ser um exportador de commodities. “A burocracia impede o acesso do Brasil às cadeias globais de valor”, explicou ela.

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