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Humanidade entra no cheque especial com a Terra

O ano nem acabou, mas o nosso consumo de recursos naturais já excedeu a capacidade regenerativa do planeta para 2016

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No vermelho: diferença entre capacidade de regeneração do planeta e o consumo humano gera um saldo negativo que se acumula desde a década de 80 (Getty Images/Matthew Lloyd)

No vermelho: diferença entre capacidade de regeneração do planeta e o consumo humano gera um saldo negativo que se acumula desde a década de 80 (Getty Images/Matthew Lloyd)

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Vanessa Barbosa

Publicado em 9 de agosto de 2016, 09h34.

São Paulo - Até o final desta segunda-feira (8), a humanidade terá superado o orçamento do meio ambiente para o ano, passando a operar no vermelho. Em oito meses, esgotamos todos os recursos que a Terra é capaz de oferecer de forma sustentável no período de um ano, desde a filtragem de gás carbônico (CO2) da atmosfera até a produção de matérias-primas para fabricação de bens de consumo.

A conta é do Global Footprint Network (GFN), uma organização de pesquisa que mede a pegada ecológica das atividades humanas no mundo. Até o fim 2016, teremos consumido 1,6 planetas Terra, um apetite absolutamente insustentável no longo prazo.

A diferença entre a capacidade de regeneração do planeta e o consumo humano gera um saldo ecológico negativo que vem se acumulando desde a década de 80, também estimulado pelo crescimento populacional — já somos 7 bilhões de habitantes no mundo e até o final do século, seremos 11 bilhões.

Pior, entramos no vermelho cada vez mais cedo. Vinte anos atrás, o "Dia da Sobrecarga da Terra" acontecia em 10 de Outubro. Mas em 1975, era 28 de Novembro. No ano passado, foi em 13 de agosto. Agora, entramos no vermelho no dia 08.

Se continuarmos no ritmo atual, vamos consumir o equivalente a dois planetas até 2030, antecipando ainda mais o "Dia da Sobrecarga", para junho, segundo o estudo. 

Juros pesados

À medida que aumenta nosso consumo, cresce a nossa dívida ecológica. Em termos planetários, os resultados dos juros que pagamos se tornam mais claros a cada dia.

Eles se traduzem na perda de bens e serviços ambientais, desequilíbrio climático, na redução de florestas, perda de biodiversidade, colapso de recursos pesqueiros, escassez de alimentos, redução da produtividade do solo e acúmulo de gás carbônico na atmosfera. Este último é uma preocupação constante por conta das mudanças climáticas.

Atualmente, mais de 80 por cento da população mundial vive em países que usam mais do que seus próprios ecossistemas sçao capazes de renovar. Estes países "devedores ecológicos" ou esgotam de uma vez seus próprios recursos ecológicos ou os obtém de outro lugar.

Residentes do Japão, por exemplo, consomem recursos de 7,4 “Japãos”. São necessárias 2,2 "Estados Unidos” para abastecer a população americana. Já a China usa os recursos ecológicos de 3,6 “Chinas".

A imagem abaixo mostra quantos países são necessários para suprir a demanda de seus cidadãos:  

(WWF/ Earth Overshoot Day)

A mensagem é clara. Está cada vez mais difícil - e perigoso - sustentar um déficit orçamentário crescente entre o que a natureza é capaz de fornecer e o quanto nossa infraestrutura, economias e estilos de vida exigem. É hora de organizar as contas e rever os gatos.