O agronegócio reage, com fortes sinais de recuperação
Depois de um ano difícil, a produção agropecuária brasileira descola dos demais setores e dá mostras de retomada. A dúvida é: o tempo continuará firme?
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Colheita de soja: a boa safra de grãos traz de volta o otimismo ao setor (Divulgação)
Publicado em 18 de julho de 2013, 17h16.
São Paulo - Nos últimos anos, o agronegócio se consolidou como uma das forças mais notáveis da economia do Brasil. É responsável por um terço do produto interno bruto e sustenta o superávit da balança comercial brasileira. Mas essa atividade tem um traço peculiar: está sujeita como nenhuma outra às oscilações de temperatura e regime de chuvas.
A influência pode vir tanto para o bem quanto para o mal. Em 2012, o clima mais seco atrapalhou a produção agrícola brasileira de itens como cana e grãos no primeiro semestre. Já na segunda metade do ano os produtores praticamente comemoraram outra seca — isso porque ela ocorreu nos Estados Unidos.
A estiagem americana, a pior em meio século, derrubou a produção de milho e ajudou os agricultores brasileiros a vender mais caro seus grãos. Aqui mesmo, outras empresas da cadeia do agronegócio, como as que produzem frangos, sofreram com o encarecimento do milho e da soja.
Qual foi, afinal, o balanço do ano? De acordo com o levantamento de MELHORES E MAIORES, as 400 maiores empresas do agronegócio tiveram queda de 8% nas vendas e de 33% nos lucros. A boa notícia é que o tempo — de novo — começou a virar, ressaltando mais uma vez o vigor do campo no país.
No primeiro trimestre de 2013, o PIB da agropecuária, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cresceu 17% em relação ao mesmo período de 2012. O resultado dos demais setores destoa: o PIB de serviços cresceu apenas 1,9% e o da indústria recuou 0,8%.
A reação do agronegócio é puxada por novo recorde na colheita de grãos, que deve atingir 185 milhões de toneladas nesta safra, 11% mais que na anterior. Além do aumento do volume, os preços estão em níveis que permitem uma boa margem de lucro.
Na Coamo, cooperativa paranaense que lidera a exportação brasileira de grãos, o produtor de soja vem recebendo nesta safra, em média, 51 reais pela saca de 60 quilos. O custo de produção gira em torno de 22 reais a saca.
“Com esses valores, os produtores conseguem se capitalizar”, diz José Aroldo Gallassini, presidente da Coamo. “Isso quer dizer que há dinheiro para investir na próxima lavoura e trabalhar para conseguir mais um recorde.”
Os bons preços engordaram a conta bancária dos produtores de grãos, mas pressionaram as margens de lucro das empresas de alimentos à base de frangos e suínos, já que esses animais vivem de ração de milho e soja. É o caso da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão. A companhia catarinense teve lucro líquido de 10 milhões de dólares em 2012, ante quase 200 milhões no ano anterior.
O cenário para 2013 é mais favorável. No mês passado, o Japão anunciou a abertura de seu mercado para a carne suína brasileira — o país asiático é o maior importador mundial do produto, com compras de 5 bilhões de dólares por ano.
Horizonte
O tempo parece ter melhorado também para o setor sucroalcooleiro. No ano passado, a conta dos produtores não fechou. Segundo a consultoria paulista Job Economia, as usinas do Centro-Sul obtiveram receita média de 105 reais por tonelada de cana moída para a produção de açúcar e etanol, ante um custo de 114 reais.
“Grandes produtores, como Tailândia e Indonésia, ampliaram a oferta de açúcar. Com isso, os estoques mundiais aumentaram, derrubando os preços”, diz Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura. Na área de etanol, os preços — que seguem os da gasolina, controlados pelo governo — não atingiram um nível remunerador.
Neste ano, algumas medidas do governo clarearam um pouco o horizonte dos usineiros, como a desoneração fiscal do etanol, que resultará em economia de 12 centavos de real por litro, e o reajuste da gasolina, anunciado em janeiro.
“Com essas medidas, o cenário melhorou”, diz Paulo Pinese, sócio da consultoria Deloitte e especialista em agronegócio. Ele vê um futuro promissor para o setor. “Se eu tivesse de investir 1 real no Brasil, seria no agronegócio. O horizonte nos próximos três anos é excepcional.” Desde que o tempo continue a favor.
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