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Conheça a brasileira que sequencia o genoma de uma das espécies invasoras mais agressivas do mundo

Marcela Uliano, doutoranda da UFRJ, entrou para o grupo de TED Fellows por causa de sua pesquisa sobre o sequenciamento do genoma do mexilhão dourado

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Marcela Uliano  (Divulgação)

Marcela Uliano (Divulgação)

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Vanessa Daraya

Publicado em 10 de julho de 2014, 12h53.

A bióloga brasileira Marcela Uliano está em um seleto grupo de 20 cientistas, artistas, inventores e empreendedores responsáveis por descobertas inovadoras ao redor do mundo. São os TED Fellows, que apresentarão seus projetos no evento TED Global, em outubro.

Marcela, doutoranda da UFRJ, entrou para o grupo por causa de sua pesquisa sobre o sequenciamento do genoma do mexilhão dourado, que se espalhou pela América do Sul e tem causado sérios problemas ao meio ambiente. Além de outros cientistas, a bióloga teve ajuda de 361 financiadores que toparam ajudá-la por meio do site de crowdfunding Catarse. Em entrevista para INFO, Marcela falou sobre sua participação no TED e sobre projeto com os mexilhões dourados. Veja a seguir:

Como o mexilhão dourado chegou ao Brasil?

O mexilhão dourado chegou a América do Sul no início da década de 1990, através da água de lastro de navios asiáticos que transportam mercadorias e muitas vezes dão a volta ao mundo vazios. Por isso, precisam encher seus tanques com água, que chamamos de ‘lastro’. Nessa água, muitas espécies exóticas podem ser transportadas para novos locais. É o caso do mexilhão, que desde então, se espalhou por toda a América do Sul até o pantanal.

Quais os impactos ambientais do crescimento do mexilhão dourado?

O mexilhão dourado se reproduz rapidamente e forma densas populações de até 150 mil mexilhões/m2. O fenômeno entope turbinas de usinas hidrelétricas, danifica barcos e equipamentos de pesca. Só no sul do Brasil são estimados gastos para os pescadores locais de 1 milhão de reais anuais. No meio natural, o mexilhão também se reproduz largamente e toma o nicho ecológico de outras espécies. Suas densas populações filtram a água e aumentam a zona de entrada de luz, o que acarreta uma série de mudanças ecológicas. A presença do mexilhão vira um novo cardápio para peixes, que passam a se reproduzir mais devido ao alimento farto e desregulam toda a cadeia alimentar.

Como os países fazem atualmente para lidar com a espécie?

O mexilhão dourado é considerado uma das espécies invasoras mais agressivas do mundo. Cientistas que estudaram o mexilhão em ambientes da América do Sul constataram que a sua presença contribui para uma diminuição da biodiversidade do ambiente. Logo que chegou à América do Sul foi identificado em usinas hidrelétricas por entupir as turbinas.

Rapidamente, Brasil e Argentina se deram conta dos danos econômicos e ecológicos que ele causava e começaram a desenvolver planos para diminuir o impacto das áreas invadidas. Reagentes químicos, como o cloro, são utilizados em plantas industriais na tentativa de diminuir as incrustações do molusco. No entanto, não é possível despejar produtos químicos no ambiente natural, uma vez que eles eliminariam o mexilhão, mas também toda a biodiversidade.

Quais os benefícios do sequenciamento do genoma dessa espécie?

O sequenciamento do genoma é uma forma de entender a genética da espécie e encontrar seus pontos fracos para que no futuro seja possível criar uma estratégia biotecnológica de controle, como uma vacina de DNA. Sabemos muito sobre a biologia do mexilhão, mas sabemos pouco sobre a sua genética. Precisamos entender isso primeiro para encontrarmos formas eficientes de controle da espécie.

Mexilhões no Rio Jacuí, em Porto Alegre. A espécie gruda em qualquer superfície (Crédito da foto: Marcela Uiliano)

E como foi o processo para ser selecionada para o Ted Fellows?

Fui indicada pelo Felipe Caruso, jornalista que trabalha no Catarse, o site de financiamento coletivo que hospedou nosso projeto no ano passado. O time do TED entrou em contato comigo por e-mail e me convidou a fazer a inscrição para passar pelo processo de seleção e tentar ser uma Fellow. Todo o cientista que gosta e acredita no seu trabalho sonha em poder mostrar um pouco dele no TED. Fiz a inscrição, participei de duas entrevistas e fui selecionada.

Como funcionou o projeto de vocês no Catarse?

O Catarse hospeda diversos tipos de projetos. O nosso foi o primeiro científico. Em 60 dias no ar, conseguimos alcançar nossa meta de 40 mil reais para pagar o sequenciamento do genoma. Hoje, nosso projeto é financiado não só pelo governo federal, mas também diretamente por mais 361 pessoas. E tivemos a participação de mais milhares de pessoas que ajudaram na divulgação.

Quais lições você aprendeu com essa campanha no Catarse?

A campanha foi fantástica. Aprendi muita coisa nesse período, principalmente o fato de que as pessoas sentem o desejo de participar da ciência. No nosso caso, elas ganharão o nome em um gene depois por ajudar a financiar a pesquisa. O resultado final foi que, com esse projeto, além de arrecadar a verba também promovemos muita educação científica. E isso é algo que quero continuar a desenvolver na minha carreira científica de agora em diante: engajar as pessoas nos projetos científicos.

Você também está envolvida em outros projetos?

Estudo a genética de outras espécies de mexilhão também. Comparamos os genomas das espécies animais para entender como elas evoluem desde os organismos mais simples até os mais complexos, como o homem. E também estudamos as respostas genéticas dos moluscos a contaminantes ambientais, que servem como marcadores de contaminação aquática.

Também escrevo um livro de divulgação científica a ser publicado pela editora Marsupial do Rio de Janeiro. Queremos fazer um livro leve e acessível, mas ao mesmo tempo informativo. Esperamos aguçar um pouco mais a curiosidade dos brasileiros para a ciência. O livro tem lançamento previsto para o final de 2015. Quem quiser dar uma olhada nos meus rabiscos, pode acessar o meu blog.

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