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Novo, de novo: marcas de upcycling nacionais para consumir com consciência

Através do upcycling, a moda ganha outra roupagem com a produção de peças feitas a partir de retalhos e customizações

Modelo veste peças do Estúdio Traça. (Estúdio Traça/Divulgação)

Modelo veste peças do Estúdio Traça. (Estúdio Traça/Divulgação)

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Julia Storch

Publicado em 18 de maio de 2021 às 06h00.

Última atualização em 22 de maio de 2021 às 07h05.

Sustentabilidade tem sido a palavra da vez na moda. Com práticas mais conscientes, marcas passam a adotar alternativas em suas cadeias produtivas. Enquanto algumas empresas começam a engatinhar com suas boas práticas e em busca de selos que atestem suas ações, outros movimentos ganham ainda mais força. É o caso do upcycling que, desde os anos 1990 foca na produção de peças (não apenas têxteis) feitas a partir de sobras e na customização. No Brasil, o movimento vem crescendo ao longo dos anos e já dá seus passos nas semanas de moda nacional. Com isso, Casual selecionou quatro marcas para ficar de olho e consumir com consciência. 

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Think Blue (Rio de Janeiro)

Pense e vista azul, esta é a proposta da Think Blue, marca carioca idealizada por Mirella Rodrigues. A partir do jeans como matéria prima, são produzidas calças, vestidos, saias, casacos e acessórios, todos com garantia vitalícia, ou seja, a marca assegura reformas e ajustes, que podem ser feitos a qualquer momento após a compra dos itens. 

A partir da tomada de consciência dos impactos da indústria têxtil no meio ambiente e na sociedade, enquanto ainda cursava moda, Rodrigues decidiu empreender no universo da moda sustentável. A partir da economia circular, começou a desenvolver peças a partir do descarte de outras peças e de retalhos. Em 2016, lançou oficialmente a marca Think Blue após o desenvolvimento do seu trabalho de conclusão de curso focado no upcycling de jeans.

Para além da sustentabilidade, Mirella comenta que as peças reconstruídas têm um valor ainda maior. “São produtos únicos, e este é o diferencial que o upcycling tem ao ser favor, ninguém terá uma peça igual a sua nas ruas”. Com roupas produzidas a partir do mesmo design, as variações ocorrem nas lavagens e texturas dos jeans utilizados. Um exemplo é a calça recortes, como o título já adianta, a peça é feita a partir de diferentes retângulos recortados e unidos em um novo modelo.

Para a estilista carioca, falar (e fazer) moda também é uma pauta política. No ano 2018, a Think Blue participou do Brasil Eco Fashion Week. No evento às vésperas do segundo turno das eleições de 2018, Rodrigues decidiu se posicionar e expressar suas opiniões sobre as pautas vigentes. Na passarela, as modelos entraram com cartazes com frases polêmicas do então candidato Jair Bolsonaro, escritos com a expressão ‘Ele não!’ e colagens com o questionamento ‘Quem matou Marielle?’. “Moda não é só vender roupas, mas causar desconfortos e trazer questões à sociedade”, finaliza.

Estúdio Traça (São Paulo)

Na adolescência, morando em Santos, Guilherme Amorim comprava calças jeans em brechós e bazares para cortar e transformar as peças em shorts. Com o tempo, percebeu que havia juntado muitas sobras dos tecidos e que poderia produzir novas peças com os retalhos. Com moldes criados por ele, desde 2014 são desenvolvidas peças com o mesmo design, mas não necessariamente com as mesmas tonalidades. Assim nasceu o Estúdio Traça, que hoje veste cantoras como Pabllo Vittar, Duda Beat e Maju.

Diferente do ínicio, em que garimpava os tecidos, hoje ele produz a partir das sobras da indústria. “Todos os tecidos que utilizo são fornecidos por empresas que estão ligadas à sustentabilidade, como a Lunelli, que possui transparência em toda a cadeia de produção e a Nicoletti Têxtil que cria jeans com resíduos de linho e PET”, comenta. Escolhido para participar da Casa de Criadores em 2020 e 2021, Amorim lançará em julho sua próxima coleção no evento. 

Ventana (Balneário Camburiú)

Ventana da língua espanhola, janela. Desde 2012, Gabrielle Pilloto traz, através de suas peças, uma janela com um novo olhar para a moda. “Através do nosso processo criativo, queremos desacostumar o olhar ao óbvio e transformar peças e tecidos do nosso cotidiano em arte”, explica a criadora da Ventana.

Um exemplo é o garimpo de gravatas, “acreditamos que tenham mais gravatas deixadas de lado em brechós do que pescoços dispostos a usá-las”, comenta. Destas peças, tradicionalmente masculinas, nascem os Corsets Gravatas feitos com peças da Gucci, Yves Saint Laurent e Pierre Cardin, por exemplo. 

Outra assinatura da marca são as roupas sanfona. Camisas e camisetas são ajustadas ao corpo com um elástico, trazendo o efeito sanfonado às peças. Itens de casa também já foram transformados em roupas na coleção “Utensílios de Casa”. “Durante cinco meses, garimpamos cortinas, lençóis, toalhas, almofadas e edredons”, vestidos, bolsas e tudo o que a imaginação pode criar, foram produzidas. “Muitas coisas podem se transformar em outras e seguir fazendo sentido para alguém”, diz Pilloto.

Modelo veste Corset Gravatas da Ventana. (Ventana/Divulgação)

Futuree (São Paulo)

O garimpo da marca paulistana é focado em malhas tricotadas. “Por ser o tecido que mais exploramos, garimpamos peças prontas, retalhos e metragens de segunda mão nas cores e texturas que desejamos. O fato de trabalhar paralelamente com figurinos, contribui para que eu consiga sobras de tecidos de outras produções”, comenta a fundadora da marca, Livia Zapponi. 

Consumidora de brechós e bazares beneficentes, Zapponi sempre customizou as peças que garimpava até criar a marca em 2018. Para ela, o hábito de compras de peças novas ainda é muito presente na vida dos consumidores. “Contudo, a ideia do reuso criativo carrega uma causa muito urgente e importante, além de ter um forte apelo de singularidade e originalidade”, comenta.

Com edições limitadas, entre 7 e 15 dias são lançadas novas coleções cápsulas site e Instagram da marca. Com 10 a 18 peças, “mantemos a singularidade de cada roupa que criamos”, finaliza.

Colete da Futuree, feito a partir de peças e retalhos de malha. (Futuree/Divulgação)

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