Carreira

'Seu passado não te define, você pode chegar muito mais longe', diz brasileira VP global da IBM

A brasileira Ketelyn Jesus se tornou a primeira mulher e latina a ocupar a cadeira de CFO de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Radicada hoje em Nova York, ela é a responsável por um portfólio de US$ 10 bilhões da multinacional; veja como ela chegou ao topo

Ketelyn Jesus, VP global de finanças da IBM: “Não permita que outros definam seus limites. Cada um é o protagonista da própria história” (IBM/Divulgação)

Ketelyn Jesus, VP global de finanças da IBM: “Não permita que outros definam seus limites. Cada um é o protagonista da própria história” (IBM/Divulgação)

Publicado em 25 de outubro de 2024 às 15h13.

Última atualização em 25 de outubro de 2024 às 16h24.

Tudo sobreHistórias de executivos
Saiba mais

Orlando (Estados Unidos)* — Nascida e criada em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, Ketelyn Jesus não imaginava que chegaria tão longe em sua carreira. Hoje, aos 39 anos, ela ocupa o cargo de vice-presidente global de finanças da IBM, tornando-se a primeira mulher e latina a conquistar o cargo em 113 anos de história da empresa. Sua jornada profissional, no entanto, está longe de ter sido fácil.

Como filha de uma professora e de um operário, Ketelyn cresceu em uma família humilde, enfrentando desafios desde cedo. Aos 9 anos, perdeu o pai inesperadamente, o que a fez assumir as contas de casa ainda na adolescência. Aos 14 anos, seu primeiro emprego foi dar aulas de inglês para ajudar sua família.

“O inglês foi meu primeiro passo para mudar minha realidade. Eu estudava em uma escolinha de bairro e decidi ser a melhor da sala, porque sabia que dominar a língua poderia abrir portas que minha família nunca teve”, diz Ketelyn.

Enquanto o conselho de sua avó era para ela se casar com um homem rico, Ketelyn mesmo sem referências profissionais decidiu apostar em uma carreira no mundo corporativo. “Eu sabia que o meu passado não me definia. Eu tinha dois caminhos: ou chorava com a realidade que eu tinha ou fazia algo para mudar”, diz Ketelyn.

O início da jornada profissional até a liderança

Com poucos recursos financeiros, Ketelyn optou por uma faculdade não muito conhecida em Santo André, mas que lhe deu uma boa base para crescer profissional e que abriu as portas da IBM quando tinha apenas 18 anos.

“Eu não venho de uma família que conhecia o mercado. Tudo o que eu sabia era que precisava agarrar cada oportunidade que aparecesse", conta.

Com essa mentalidade, ela avançou na IBM, passando de estagiária para diversas posições, até chegar à liderança de finanças para a América Latina, cargo que ocupou quando tinha apenas 25 anos, morando por um mês no Chile, Colômbia e Peru, o que lhe permitiu vivenciar de perto as realidades e desafios de cada mercado.

"Cada país tem suas particularidades, e viver em cada um deles, mesmo que por pouco tempo, me ajudou a enxergar as necessidades regionais de uma forma muito mais prática e humana”, afirma.

Os maiores desafios foram os internacionais

O primeiro grande desafio profissional de Ketelyn veio quando foi convidada a assumir uma posição de liderança em Dubai, ajudando na expansão da IBM na África e no Oriente Médio. Lá, enfrentou barreiras culturais e de gênero, principalmente fora do ambiente corporativo.

“Na época, precisei de uma carta assinada por um homem para instalar a internet em casa. Foi um dos maiores desafios da minha vida, mas isso só reforçou meu propósito: abrir portas para outras mulheres em situações similares”, diz.

Ketelyn se adaptou ao ambiente desafiador, mas um dos motivos que a ajudaram a chegar ao topo foi nunca se acomodar e aproveitar todas as oportunidades. Após três anos em Dubai, a executiva recebeu o convite para morar em Nova York, onde sua carreira deslanchou ainda mais, mas ela não foi sozinha.

Com o filho Daniel, então com 8 meses, Ketelyn saiu do extremo calor de Dubai para morar em uma região dos Estados Unidos que, na época, já contava com a neve.

“Mudei literalmente de um extremo para o outro e tive muito apoio do meu marido nesta jornada. Ele largou duas vezes o emprego dele na IBM para me acompanhar”, afirma Ketelyn.

Entre suas conquistas pessoais, está o nascimento de sua filha nos Estados Unidos, que não a impediu de ter se tornado executiva logo após a licença-maternidade. “Trabalhei duro para garantir que minha equipe estivesse preparada durante minha ausência, e isso me permitiu voltar com ainda mais força”, conta.

Hoje, além de ser responsável por um portfólio de US$ 10 bilhões na IBM, a CFO Global da IBM dedica seu tempo a projetos de mentoria para talentos brasileiros, ajudando empreendedores, executivos e empresas a expandirem seus negócios para o exterior.

Em setembro, a executiva veio para o Brasil para o HJ Conference, em Concórdia, Santa Catarina, que reúne palestrantes de todo o país para promover informação, desenvolvimento pessoal e profissional. Ketelyn foi uma das palestrantes no palco principal, onde compartilhou sua trajetória com o tema "Você só não vai melhorar e vencer amanhã se desistir hoje."

Como chegar ao sucesso?

Sobre as próximas etapas de sua carreira, Ketelyn afirma que ainda há muito a ser feito. “Cada patamar que você atinge abre novas portas. Não cheguei aonde quero chegar ainda. Quero continuar usando minha posição para ajudar mais pessoas a realizarem seus sonhos”, diz.

Para quem deseja seguir uma trajetória de crescimento profissional, Ketelyn enfatiza a importância da definição pessoal de sucesso. "O que é sucesso para mim pode não ser para você, e está tudo bem. Só não permita que outros definam seus limites. Cada um é o protagonista da própria história," afirma. "Seu passado não te define. E quem define o que é sucesso para você, é você mesmo”, diz Ketelyn que ocupou 15 cargos na IBM em 23 anos de casa.

A executiva reforça que quando alcançou o cargo de CFO Global recebeu mensagens de pessoas que nunca imaginou conhecer, dizendo que se sentiram encorajadas a buscar mais por conta da sua conquista. “É isso que me motiva; saber que posso ser um exemplo de que, sim, dá para chegar muito longe, mesmo quando ninguém antes chegou lá."

*A jornalista viajou a convite do programa de formação executiva Salto Alto

Acompanhe tudo sobre:Dicas de carreiraHistórias de executivosMulheres executivasIBM

Mais de Carreira

Happytalismo: conceito criado no Butão diz que, sim! - é possível ser feliz no trabalho

Como o e-mail pode contribuir com o networking profissional

Conheça 8 comportamentos para deixar de lado e melhorar sua comunicação

Saúde mental impacta geração Z no trabalho, diz pesquisa no Reino Unido