São Paulo - Estabilidade, segurança, vidas inteiras passadas numa mesma empresa. Não é novidade que antigos ideais associados a uma carreira de sucesso têm sido postos em xeque pela geração Y.
Um dos sintomas dessa reciclagem de valores é o aumento do interesse por trabalhos com “prazo de validade”, diz Lucas Nogueira, gerente responsável pelo recrutamento de profissionais temporários na Robert Half.
O trabalho do executivo temporário, explica ele, tem começo, meio e fim: ele é contratado para atender a demandas específicas e permanece no trabalho por três meses, com chance de renovação do contrato pelo mesmo período.
Profissionais temporários nas áreas de finanças e tecnologia, hoje, costumam ser os mais mirados pelas empresas.
Segundo Nogueira, o profissional brasileiro de média a alta gerência começou a aderir muito mais a essa modalidade nos últimos 5 anos, ainda que ela exista desde os anos 1970 por aqui.
Em apenas dois anos, o número de contratações desse tipo pela Robert Half cresceu 50%. A expectativa é que, em 2014, o trabalho com temporários resulte em metade do faturamento total da consultoria.
O porquê de tanto interesse? Para começar, a remuneração costuma ser proporcionalmente mais alta do que a dos empregados fixos, diz Nogueira. O salário dos profissionais recrutados pela Robert Half geralmente se encaixa na faixa entre 9 mil e 25 mil reais.
Outra motivação para trabalhar por projetos seria se livrar de alguns “inconvenientes” do emprego fixo. “Há menos reuniões e menos ‘politicagem’, então sobra mais tempo para executar o trabalho em si e se desenvolver profissionalmente”, diz o executivo.
O que une engravatados e descolados?
A tendência descrita por Nogueira vai na contramão da mentalidade que associa “jobs” temporários a profissionais da indústria criativa, tais como designers, publicitários e artistas - os freelancers.
Ao contrário deles, os executivos temporários são registrados pelos seus empregadores e têm seus direitos previstos em leis trabalhistas. Mas a verdade é que “engravatados” e “descolados” têm mais em comum do que provavelmente imaginam.
Segundo Nogueira, o executivo que aceita ser temporário busca autonomia para traçar seu caminho profissional. “Ele quer ser livre para aprender e se desenvolver à sua maneira”, afirma.
A liberdade para gerir o tempo e as entregas também é uma das principais motivações de quem é freelancer por opção, de acordo com Sebastián Siseles, diretor geral para América Latina do portal Freelancer.com.
“O freelancer é uma pessoa que trabalha em sua programação e muitas vezes rejeita ofertas de grandes empresas para continuar controlando sua agenda pessoal e profissional”, afirma Siseles.
A afirmação também é do designer Gustavo Pizzo. O lado positivo de trabalhar com projetos, segundo ele, é poder manejar diretamente seu fluxo de trabalho, definindo a organização que lhe faz render melhor.
É claro que a condição também tem seus inconvenientes, como a ausência de direitos trabalhistas e a dificuldade de manter uma renda regular todo mês. Mesmo assim, Pizzo se declara confortável na posição que ocupa. “Só deixaria de ser freelancer se recebesse um convite imperdível”, afirma.
“Eu me sinto livre para respeitar o meu tempo”, acrescenta a artista Luda Lima, que trabalha como autônoma fazendo ilustrações para livros, revistas e sites. Em seu antigo emprego fixo, ela diz que se sentia sufocada por horários e funções que não combinavam com ela.
O desejo de autonomia que une profissionais tão distintos - de artistas freelancers a executivos temporários - pode ser resultado de diversas tendências que têm modificado o mundo do trabalho, como a chegada da geração Y ao mercado e os avanços da tecnologia.
Para Siseles, o estilo de vida do freelancer não é para todo mundo. Mesmo assim, diz ele, muita gente hoje quer ser livre para decidir como, onde e para quem vai trabalhar. “São essas as pessoas que mais se sentem desconfortáveis com um emprego fixo, e acabam procurando alternativas”, conclui.
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1. O que vem a seguir?
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1/8 (Getty Images/Michael Dodge/Stringer)
São Paulo - A entrada da
geração Y no
mercado de trabalho e a influência das novas tecnologias são os dois fatores com maior peso para o futuro profissional do brasileiro. A conclusão é de um levantamento feito pela consultoria Robert Half, que ouviu 100 diretores de RH de empresas de diversos tamanhos e segmentos, atuantes em várias regiões do Brasil, sobretudo no Sudeste. Segundo Mário Custódio, gerente de divisão da Robert Half, as intensas mudanças vividas pelo mundo não deixam outro caminho senão a flexibilidade. "Ou você se adapta, ou.. se adapta", afirma o executivo. Dependendo do ponto de vista, as tendências apresentadas no estudo podem ser consideradas boas ou más notícias. É o que você verá a seguir:
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2. 1. Novas gerações no trabalho
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2/8 (Getty Images)
Porcentagem dos que citaram este fator: 43% A boa notícia: O jovem traz frescor e originalidade para enfrentar os problemas do trabalho. "Além disso, a diversidade de pontos de vista contribui para a criatividade e para a inovação", diz Custódio. A má notícia: Por outro lado, o perfil ansioso e insubordinado dos mais novos pode trazer desgaste. "Os jovens esperam que tudo acompanhe o seu ritmo, o que nem sempre acontece".
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3. 2. Avanços na tecnologia
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3/8 (REUTERS/Tim Wimborne)
Porcentagem dos que citaram este fator: 41% A boa notícia: A evolução técnica contribui para otimizar a performance de profissionais de qualquer área. "O acesso rápido à informação pode automatizar o trabalho e aumentar a produtividade", diz Custódio. A má notícia: O problema é que o excesso de estímulos pode tirar o foco do trabalho, segundo o executivo. "Além disso, ficamos ansiosos por respostas rápidas, apesar de termos 'preguiça' de fazer pesquisas mais trabalhosas", completa.
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4. 3. Mudanças demográficas
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4/8 (Creative Commons/Flickr/ Lars Plougman)
Porcentagem dos que citaram este fator: 36% A boa notícia: Uma das principais mudanças no perfil da mão de obra é o aumento da "inquietação" e da rotatividade. "O lado positivo é que as empresas se preocupam mais em treinar e desenvolver profissionais, tentando retê-los", explica Custódio. A má notícia: O problema ocorre se, apesar da tendência, a empresa não investir em desenvolvimento e retenção. "Você vai pular de emprego em emprego e não vai concluir nenhum ciclo de aprendizado", afirma.
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5. 4. Aumento no volume de informações
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5/8 (Fabrice Coffrini/AFP)
Porcentagem dos que citaram este fator: 30% A boa notícia: Graças à tecnologia, poderemos usar um número cada vez maior de dados para nossas atividades profissionais. "Com mais informações, é possível fazer análises mais consistentes e embasadas", diz Custódio. A má notícia: Em meio ao oceano de dados, pode ser difícil distinguir o que é relevante. "O excesso de informação pode fazer o profissional perder tempo com o que não importa", afirma.
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6. 5. Aumento da globalização
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6/8 (Getty Images)
Porcentagem dos que citaram este fator: 27% A boa notícia: O intenso intercâmbio entre nacionalidades é positivo para qualquer profissional. "Ficou mais fácil ter contato com as experiências de fora e aprender com elas", diz o executivo. A má notícia: Por outro lado, a internacionalização traz o desafio dos choques culturais. "Se você trabalha numa empresa estrangeira, pode ter problemas para se adaptar ou mesmo explicar a realidade local para o outro", afirma Custódio.
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7. 6. Iniciativas de sustentabilidade
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7/8 (Justin Sullivan/Getty Images)
Porcentagem dos que citaram este fator: 24% A boa notícia: A maior preocupação das empresas com o meio ambiente ajuda a motivar e a conectar o profissional com o trabalho. "Ajuda muito saber que a sua empresa tem um propósito e se importa com seu impacto sobre o mundo", diz Custódio. A "má" notícia: O aumento da consciência ambiental pode ser um sinal de alerta para quem ainda não atualizou a mentalidade nem o discurso sobre o tema. "Um profissional orientado para resultados a qualquer custo pode ter problemas no futuro", afirma.
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8. Agora veja os 10 cursos com as piores perspectivas de carreira nos EUA
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8/8 (Sara Haj Hassan/Stock.xchng)