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Por Márcio de Freitas*

O populismo tem a preferência de 32% dos eleitores da Europa. O dado de pesquisa da Universidade de Amsterdã foi publicado pelo The Guardian, mostrando o crescimento dos partidos radicais no berço da social-democracia e do Estado do Bem Estar Social. O eixo de poder se move pelo mundo, com as incertezas econômicas e choques sociais prevalecendo sobre as respostas oferecidas pelos líderes políticos tradicionais. Fenômeno que permanece no horizonte das relações políticas e pode se acentuar nos Estados Unidos se Donald Trump voltar ao poder na eleição do próximo ano.

O crescimento populista é centrado principalmente na extrema direita. O exemplo francês se traduz na exposição de Eric Zemmour, que criou um partido mais à direita para quem acha Marine Le Pen uma versão suave demais de radicalismo intransigente. O embalo desse movimento criva nas democracias ocidentais uma divisão entre o povo e sua “elite corrupta”, entre blocos desenvolvidos e atrasados, entre nativos e migrantes. No horizonte desse cenário, há ainda a forte expansão econômica de países onde os valores são outros, principalmente por serem regimes centralizadores e autoritários – como China e Índia, novos polos cada vez mais importantes na geopolítica e na economia mundial.

Na Argentina, o fenômeno Javier Milei ostenta o favoritismo eleitoral na corrida pela Casa Rosada, num país onde a inflação está fora de controle e o governo de tendência esquerdista não consegue apresentar respostas às demandas sociais. Quando Alberto Fernandez foi eleito presidente, os argentinos sinalizaram uma virada à esquerda que poderia ser lida como tendência política, assim como foi a vitória de Joe Biden sobre Trump há quatro anos.

Os ventos hoje parecem soprar em outra direção. A se conferir se serão fortes o suficiente para mudar governos, mas certamente mostram capacidade de dividir países durante os processos eleitorais, como mundos antagônicos de visão se batendo em choques de grandes proporções. As oscilações eleitorais têm sido registradas em ondas rápidas que vão à direita, mas também à esquerda com velocidade impressionante.

O Brasil dobrou à esquerda em 2022, depois de uma virada brusca à direita em 2018. O rescaldo do período pós-Bolsonaro ainda está sendo remexido, mas há risco de se acentuarem movimentos fortes sob as placas tectônicas da sociedade. Os debates pautados pelo Supremo Tribunal Federal sobre questões indígenas e sobre aborto evoluem para decisões que chocam núcleos que foram derrotados nas últimas eleições. No Congresso, protestos e reações ainda frágeis se organizam.

Os vitoriosos se impõem como é natural, mas é preciso observar até que ponto há capacidade dos atuais derrotados de reagir, e se haverá uma nova força para aglutinar essa direta, que a exemplo da Europa, ainda é significativa no país. Jair Bolsonaro é hoje um personagem forte no imaginário desse núcleo, mas perdeu momentaneamente a capacidade de liderar por estar sob ataque moral e ético.

As incertezas econômicas internacionais de hoje não são tão firmes a ponto de garantir uma vitória antecipada do governo Lula III no seu período de quatro anos. Para ele, tudo vai bem até o momento com a fortuna sorrindo. Se os ventos mudarem, as forças do outro lado estarão com suas feridas abertas pelos aliados do governo no STF, prontas para alimentar uma nova polarização. O Brasil continua a caminhar polarizado e desunido. 

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação  

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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