Pesquisa inédita mapeia população LGBT e trans nos presídios paulistas
Dos que se declararam mulheres trans, 78% disseram preferir ficar na prisão masculina, o que pode ter relação com vínculos já formados
Ligia Tuon
Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 13h04.
Última atualização em 28 de janeiro de 2020 às 13h30.
São Paulo - A Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo divulgou um levantamento inédito que mostra que 5.680 pessoas presas no estado se declaram LGBTs . O número representa 2,44% da população total.
De acordo com o levantamento, 869 pessoas se declararam transgêneras. Dos que se declararam travestis e mulheres trans, 78% disseram que preferiam ficar em unidade prisional masculina. Entre os homens trans, 82% falaram que desejavam continuar em unidades femininas.
Para o diretor do Centro de Políticas Específicas da Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania, Charles Bordin, a preferência se deve ao fato de que às vezes casais são formados nas unidades e vínculos afetivos são criados.
A partir da pesquisa, a secretaria pretende elaborar campanhas e políticas de proteção dos direitos desse público.
A população trans que vive sob custódia da Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo hoje tem direito ao uso de corte de cabelo e de roupa íntima de acordo com a identidade de gênero.
Além disso, mulheres e homens trans podem usar o nome social em documentos e, se solicitarem, podem ficar em celas específicas destinadas à transexuais.
Para reintegrar a população LGBT, cursos de capacitação são oferecidos, como os que formam auxiliares de cozinha e maquiadores.
O Dia Nacional da Visibilidade de Transexuais e Travestis é comemorado no dia 29 de janeiro. A data foi criada em 2004, a partir do lançamento da campanha “Travesti e Respeito: já está na hora dos dois serem vistos juntos”, feita pelo Ministério da Saúde em conjunto com movimentos de pessoas trans.
Em 2016, um decreto presidencial garantiu à população trans o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal.
A proteção dessa população tem sofrido retrocessos no governo do presidente Jair Bolsonaro, que tem entre as marcas da sua carreira política o discurso agressivo contra LGBTs.
Em julho, por exemplo, o presidente anunciou uma “intervenção” do Ministério da Educação (MEC) para suspender um vestibular específico para candidatos transgêneros e intersexuais da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), entre outros casos.