Crise na Índia vai afetar os prazos de vacinação no Brasil
Com disparada recorde de casos de covid-19, o governo indiano tende a reter a produção de vacinas para abastecer o mercado interno
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de abril de 2021 às 08h58.
Última atualização em 28 de abril de 2021 às 11h59.
O agravamento da pandemia de covid-19 na Índia deve afetar diretamente o calendário vacinal brasileiro. Com o número de casos da doença em disparada, o governo indiano tende a reter a produção de vacinas para abastecer o mercado interno. A medida atingirá exportações de vacinas com as quais o Brasil contava.
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No calendário apresentado sábado pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a entrega de 8 milhões de doses da vacina da AstraZeneca à Fiocruz foi postergada para o terceiro trimestre deste ano. A chegada de quatro lotes entre abril e julho não será cumprida: o imunizantes é produzido no Laboratório Serum, na Índia.
Em janeiro, diante da demora na chegada do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) da China, a Fiocruz negociou com o Serum 2 milhões de doses. No mês seguinte, foram compradas mais 10 milhões. Dessas, 8 milhões não foram entregues.
Segundo a AstraZeneca, essa negociação é conduzida diretamente entre a Fiocruz e o Serum. A Fiocruz informou que a negociação está a cargo da diplomacia dos dois países. As 8 milhões de doses prometidas pelo consórcio para maio são da AstraZeneca, mas fabricadas em um laboratório da Coreia do Sul.
Índia supera 200 mil mortes após disparada recorde
A Índia superou a marca de 200 mil mortos por coronavírus nesta quarta-feira, no dia mais letal da pandemia no país, e a carência de oxigênio, suprimentos médicos e equipes hospitalares agravou um número recorde de infecções novas.
Na segunda onda de infecções, ao menos 300 mil pessoas foram diagnosticadas por dia na última semana, sobrecarregando instalações de saúde e crematórios e impulsionando uma reação internacional urgente cada vez maior.
As últimas 24 horas acrescentaram 360.960 casos novos ao maior total diário do mundo, elevando a cifra de infecções da Índia a quase 18 milhões. Também se tratou do dia mais letal até agora, já que as 3.293 fatalidades levaram o total de mortes a 201.187.
Mas especialistas acreditam que o número oficial subestima imensamente a cifra real em uma nação de 1,35 bilhão de habitantes.
O mundo está entrando em uma fase crítica da pandemia e precisa disponibilizar vacinas para todos os adultos o mais cedo possível, disse Udaya Regmi, chefe da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC) para o sul da Ásia.
"Este é um imperativo tanto ético quanto de saúde pública", acrescentou ele. "Como as variantes continuam se disseminando, esta pandemia está longe de acabar até o mundo inteiro estar seguro."
Ambulâncias faziam filas durante horas na capital, Nova Délhi, para levar os corpos de vítimas da Covid-19 a crematórios improvisados em parques e estacionamentos, onde os corpos queimavam em fileiras de piras funerárias.
Pacientes com coronavírus, muitos com dificuldade para respirar, foram em massa a um templo sikh nos arredores da cidade na esperança de conseguir parte de seus suprimentos limitados de oxigênio.
Hospitais da capital e do entorno disseram que o oxigênio continua escasso, apesar dos compromissos para aumentar a disponibilidade.
Entre os suprimentos chegando a Nova Délhi havia respiradores e concentradores de oxigênio do Reino Unido, e mais vindos da Austrália, Alemanha e Irlanda. Cingapura e Rússia prometeram cilindros de oxigênio e suprimentos médicos.
A agência de avaliação de crédito S&P Global disse que a segunda onda de infecções da Índia pode impedir sua recuperação econômica e expor outras nações a novas ondas de surtos.