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Visita real: por que a rainha da Dinamarca visitou o bioma mais ameaçado do Brasil

Rainha conheceu a Vitrine de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), onde atualmente foram cultivados milho, sorgo, trigo, girassol, capim braquiária e eucalipto

 (Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa))

(Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa))

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 12 de outubro de 2024 às 07h00.

Na sexta-feira passada, 4, a rainha consorte da Dinamarca, Mary Donaldson, e o ministro dinamarquês do Clima, Energia e Serviços Públicos, Lars Aagaard, visitaram a Embrapa Cerrados, um centro de pesquisa agrícola com atuação no bioma.

A visita real chamou a atenção e tem um motivo especial: o país da rainha e o Brasil avaliam assinar uma parceria público-privada com empresas dinamarquesas que pretendem recuperar o Cerrado.

O Cerrado é um dos principais biomas e o mais ameaçado de extinção no país, com 51% de sua área desmatada, segundo o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Além disso, o bioma tem 2 milhões de quilômetros quadrados, que cobrem 24% do território brasileiro. Ali estão oito das 12 bacias hidrográficas do país, incluindo o Aquífero Guarani, o segundo maior reservatório subterrâneo do mundo.

De acordo com Sebastião Pedro da Silva Neto, chefe-geral da Embrapa Cerrados, a ideia é desenvolver um Programa de Recuperação Ambiental voltado ao bioma, que concentra 60% de toda a produção agrícola do Brasil, com plantações de soja, milho, algodão, além da pecuária bovina e leiteira, de acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).

A Embrapa Cerrados é uma unidade ecoregional da Embrapa que atua em três eixos principais: produção vegetal, produção animal e manejo de recursos naturais, afirma à EXAME, o chefe-geral.

"Dentro do manejo de recursos naturais, uma equipe de pesquisadores se dedica à conservação e preservação do bioma Cerrado. Nesse contexto, desenvolvemos projetos voltados não apenas para a preservação da fauna e flora, mas também para a proteção dos recursos hídricos", diz Neto. 

O Cerrado concentra 330 mil espécies — 5% de toda a biodiversidade do planeta — entre plantas, aves, répteis, anfíbios, peixes, insetos e mamíferos.

Durante a visita, a rainha conheceu a Vitrine de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), implantada na Embrapa Cerrados, onde atualmente foram cultivados milho, sorgo, trigo, girassol, capim braquiária e eucalipto.

O ILPF é uma estratégia de produção que consiste na implantação de diferentes sistemas produtivos de grãos, fibras, carne, leite e agroenergia na mesma área, em plantio consorciado, sequencial ou rotacional. O uso da terra é alternado, no tempo e no espaço, entre lavoura e pecuária.

A tecnologia brasileira permite que o país duplique a produção de grãos e carne sem desmatar novas áreas. O produtor pode ter três ou mais colheitas em uma única safra, como grãos da safra principal e da safrinha, pasto para a produção de carne ou leite, além de frutas ou madeira das árvores.

De acordo com o Ministério da Agricultura (Mapa), no Brasil, mais de 17 milhões de hectares têm produção em sistemas integrados. Embora esse número pareça pequeno, ele corresponde a uma área equivalente aos territórios de Portugal e Suíça juntos. Os benefícios desses sistemas já foram comprovados pela pesquisa.

Uma pastagem com baixa produtividade sequestra 182 quilos de carbono, enquanto áreas que adotam a Integração Lavoura-Pecuária juntamente com o plantio direto sequestram 1.273 quilos do gás, um resultado sete vezes maior.

O Cerrado no Brasil

Historicamente, a parceria comercial entre os dois países é antiga, especialmente no que se refere à cooperação agrícola. Em 2023, as exportações brasileiras de produtos agropecuários para a Dinamarca somaram US$ 366 milhões, com ênfase no complexo soja, que dominou a pauta exportadora com 83% do total exportado.

A relação entre Brasil e Dinamarca no campo da tecnologia é marcada por interesses complementares, afirma Neto. Enquanto o primeiro é uma potência agrícola na produção de soja, milho e proteína animal, o segundo possui uma indústria avançada na produção de carne suína, sendo um dos líderes mundiais em genética suína e também em leite.

"Para a produção tanto da carne suína quanto do leite, a Dinamarca depende da importação de grãos, como soja e milho, utilizados na fabricação de ração. Além disso, o país demonstra um forte compromisso com a sustentabilidade, buscando grãos não transgênicos e cultivados com práticas sustentáveis, como a integração lavoura-pecuária e o plantio direto na palha—técnicas nas quais o Brasil é líder mundial", afirma o chefe-geral da Embrapa Cerrados.

Em agosto deste ano, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, e a embaixadora da Dinamarca no Brasil, Eva Bisgaard Pedersen, assinaram um acordo com o objetivo de estimular o desenvolvimento mútuo de sistemas agrícolas e pecuários, com ênfase na agropecuária sustentável.

O Brasil demonstra interesse na tecnologia dinamarquesa, especialmente em áreas como genética de suínos, já importada do país, além de equipamentos para frigoríficos e produção de mudas.

Segundo Neto, a Embrapa Cerrados está colaborando com a empresa dinamarquesa Ellepot para importar equipamentos que visam aumentar a eficiência na produção de mudas de espécies nativas do Cerrado, com o objetivo de utilizá-las na recuperação de áreas degradadas no bioma.

Sobre o acordo, ele diz que ainda está na fase de desenvolvimento e sendo negociado, para ser assinado em um momento que ainda não foi definido.

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